Na arte dramática, não é difícil depararmo-nos com solilóquios. A peça fica, sem dúvida, enriquecida com esses momentos em que a personagem extravasa os seus pensamentos, na tentativa de lhes encontrar uma lógica... sem se dirigir a ninguém em particular, a não ser a si mesmo.
São vários os exemplos destes autênticos pensamentos falados, registados no texto dramático, ao longo dos séculos de existência do Teatro. Que dizer de Hamlet e do seu tão famoso "Ser ou não ser"? Bem, na verdade, eu teria muito a dizer, uma vez que o mais interessante é mesmo a sua divagação sobre o "Morrer! dormir; dormir, sonhar talvez?"
No palco desta nossa vida, há ocasiões em que é premente parar um pouco e tentar organizar o que nos vai pelo pensamento. Tentei. É verdade que tentei... muito, ou seria mais correcto dizer muitíssimo? Nem o superlativo me valeu, confesso...
Fazer um solilóquio requer o sentido da ordem, o valor da lógica. E, por estes dias, nem ordem, nem lógica têm assento na minha tão vazia cabeça. Vazia? Se calhar nem é o termo adequado... Cheia, até não caber mais!
Sou dada a uma boa reflexão. Gosto desse exercício introspectivo. No entanto, um bom solilóquio não se dirige a ninguém em particular, e os meus pensamentos desordenados reclamam públicos bem definidos.
Confusa? Talvez... por isso não me concebo em personagem. Prefiro a Encenadora.
7 comentários:
E quando o solilóquio se transforma numa cantiga que vem do mar e os pensamentos, qual vagabundos desorientados, passeiam na areia?
É bom pensar! Porque "ser ou não ser" é mesma a questão!E há sempre o vento...
...eu diria que 'solilóquio' assemelha-se a 'solitude', aquele espaço interior onde podemos nos ouvir, e nos ouvindo concatenamos as idéias sempre tão embaralhadas pelo vício de pensar, e pensar, e pensar...
belíssima colocação.
gosto de vir aqui aprender
contigo...
bjs
Querida Graça:
Acho que estou em pleno solilóquio agora que serenei um pouco. Resolvi não fechar o Blog e fazer pequenas postagens. Fiz uma ante-ontem e ontem tive de fazer outra. Decidi não chamar ninguém para comentar o que faço. Quem gosta de mim, que vá. Hoje estou escrevendo aos amigos para esclarecer-lhes.
Um beijo,
Renata
Confusa? Nada que um bom solilóquio não resolva.
Um beijo grande para os teus pensamentos desordenados.
PJB
A maior parte dos momentos que partilho na vida são monólogos interiores, apresenta o benefício de nunca discordar com o meu interlocutor. Sendo mais sério, sabias que Corneille, que para mim é o autor da maior parte das peças de teatro de Molière. Imagino que neste ponto tenha tido a subtileza para desarmar qualquer inquisidor ou investigador na época. Mas certas semelhanças são flagrantes. Algo que é raro em Molière está suficientemente presente em Corneille. O constante refugio, o que demonstra bem a diferença de carácter entre os dois homens. A Clémence d’Auguste é assim construída, uma continuidade de diálogos e solilóquios, tudo fazendo uma única convergência. Aprecio imenso a tua lucidez. Desculpa não poder estar muito mais, tenho-me implicado o quanto posso em vários projectos, o que me obriga a deixar sempre muito para trás. Afinal nem chego a comprar casa, vou alugar, visto o estado de sitio e a queda previsível e já esperada, vamos aguardar que os preços baixem de mais 50, 60%, que a criação de riqueza tanto proclamada por Marx feita pelo trabalho humano, seja um dia repartida de forma ética e equiparada ao esforço que cada um desempenha nesta sociedade. Não é uma utopia. Vivi durante muitos anos entre pessoas cujo diferencial de remuneração podia atingir um factor superior a mil, como é possível explicar tal desigualdade. Estamos mesmo a precisar de homens e mulheres que enfrentem a realidade e se disponham com humildade a dar o que têm de melhor pelo bem comum ( falo da sociedade na sua integra). Um final de semana agradável cara Graça. Beijo.
Confuzo...?! Talvez...mas prefiro ser encenador...
Doce beijo
Confusa, tu?... Hum... Direi, antes, incrédula? Aquela incredibilidade nascida da recusa em aceitar e que, simultaneamente, nos tortura e nos critica, numa ansiedade entre o querer e o não querer...? O caminho da verdade nem sempre é pacífico dentro de nós. Será pela dor da aceitação?
O melhor é confiar no grande mestre que é o Tempo...
Solilecando em silêncio, (significará refectir?)a tua confusão centrar-se-á nos alvos e não no conteúdo?
Beijo
Emília
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