Há uns anos atrás, fui convidada para, em conjunto com os meus pequenos actores, visitar esse mundo desconhecido que é o interior de um Teatro. Esses meus aprendizes do fingir vivenciavam, na altura, tudo o que se relacionava com a arte da representação, de uma forma quase adulta. Queriam embrenhar-se rapidamente no "mundo", como lhe chamavam. O convite foi quase um prémio.
Durante uma manhã inteira, vestiram o papel de curiosos e vasculharam tudo a que tinham direito. Os olhos brilhavam de admiração no interior dos camarins... os sorrisos abriam gargalhadas por entre o pó dos guarda-roupa alinhados numa imensa arrecadação... os pés pareciam asas ao percorrer o infinito de um palco - verdadeiro... os queixos caíam de espanto ao entrar na caixa do ponto. No entanto, a leal emoção estava guardada para o momento em que o actor-guia comunicou: "Agora vamos subir à teia." Teia? Interrogavam no silêncio de quem nem conseguia articular palavra. Os seus olhos urdiam a pergunta tecida a fios da mais pura seda inocente. Quase que verbalizavam "Então, num teatro há teias em vez de tecto?"
Subimos... por umas escadas que serpenteavam no ranger da idade. Ao chegar ao ponto mais elevado daquela sala, os meus lindinhos nem queriam acreditar que estavam por cima do palco, num emaranhado de estruturas metálicas, cheias de cordas, projectores, cenários enrolados, mecanismos estranhos, roldanas prontas a iniciar a sua função. Era aquilo a teia? E as aranhas?
O actor lá ia explicando a importância extrema daquela secção da sala. Nada funcionava em palco, se a teia não funcionasse. O sucesso do plano inferior, dependia da habilidade do superior!
No regresso, quiseram estabelecer a comparação "S'tora! A teia é como se fosse Deus?".
Não os quis chocar com a minha não crença religiosa, mas argumentei que nem todos os teatros têm a sua teia, e isso não impede o sucesso das representações em palco...
...tal como na vida!
9 comentários:
Qualquer teatro tem a sua teia, como na vida. Tal e qual!
Bjos
Teatrice... Taí vou voltar a participar, estou na penumbra. Belo blog! Bj
...assim como na arte,
também na vida precisamos
da 'teia' que nos sustente,
em todos os atos.
e cada qual dá-lhe o nome
que quiser, como seus pequenos
que deram-lhe o nome de Deus.
sinal que de que estão em sintonia
com o invisível, seja ele quem for.
gosto muito de te ler...
muahhhhhhh
Ois é a teia é como se fosse Deus...e o encenador?
Doce beijo
Há sempre uma teia, mesmo que não acredites nela.
Bom fim de semana, amiga.
bjos
PJB
Esqueci-me de te dizer que adoro esta canção.:)
Precisamos da teia, Graça. pena que o seu fim de semana começou ontem, pois fiz uma postagem linda.
Um beijo, querida
Renata
As teias, cria-as o Homem. Se existisse um Deus, nunca permitiria a existência de teias que enredam e enleiam, atingindo duramente quem não merece... Essas são as teias da vida! demasiado boas para alguns e ultrajantemente más para muitos. Que Deus permitiria tal justiça?
Agnósticas ou crentes precisamos de gerações actuantes e solidárias que lancem teias daquelas que sabem e fazem bem.
Beijo
Emilia
As teias, cria-as o Homem. Se existisse um Deus, nunca permitiria a existência de teias que enredam e enleiam, atingindo duramente quem não merece... Essas são as teias da vida! demasiado boas para alguns e ultrajantemente más para muitos. Que Deus permitiria tal justiça?
Agnósticas ou crentes precisamos de gerações actuantes e solidárias que lancem teias daquelas que sabem e fazem bem.
Beijo
Emilia
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