[Vila Nova de Milfontes]
Por vezes, a encenadora abandonava o palco de todas as representações e seguia, num trilho premeditado, em demanda da verdade. Cansada de encantamentos repetidos à exaustão, de palavras artifícios-literários ditas por actores convictos e convincentes, saía, por atalhos felizes, em busca de amadores do real. [os que não temem o amanhecer de cada noite]
O destino era sempre o mar, só por ser longe da serra guardiã de todas as falsidades... o mar revolto de vida, de ondas sorridentes, no espraiar de sentimentos enraizados nas acácias, que não queria perder.
Corrompia, no renascer de um percurso quase iniciático, todas as regras e montava o palco num delta de cordas resistentes. Abriam-se, então, novas audições... procuravam-se actores que amassem a vida, e não a imagem dela; que usassem as palavras na sua pureza denotativa, sem o exacerbar egocêntrico; que olhassem o passado como tempo de aprendizagem, e não como muro impeditivo da felicidade presente; que não seduzissem em todos os palcos, em peças repetidas, por demais conhecidas, e fossem tão-somente genuínos; que não procurassem aplausos de afectos nunca retribuídos, e soubessem apenas 'ser'.
Sentava-se, então, na areia, entrelaçava dedos noutros dedos e, num olhar partilhado, sentia-se num porto de abrigo... e a brisa trazia de volta todas as palavras de esperança, ancoradas na felicidade.
[Porque há palcos assim...]
10 comentários:
Querida Graça,
a magia da vida é a própria vida. O palco real onde os dedos se entrelaçam nas asas de outros dedos e o voo é em "V". Por vezes as vagas são alterosas mas o peito das marés fala-nos em ressonância da importância da aprendizagem. E crescemos até que um dia, em transbordo de nós, não cabendo na pele, escoamos vagarosamente na areia no regresso ao palco de partida...
Sabe Gracinha, porque anseio os seus escritos? Porque me falam de gente com gente dentro.
Bem-haja
Beijo com carinho e gratidão.
Mel
[Porque há palcos assim...]
sempre renovados e por isso muito apreciados, depois da travessia dos outros, palcos que nos remetem ao silêncio intenso de uma paz interior.
Gostei desta paz e desta tranquilidade, Gracinha.
Beijinhos
Branca
Em que tudo fica em aberto....
Porque a imaginação voa nessa busca incessante do que é o verdadeiro....
Gostei imenso...
Beijos e abraços
Marta
O destino será sempre o Mar... só por estar longe da Serra guardiã... sabes Graças, escreves o que não consigo traduzir em palavras...
Beijo grande
Chris
Minha querida
Embalei-me no teu texto e senti-me como fazendo parte dessa encenação.
Deixo um beijinho com carinho
Sonhadora
Há tanto que venho, amiúde, sentar-me aqui para te ler.
Não sei porque nunca te aplaudi. Afinal, sempre aqui encontrei vida e me senti tão bem junto da tua escrita. Talvez por isso..., reparo agora, talvez por gostar tanto, olhasse para as minhas mãos e as sentisse demasiado pequenas. Talvez...
Ouso escrever-te hoje, para te dizer que, quando os dedos se entrelaçam noutros dedos, só o mar pode ser plateia, só ele sabe quão longe pode ir a esperança, contida na partilha das mãos.
Um beijinho Graça
Minha querida, espero que a ternura dos dedos entrelaçados te tenha dado a energia suficiente para aqui conviveres com quem te estima , sabes?
Um abraço amigo.
Continuam as tuas palavras
a respirar fundo
e por quelras
Bj
maresia
de
autenticidade
[o mar é bom
conselheiro]
*um beijo,
Graça*
Não importa o palco, as encenações são sempre preciosas.
E eu gosto de ler cada uma delas.
Beijo, Graça!
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