Naquele dia, solitária em cima de um palco noturno, a encenadora esperava que alguém lhe colasse um sorriso na sua face.
Fitava o pó espalhado pelo chão vazio, cravado de tantas memórias felizes... Ao fundo, alguns adereços esquecidos pareciam gritar as tantas gargalhadas outrora divididas com a vida.
Centralizou o seu olhar no pano de cena. Gasto, velho, cansado das imensas aberturas aplaudidas com genuíno sentimento. Um sorriso. Faltava-lhe um sorriso. Um sorriso que, como diria Saramago, não tivesse a definição pobre e fria de um dicionário. Um sorriso que apagasse todas as mágoas, que varresse as dúvidas, que clarificasse todas as incertezas.
Um sorriso verdadeiro... daqueles que aquecem o sabor dos dias no calor de um olhar. "Não custa nada..." - ouvira algures - "... colocar um sorriso no dia de alguém."
Não custa nada! No entanto, naquele dia, no centro de um palco apagado, gélido de ausências, nada faria sorrir a encenadora. Sentia a peça raiada a falsidade. E as personagens? Tipo, personagens-tipo de uma sociedade massificada pela mentira.
Queria a verdade, unicamente a verdade que a faria, de novo, sorrir.
"Não custa nada!"
5 comentários:
Crio aqui uma personagem única,
que não tendo dicionário à mão,te deixa um sorriso nascido no raiz do coração.
Que as pancadinhas de Moliére se façam ouvir...
Beijo
Minha querida
Por vezes por mais desejo que tenhamos de sorrir não conseguimos, a tristeza consegue apagar a nossa vontade.
Saudades de te ler.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Trago-to, nascido do espaço quente das minhas mãos, e da saudade de te saber por aqui.
Escreves tão bem....:)
Um beijinho...
:)
E que o(s) palco(s) se volte(m) a encher!
beijo
A tristeza nos sufoca.
Amiga, passei para te desejar um Feliz Ano Novo com muita saúde, paz e muito amor. Beijos com carinho
Enviar um comentário