Há muito que não me sentia nos bastidores! Se é que alguma vez por lá andei. Vamos vivendo na correria de uma cascata, sem pensar que, num qualquer dia, poderemos tropeçar num dos muitos pedregulhos que se escondem na beleza da espuma escorregadia.
Parei. A meio de novembro do ano passado, pela primeira vez na minha vida, parei. Não por razão entendível. Parei, simplesmente, porque não consegui andar! Dor, uma dor horrenda rasgou a minha coxa e, ao mesmo tempo, a minha vida.
Desde essa altura, a dor é a minha companhia constante, fiel amiga, presença permanente. Já me levou à mesa de bloco, a salas várias de fisioterapia, a consultórios de especialistas e menos do que isso.
No entanto, o que estranho é o silêncio. Cresci numa escola, estudei uma parte da minha vida, fiz-me professora por todo o gosto que tal condição me trazia. Desde os meus seis anos que uma parte imensa do meu dia é passada numa escola. As gargalhadas, as correrias, os silêncios sempre quebrados, o teatro, os pequenos aprendizes do fingimento, as provas, as queixas, as lágrimas limpas, mas também derramadas...
Estou inoperacional, esquecida nos bastidores. Há trinta e um anos que leciono naquela escola e, de repente, esquecida atrás de um pano de cena.
A vida, ah! a vida. Dor, apenas dor.