Ensaio pelo continuar...
Todos os anos, ciclicamente, chega o dia da despedida. No ano transato, o vírus não nos permitiu a presença no momento do adeus.
Hoje, voltei a viver a última aula, ao fim de três anos com estes meus lindinhos, essa última aula de Português cheia de palavras, as minhas, como as de todos os dias, [ou não], as deles escritas, partilhadas em privado, para uma leitura mais tarde.
Depois, foram as lágrimas, os abraços apertados [a pandemia, por segundos, passou a outro plano] entre promessas de que nunca esqueceriam a professora. Não os quis contrariar nesse instante tão sentido, claro que esquecerão a professora, é assim há mais de trinta anos. É certo que alguns nunca esqueceram, tornámos-nos amigos, promovemos jantares de Natal, os filhos já passaram pelas minhas aulas, também. E tudo se repete.
Quanto aos ensinamentos, espero que germinem e dêem frutos.
Cheguei a casa cansada dos dias, sentei-me e peguei nas folhas brancas preenchidas pelas despedidas dos meus meninos [tão crescidos!]. Chorei. Continuo a gostar de ser professora.
Ensaio por uma âncora...
O meu Pai continua a lutar. Ancorado que se encontra a esta vida, não quer partir. Os vagabundos do mar passam as suas tempestades ao comando do barco, amainando velas, alijando cabos. Desistir não é próprio de quem navega.
O meu Pai não quer partir, está ancorado neste porto da vida, que somos nós as três e mais meia dúzia de razões que só ele conhecerá.
Ainda bem que assim é.
Ensaio sobre um dia de sol...
O dia era de sol. Um calor fora de época. Estava um dia lindo para viver. No entanto, a minha Mãe escolheu-o para morrer. Apanhada, sem dar por isso, pela doença maldita, não resistiu. Partiu com o seu sorriso.
De mim, levou a parte que lhe pertencia. Não há nada a fazer. É assim. Um dia, talvez nos encontremos noutro caminho, Mãe.
Estava um sol radioso, num céu azul cristalino. Não era um dia para morrer.
Ensaio sobre dois mil e vinte e um...
Chegou disfarçado de máscara. Alinhado com a dor dos que partiram, apagando os sorrisos antes do brinde.
Esperam-se caminhos difíceis, mas não impossíveis de trilhar.
Continuemos, então, o nosso árduo percurso.