Manhã de invernia. Escola. Pátios ressumando a correrias cegas, a gritos estridentes. Café, para acordar, ou para não dormir, ou só café.
De repente, nas nuvens escuras, uma brecha. O Sol, envergonhado, sussurrou 'bom-dia'. A Sala Gil Vicente esperava-me. Os meus lindinhos também. Dia de ensaio. Terça-feira.
Recomeço... Há uns tempos atrás, resolvi escrever uma peça que não comédia. Um Novo Princípio. Esperei as reacções de quem quer fazer rir plateias, de quem acha que os aplausos só virão pelas gargalhadas. O texto é simbólico. Expliquei-o. Gostaram. Assumiram, desde logo, a mensagem. Preocuparam-se com a possibilidade de, um dia, se tornar realidade.
Hoje, a caminho da nossa sala de teatro, fui abalroada pelos meus lindinhos que, com a aproximação da data de estreia, mostravam a sua preocupação. S'tora, é hoje que vamos ver o guarda-roupa?
Fingi que não tinha ouvido. Entrámos. S'tora, é hoje que escolhemos as roupas? Abri o pano. O palco surgiu...com adereços esquecidos de outras representações. Entenderam o meu mutismo. Silenciosamente, libertaram o espaço de reresentação. Prontos para o início de mais um ensaio. Fiz, rapidamente, a chamada pelo nome das personagens: Batuque, Aventureiro, Animadora, Triste, Rebelde, Sonhador, Sabe-Tudo, Leitora, Paz, Alegria, Velha Terra e Esperança. Todos preparados... e, na imensidão da sala, a voz meiga da minha Alegria. S'tora, podemos escolher o guarda-roupa?
E pronto, seguiu-se a explicação. Não gosto de ornatos (querido Eça!), não quero arrebiques (ah! Eça), terão de representar sem bengalas, sem rede, fazendo das palavras, dos gestos, da expressão, do movimento, da entoação, a roupagem da minha peça... Acham que conseguem?
Levantou-se a Esperança: S'tora, vamos ensaiar.
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