(foto de GMV)
O dia amanhecera vacilante no recinto escolar. As palmeiras tanto sorriam ao Sol, que a custo rompia a negrura das pesadas nuvens, como se vergavam no dilúvio repentino da chuva torrencial. Regime de aguaceiros, que baralhava os sentires de quem aguardava o toque de entrada.
Quinta-feira. Dia de ensaio. Os meus jovens actores esperavam-me junto à porta do nosso recanto de tantas representações. Entraram. Traziam no olhar o nervoso de quem sente que se aproxima a data das grandes apresentações, e começa a percepcionar a correria da passagem do tempo.
Rapidamente, se prepararam para o início de mais um ensaio. Para o palco, subiram os que iniciam a peça. Reparei que uma das minhas lindinhas, actriz de papel principal, não partilhava do entusiasmo dos outros. Arrastou-se até ao espaço, marcação de cena, no lado direito do palco. A representação começou. E as reclamações do elenco também: "Ó Professora, assim não dá!". A minha aprendiz das teatrices falhava constantemente as suas deixas... o seu olhar, longe do palco, perdia-se pela imensidão da sala. Os outros esperavam pelas suas intervenções, no limite da paciência. De vez em quando, olhava-me, solicitando, num silêncio culpado, a ajuda para a fala seguinte. As falas? Dei-lhas. Todas! Até ao final do ensaio.
Tocou. Era tempo de terminar. Os meus lindinhos foram saindo, sem pressas, comentando o desastroso regresso aos ensaios. A minha personagem principal ficou para o fim. Esperava as minhas palavras. Perguntei-lhe o que se passava. Junto à porta. Sorriu. "Nada, Professora!" Não insisti. Saiu. Preparava-me para apagar as luzes, quando regressou... "Sabe, Professora? Há dias em que não me apetece fingir o que não sou." E foi embora. Sem ouvir as palavras que eu não disse, mas ecoaram no meu pensamento: "Como sei!..."
17 comentários:
Não comento o teu "ensaio"... porque, para mim, é sempre estreia... e eu, na primeira fila, aplaudo. Sempre.Nem tão-pouco o palco daquela sala, porque sei o brilho dos teus olhos quando lá estás... Fico-me no silêncio do título... no elogio da verticalidade de quem confessa a sua desvontade... no fingir. Fico-me so silêncio do fingimento que anda por aí... por lá.E confesso-me pequena...
Beijo abraçado. Hoje, muito doce...
Minha Amiga
Deixo para ti o meu "selinho"
Caminho
Caminho para aqui e para ali.
Caminho muitas vezes sem destino
Caminho muitas vezes apenas por caminhar
Caminho porque quero estar viva
Sei que... quando deixar de caminhar...
A minha vida deixa de ser vida...
E eu não quero esse momento.
Nunca mais chegue...
Mas vou olhando ao longe
E vou-me preparando
Para quando esse momento chegar...
Eu sinta... que já percorri o caminho... - --
-----------
---------------
apeteceu.me dizer coisas ...
Isto...é apenas poesia...
lili
Ó querida Professora, "assim não dá". Há diasem que não apetece fingir, no meio de uma sociedade tão fingida como esta nossa. Que os "fingidores" fiquem só pelas representações teatrais.
Belo ensaio.
Beijos, querida Graça
Olá Gracinha,
Belo texto, belo ensaio, que tanto se aplica no palco, como na vida real! Como aqui dizes na introdução da tua caixa de comentários "O Mundo inteiro é um palco", por isso me atraiem tanto pessoas diferentes, transparentes como a água desta tua foto e verticais como a árvore da margem, mas sei que nunca se é transparente na totalidade, o que não quer dizer que seja sempre pela negativa, pode sê-lo por amor, por amor podes sorrir com vontade de chorar e fazer tantas outras coisas que não farias de outra forma.
Não sei o que me encantou mais, se o verde das margens do rio, se a afirmação inteligente da tua personagem principal - todos temos os nossos dias em que não nos apetece representar.
Beijinhos.
Branca
GMV
Ainda é uma criança mal sabe ela que há dias que em adultos temos que fingir sempre o que não somos.
Realmente as crianças em a alma pura e a brancura nos olhos. Limitam-se a dizer o que sentem.
um beijo
Querida Graça,
Passados que foram os dias de férias, retoma-se a rotina escolar e o prazer dos ensaios. Na verdade, a tua "personagem principal" tem razão. Há dias que somos o que somos, de verdade, e outros em que "representamos" o que gostaríamos de ser, ou não.
A tua aluna ainda não é adulta, em idade, mas...o coração começa a amadurecer e com ele a convicção.
"Há dias em que não me apetece fingir o que não sou...".
Respeito!!
bj...nho
Lindo o seu texto, Graça. A sua menina já sabe das coisas. De que todos os dias, antes de sairmos de casa, somos obrigados a pôr máscara, nunca saímos de cara limpa. Mas dá para tirá-la em algumas situações, coisa que ela ainda não aprendeu. Ali, no palco, é o lugar da persona, e fora dele, não. Com o tempo, aprenderá.
Um beijo,
Renata
A tua lindinha terá a sua razão porque ainda é lindinha.
Aprenderá ou não que no palco o fingir também é o SER!
SER livre, SER vida, SER verdade.
SER , enfim, o momento que concentra todo o teu SER verdadeiramenteComo queria voltar a SER! SER por SER para SER!
um olhar para a fotografia________________assim____________
entre as heras
a água
e uma árvore arrancada do céu_______________
Lembras?
Boa noite querida Graça. Beijinhos «««
Beijos muitos querida amiga, também estou com saudades, é uma questão interessante já que é o trabalho de um ator ser outra pessoa... Mas esse fato ocorreu mesmo Graça? Beijocas...
SÃO AS PALAVRAS QUE NOS CUIDAM, DEIXEM QUE ELAS SE ENTRETENHAM NOS OLHOS DE UM UNIVERSO SEM AUTOR…
BEIJINHO QUERIDA E BOM FIM DE SEMANA COM LINDAS TEATRICES!
Graça:
Enquanto assisto a décima versão de Tristan und Isolde e gravo DVDs para uma amiga, vim aqui convidá-la a apreciar um poema que fizeram para mim e que está postado no Feminina.
Um beijo,
Renata
os esguios
troncos
da
verdade
[águas
primiciais]
Graça o teu palco tem uma magia qualquer... que os teus ensaios deixam os pequenos actores são infinitamente talentosos...
do fingimento de ser a verdade ou de a dizer assim baixinho mas como um grito...
Beijinhos e boa semana....
sem qualquer fingimento, venho deixar-TE um imens.íssimo beijo de amizade pura.
__________________________________
e perdoa-me alguma ausência no teu palco.
__________________________________
os dias andam findos à nascença
__________________________________
e agradeço-TE in.temporalmente a presença assídua no Intemporal, onde sem ti, o mesmo não faria qualquer sentido.
__________________________________
uma boa semana...
íssimo beijo meu de boa noite, querida Graça.
Querida Graça,
será que este meu____________ como dizer?
____________________ "poema"
__________aqui ao lado merece estar assim em destaque ________???
Agradeço a tua simpatia _______________
assim «««
Beijinhos
em abril.
personagem principal do sonho.
o meu beijo.
Enviar um comentário