Toda a minha vida fui uma "mulher do campo"! Gosto da expressão. Leva-me por caminhos de memórias tão felizes, numa infância e adolescência recheadas de momentos naturais. A minha ligação ao verde, à serra, ao rio, ao monte, ao frio, à neve, à planície, ao calor, à ribeira, nasce com esta magnífica bênção de ter um pai do coração do Alto Minho e uma mãe do Alentejo profundo.
Adoro o Minho! Relembro as caminhadas pelos carreiros, para colher amoras, as mãos vermelhas, o andar nos milheirais, mais altos do que eu, diga-se, para poder chegar a uma estrada que me levaria ao único café num raio de 14 km. Desde pequena que o meu pai me ensinou a olhar espantada para a Natureza, a ouvir os seus sons, diurnos e nocturnos, a sentir os seus cheiros...adoro o cheiro da terra, quando acaba de chover. Por vezes, subia, monte acima, para poder chegar àquela clareira no alto do mundo, com umas construções redondas tão abandonadas, que mais tarde descobri ser um castro. Este país é magnífico! Brinquei num CASTRO, achando aquelas casinhas redondas tão adequadas às minhas loucuras infantis.
São tantas as descobertas dessa altura...o nome dos pássaros, os nomes de toda aquela vegetação que me rodeava. Adorava acompanhar o meu pai à Bouça Grande, contar pinheiros, apanhar pinhas para a lareira...enfim. Nostálgico, o ensaio. Quase podia levar alguém a pensar que a minha relação com o campo acabou. Isto era só uma mera introdução. Continuo uma mulher do campo! De todas as vezes que regresso, e felizmente são muitas, espanto-me a cada nova descoberta. Um caminho, no meu Minho, nunca é percorrido da mesma forma. Renova-se o olhar a cada passagem.
Na última vez que lá estive, resolvi levar o meu D. ao Corno do Bico. Confesso que não o subia há algum tempo. Mas continua magnânimo na sua imponência verde, agora paisagem protegida.
Estas são experiências pessoais, resumidas a uma ínfima parte das minhas vivências.
E assim, de repente, recordo outras, feitas no âmbito desta vontade de também ensinar pela Natureza.
No Gerês, Vilarinho de Furnas, 40 miúdos, subindo, descendo, aprendendo, reconhecendo, pelos olhares daqueles que gosto de acompanhar e de ser companhia nestas incursões pela Natureza. Dessa ida, fica aquela noite em que o S. nos levou por caminhos escabrosos, na descida de uma barragem, assustadoramente enorme, escura, murmurante!
Na Serra da Estrela, tantas memórias, numa ida também nocturna, a pé, até ao Vale do Rossio...à luz das laternas. Ficaram os gritos histéricos, no meio da Serra, de uns jovens que nunca tinham visto sapos! que, assustados pelas luzes das lanternas, saltavam desnorteadamente.
Lembro também, de outra vez, com outros jovens que nunca tinham visto neve, uma subida à Torre, por entre carreiros estreitos e escorregadios, onde, pela primeira vez, pudemos ver as nuvens por baixo do nosso olhar. Único. Os meus companheiros naturais: o quase irmão R., o sportiguista N., a A., companheira de sempre, a minha querida M., a minha adorada E., e outros que nos acompanharam pontualmente, nesta vontade que sempre tivemos de ensinar no real, de fazer sentir o poder da Natureza.
Podia continuar a escrever a noite toda, nesta vontade que hoje senti de homenagear o natural.
Mas, na verdade, eu só queria mesmo dizer que, da próxima vez que me embrenhar pela existência agreste, vou estar atenta a outros olhares telúricos. Afinal, esses seres que pousam nas folhas também merecem ser vistos!
2 comentários:
Não há maior felicidade que conhecer o Mundo. Desde pequenos que o fazemos: começamos por descobrir o mundo das nossas mãos e mais tarde vamos até onde queremos chegar.
Portugal é lindo: Minho, Trás-os-Montes, Alentejo, Beiras... umo conjunto histórico-geográfico e espaços naturais únicos que só nos podem dar saúde e qualidade de vida.
Tenho, também, a felicidade de ter partilhado estes espaços com muitos os que me rodeiam.
Queria fazer o convite! Oferecer o encanto do espaço português que recentemente descobri. Gostava de o partilhar também. Caldeiras, verde,flores e flores, vulcões, mar, golfinhos, baleias, aves marinhas... espaços e sonho. Porque não uma viagem até lá? Prometo ser uma boa guia.
Lá teremos, então, de ir para os Açores. Seja!
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