Ensaio sobre gostos...

(foto de Luís, AT)

Nasci em Novembro. Diz a minha mãe que numa tarde cinzenta e fria.
Sou do Outono boreal. Dessa estação do calor que se esvanece, do amarelar das folhas nas árvores caducas.

Gosto de dias cinzentos, quando as cores se revelam sem a cadência de um Sol ofuscante. Gosto do frio que passa e perpassa pelo corpo, pela alma. Gosto de dias curtos, em que a luminosidade natural dá lugar à noite confidente, conselheira. Gosto de olhar o céu negro, ponteado de pequenas luzes, que não existem, no momento em que as reclamo. Gosto de chuva miudinha, lavando pensamentos sombrios. Gosto do mar encrespado pela violência do vento, das ondas batendo nas escarpas da vida. Gosto de ver o horizonte rasgado por raios, silenciosamente desenhados pela Natureza. Gosto da imensidão da Serra despida e orgulhosamente assimétrica, essa Serra de penedos sustentada. Gosto de nuvens negras, pesadas pela torrente que se adivinha.

Sou filha de um fim de tarde cinzento e frio. Sou o resultado desses tons em palete guardados.

Gosto de cores escuras... visto-me de preto, na intensidade de um sentimento que não se quer fingido. No minimalismo de um palco que não distrai o espectador. Gosto de gostar, por somente gostar.

Ouviram-se pancadas de Molière que quebram o silêncio... abri o pano dos meus gostos. Esta é a verdadeira peça que faz a minha alegria!

3 comentários:

Paola disse...

Os gostos que tu tens, estes aqui assumidos revejo-me neles. À chuva miudinha, prefiro a chuva. E eu sou de um Abril de Primavera... Diferenças, ainda bem!

Bjos

Emília disse...

Cada dia, cada hora, cada segundo que nos é dado viver tem a sua beleza e eu não sei escolher. Se adoro brincar às mensagens das nuvens, também me deliciam o azul intenso e a lumunosidade de um belo dia de verão, como o de Agosto em que nasci. Mas bela mesmo é uma trovoada de Veão, noite fora, com cores excepcionais a rasgarem um céu negro. Caprichos da Natureza que nos brindam com espectáculos inesperados que, mesmo não teatrais, são uma dádiva rara.
Escrevo-te a ouvir Eunice Muñoz que com palavras simples faz chorar uma plateia, ao receber o globo de ouro da SIC que, tardiamente lhe reconhece o mérito. Espero que antes dos 80... reconheçam o teu.
Beijo.
Emília

Nilson Barcelli disse...

S'AGAPO POLY!