[Luís]
[republicação]
Cenário despido de adereços. Foco de luz difusa, em tons de vermelho-sangue. Duas personagens [sempre duas], vestidas de preto, sentadas no meio do palco. Costas com costas. Silêncio absoluto. Fim da didascália. Início absurdo de uma peça por inventar.
UM - Dizem que o Natal chegará, quando uma estrela solidária ecoar distante, no cume de uma árida montanha.
OUTRO - Dizem que sim! que chegará inquieto num braço de insónia, aniquilando todas as falsidades.
UM - Dizem que, nesse dia, os rios alucinados semearão enchentes de paz em margens distraídas.
OUTRO - E que o sol parará o tempo, recusando o renascer de todas as solidões.
UM - E que as mãos dos homens se transformarão em garras de afectos.
OUTRO - Dizem que o Natal chegará, quando as árvores se enraizarem em terrenos arados de verdade.
Silêncio. Apaga-se o foco. Ouvem-se apenas as vozes, no palco escuro.
UM - E dizem quanto faltará para esse dia?
OUTRO - Tanto!... que faltará sempre tanto!
Fim de cena.
[Bom Natal, para quem passa neste palco.]