Cenário despido de adereços fúteis. Palco difusamente iluminado a verde esperança. No centro, imponente, um tronco de árvore. Duas personagens [sempre duas], uma em cada canto da boca de cena, olham o tronco, num silêncio respeitoso. Fim da didascália, de mais uma cena do absurdo.
UM - Talvez um dia haja forma de saber, porque o canto dos pássaros se pintou de ausência...
OUTRO - Talvez se possa descobrir onde se enraizaram todos os sonhos a haver.
[silêncio]
UM - Sentiremos, nesse dia, que o tempo não escorrerá pela ampulheta dos dedos solitários; que os dias amanhecerão, no eterno retorno de rasgos de felicidade; que a brisa suave apagará todas as marcas de memórias magoadas, dessa pele sedenta de vida.
OUTRO - Talvez o rio se embriague, no sorriso das folhas perenes... vigilante, no cântico doce de prazeres anelantes. Talvez tenhamos de mergulhar de novo no desejo de ser.
UM - Aprenderemos, então, a desencarcerar todos os sentimentos cativos, pelos grilhões resistentes de quem não quis acreditar. Procuraremos a ara genuína, onde se resguarda a dádiva do amor. Seremos... um e outro, num futuro plural, num espelho inquebrável e natural, ramos férteis e frondosos de nós.
[silêncio]
OUTRO - Talvez falte algo...
UM [levanta-se, devagar, e dirige-se ao tronco que abraça, num sorriso] - "Talvez tenhamos de [nos] repetir à exaustão, pela vida fora,/ no oco dos troncos onde residem/ todas as cirandas de sol e pedra,/ antes de ser palavra".
Cai o pano.
[entre aspas, versos de Mel de Carvalho]
21 comentários:
olá querida amiga
vim dar-te beijinhos
ver-te.. leer-te
e desejar-te um feliz verao.
boas ferias.
beijos flor!!!
Por vezes, fica-se com essa sensação de que falta algo....mas que não se percam os sonhos e as palavras que os iluminam...
Lamento pela tua avó; o meu Pai também me deixou mergulhada numa saudade sem nome....
Obrigada pela visita...
Beijos e abraços
Marta
O "eterno retorno" que faz do homem um viajante permamente e permanentemente insatisfeito pela ideia obsessiva de auto-superação.
Superaste-te aqui... para nosso deleite.
Obrigada!
Um beijo
Querida Graça, voltaste, que bom!
Voltaste quando eu parti, mas nunca partirei daqui.
Mais um ensaio teatral, na busca dos personagens reais, numa forma só tua de entrelaçar as palavras e a vida.
Beijos
Branca
(Graça, que esplêndido! Senti toda uma construção shakespeareana. Um beijinho!)
Sonhos enraizados nos corações: de UM e de OUTRO.
Poesia puro deleite nas tuas palavras, que hoje resgato, para me fazerem companhia.
Um beijo
Como tantos na vida, também este "talvez"...
Um beijo.
Só acreditanto se pode aprender a libertar os sentimentos...
Belíssimo texto, gostei imenso.
Beijo, querida amiga Graça.
Minha querida
Como sempre perco-me em cada letra...divago e quase que me sinto nesse palco...que afinal é a vida que nada mais é que um talvez.
Deixo o meu beijinho
Rosa
Gracinha,
cada ensaio teu, e mais me convenço de que existem pessoas de quem a mão invisível do destino me faz grata.
O futuro, Gracinha, é sempre plural e, dessa pluralidade nos tecemos antes que sejamos palavra ...Obrigadaaaa... :)
Um beijo, o meu carinho, daqui, "um não lugar" onde a palavra morde o infinito de um tempo "Oceano mar", a quem chamo meu, e que me responde em chuvas de neblinas a molhar-me todas as palavras ainda por inventar.
Mel
Querida amiga, bom resto de semana.
Ou boas férias, se for o caso...
Beijo.
Aplausos ! Porque no teatro do mundo, há actores que só cantam a Beleza.
Beijinho para ti, Graça *
Olá Graça
Gosto de ler-te e ver o teu palco:))
beijinhos
Talvez, apenas talvez, a água límpida e nutritiva de que são feitos os sonhos, possa regar as raízes desta árvore.
Talvez, apenas talvez, assim regado pelos sonhos, este tronco seco possa produzir um pequeno broto de esmeraldina esperança.
Talvez, apenas talvez, Um e Outro possam perceber que não é necessário que se repitam à exaustão. Que bastava apenas perceber que os dois, na verdade, são um.
Beijos!
a aguardar mais palavras que me libertam.
beijo
Neste palco, a natureza e as palavras fizeram o seu papel de forma sublime.
Simbiose perfeita.
Felizmente hoje
"Um pressentimento
Doce,
Terno,
Quente,
Percorre o meu corpo
Enche a minha alma."
Conheci-te.
Entre aspas, versos de Maria José Areal.
Beijinhos
Ná
Que bom entrar e descobrir os lindos versos da Mel tão bem "ensaiados" por ti, Graça:))
Beijinho!
Para uns faltam adereços. Para outros os sobra. Imagino que seja duas divindades.
Minha querida
Hoje passando apenas para oferecer o selinho de 2 anos de blogue e dizer que sem o carinho de todos que me seguem e comentam não chegaria aqui, por isso esta comemoração é vossa.
Beijinhos com carinho
Rosa
que bom te rever
te ler.
adorei
bjos
Afinal também voltei Graça e de vez em quando venho ver este cantinho, à espera de ti.
Beijos
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