(No rio Minho)
Numa peça de teatro, alguns dos momentos mais interessantes podem provir dos chamados apartes. Profere-se uma palavra, uma frase, um pensamento, que não é suposto ser ouvido pelas outras personagens que interagem em cena.
Ora bem, qual é a intenção? Muitas vezes, fazer rir, outras não é mais do que uma voz da consciência... que se dispara em direcção ao público. Isto no teatro. E no palco da vida?
Neste palco que eu enceno, não raras vezes os apartes assumem o papel de texto principal. Clarifico (se conseguir!). É frequente assistir a conversas onde o objectivo de cada interveniente não é ouvir o outro, mas tão somente ouvir-se. Neste contexto, as palavras dos outros são sempre apartes, que não integram o texto representado. Outras vezes, no decorrer de um diálogo, o interlocutor finge não entender o outro. Como se, sistematicamente, fizesse apartes em cima do palco.
(A vida, por vezes, assemelha-se a um arco-íris, que só se realiza em contexto específico, que não mistura cores, que dura tão pouco...)
A vida, muitas vezes, não lembra o arco-íris, parece mais um aparte. Uma fala dita para fora da cena, que não permite retorno.
Nesta confusão de ideias, o que pretendo dizer é que fico furiosa, quando digo algo a alguém e esse alguém continua o seu monólogo, como se eu não tivesse dito nada, como se não fosse importante... ou então, pior ainda, quando alguém pega nas minhas palavras para lhes dar outro sentido, fingindo não entender a denotação tão clara dos meus ditos.
Neste palco da vida, é difícil explicar aos actores que, para que a peça mereça os aplausos, é fundamental que oiçamos os outros. Só assim apanharemos a deixa, e não esqueceremos o nosso papel.
Boas conversas. (ainda de férias)
8 comentários:
Olá minha Amiga,
Tens razão em duas coisas...
A primeira o facto da minha ausência estar de longa duração. O arranjo do meu portátil está para durar.
Em segundo...
Lembras-te no início, quando te visitei, ter-te dito que cheguei a ser contra-regra no Villaret? Pois é... quantas vezes os actores me vaziam a vida negra quando falavam o que não era de cena, era o improviso deles, e eu, à espera da deixa para fazer a minha parte. São palavras com, ou sem, sentido que lhes sugere a grandeza dos actos, como se das cores do Arco Íris se tratassem.
Dou-te razão, mas é complicado.
Bj
E tão grande é a tua razão no dizer que é fundamental "não esqueceremos o nosso papel." E quantas vezes, neste palco que é a vida, não ousamos ignorá-los?
Boas férias nesse palco que que se pinta de verde-água
Beijokas
Querida amiga, como está?
Estou agora mesmo a caminho de casa, nada melhor do que o comboio para encontrar um recanto de relaxo. Aproveitar dois dias ou pouco mais para descansar a sério. Disse-me que tínhamos muitas das músicas em comum. Possivelmente, foi sempre algo que me acompanhou, até nesse aspecto tive que me submeter ao prazer umbilical de uma mãe, que ao recuperar a sua progenitura insistia em que tivesse que ser algo de irrepreensivelmente encaixilhado no ambiente que se fizera. Mas diga-se, em certos dias não deixo de aproveitar a pouca maleabilidade que me resta, para transportar alguma rítmica pelas músicas que me passam. Tal como na vida e no “seu” teatro a musicalidade é um sucessão de apartes, uma solidão comum, de constantes momentos que não aguardam por uma réplica. Terei que me convencer que também estou para os “outros”.
Beijo e serão sereno.
Olá linda!
No palco da vida somos todos autores principais.
Infelizmente muita gente não pensa assim, por isso só pensam que a opinião deles conta e vale
Saber viver e esperar os aplausos que se merece e preciso ser humilde o bastante para aplaudir aos outros autores.
Muito bom teu post ''PARABÉNS'', estou adorando visitar este palco de Amor
Beijos mil
Rachel
às vezes a vida é difícil, com ou sem palavras.
Beijo
PJB
Olá linda!
vinha te ler!
Encontrei tudo igual,mesmo assim li outra vez, porque o conjunto das tuas palavras me fazem sentido nesta época que se encontra a minha vida:(
Desejo que a tua semana seja uma peca de teatro das melhores que tenhas já passado
mil beijos
Rachel
A vida é um palco e nós os atores.
Otima tarde.
beijooo.
É fundamental que aprendamos a ouvir o outro.
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