Recordo, com certa nostalgia, confesso, algumas aulas, de pauta à frente, pés nos pedais, mãos nas teclas, uma voz que me dizia "Comece!" e o meu pensamento transformava claves em palavras, teclas pretas em histórias de encantar... resistia! Quantas vezes, o meu paciente pai se sentava ao piano, ao fim da tarde, e tocava, enquanto eu, no meu quarto, percebia a intenção e fingia nem ouvir.
Comecei a tocar sozinha, longe das aulas que abandonei... só abria o piano, quando o vazio enchia a casa. Adorava improvisar sem a prisão de uma pauta. Sem a presença de incautos ouvintes. Mas nunca aprendi a tocar! Nesses momentos, a casa respirava os sons do meu desafinado sentir... as paredes brancas reflectiam o segredo partilhado... as teclas doridas, [ainda ressoa em mim o seu lamuriar], renovavam o meu ser. Depois, fechava o piano e, serenamente, voltava para esse instrumento que sempre quis tocar... as palavras.
Um dia destes, volto a essa casa atenta e dou uma alegria ao meu pai. Tocarei para ele!
14 comentários:
Que bom Graça que te lembraste dessas memórias e faz isso, dá uma alegria a teu pai. Que bem te vai saber, a ti e a ele!
Bela e original a fotografia!
Beijinho grande.
Branca
No lar da infância, ressoam memórias harmoniosas de um tempo que já foi... porque se podem recordar. Porque houve infância... Às vezes, lamento a ausência de toadas melodiosas... Às vezes. apenas oiço ruídos desafinados na cabeça do tempo de agora... Toca! Toca para ele... num estrondoso concerto de reconciliação!
Beijo abraçado
Que lindo o teu texto, minha querida, tão cheio do tanto que escondes nessa fortaleza que insistes em ser. Ao ler-te, também me recordei de tantos momentos que partilhámos, na nossa juventude, e quase que me apeteceu ter um piano, como o teu, e tocar para o meu pai, numa tentativa de lhe mostrar que sempre o ouvi, como tu ouviste o teu, apesar de fingir que não.
Adorei o ensaio, e queria escrever-te muito mais, mas sabes que...
Um beijo, minha querida Graça. És linda.
faz isso por ti. nem sabes como vais precisar!
se calhar, o teu pai já sabe. eles sabem sempre mais do que julgamos.:)
beijo, Graça
Graça:
O que vc escreveu é muito bonito, uma lembrança de um episódio da sua infância. Tudo o que me fizeram fazer na infância, fiz malfeito. E, assim como, me recordo de quanto isso era importante para alguém. E fico triste, me dá vontade de voltar no tempo e fazê-lo bem feito. Se vc puder, toque piano para o seu pai, querida.
Um beijo,
Renata
Não vai ao meu canto hj?
e eu "a.março.me" aqui. também sobre um piano que me habita a casa. sempre.
e agradeço as idas lá. que se renovam como pautas ou pétalas....assim como o seu texto. de nervuras rente ao coração.
A sensibilidade de um "não querer e...ao mesmo tempo, a enorme vontade de o fazer".
O prazer das palavras, toca mais alto mas...podes, melodiosamente, dar-lhes mais expressão usando as teclas do piano e dedicá-las ao teu pai.
beijinho
O sonho da MÚSICA... sentir o teu piano emocionar quem te quer tanto como o Pai
tocar lá nos cantinhos da alma onde o Amor é infinito...
Beijinhos das nuvens
Acho que fazes bem tocar para ele.
Ainda que o possas comover e/ou furar-lhe os tímpanos...
Depois conta... se puderes...
Boa semana, beijo.
Graça, querida, acabo de postar no GALERIA. Faço questão que vá apreciar o meu post e deixar a sua opinião, mas é no GALERIA. Estou à sua espera.
Beijos,
Renata
Ler-te é como ouvir-te falar com a paixão que pões em tudo.
Excelente…não esperes para isso, são os melhores momentos do dia, melhor ainda se forem partilhados com sabor e sorrisos à mescla.
Beijinhos menina.
________________ querida Graça,
hoje pasmei [ainda mais] aqui.
porque o teu texto está lindo.
fantástico. belas as palavras.
todas.
e porque sabes tocar piano.
e porque me vais ensinar, nem que apenas ou tão só uma música.
quero muito. tanto. imenso.
e ela, entretanto, faz o jantar.
:))
e deixo-TE um beijo.
e saio curvado, feliz.
É um dos meus instrumentos preferidos. O som das suas teclas é como o escrever as palavras. É desejo, é prazer e sentido.
Estou muito novo nestas andanças e, tenho visitado alguns blogues. Dei com este teu canto que acho, deveras, "Rico".
até
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