Ensaio sobre nada...

[Luís]

Todos os dias, quando o 'pano' cai, no final de mais uma representação, há um momento solene, de silêncio breve. As palavras embatem no fechar da boca, rebelam-se, querem-se libertas num rasgo de pensamento. No entanto, a oclusão labial é mais forte. amuralha a vontade.

Este é um ensaio sobre nada, sobre aquele tempo que não existe, sobre um palco de peças vazio, sobre uma personagem que se diluiu numa máscara de cansaço. Este é um ensaio sobre palavras por haver, palavras gastas, despidas de semânticas falsas.

Este é um ensaio que não chegou sequer a tentativa. Perdeu-se nas inutilidades da repetição. Dos dias. De todos os dias em que o 'pano' cai e as palavras se agrilhoam.

Todos os dias, a encenadora resiste e insiste. Baralha as personagens, numa representação que ninguém entende... porque nem a encenadora entende!

Este é um ensaio sobre coisa nenhuma, sobre palavras desassossegadas, que só encontram paz na voz do Poeta. Seja.

"Tenho neste momento tantos pensamentos fundamentais, tantas coisas verdadeiramente metafísicas que dizer, que me canso de repente, e decido não escrever mais, não pensar mais, mas deixar que a febre de dizer me dê sono, e eu faça festas com os olhos fechados como a um gato, a tudo quanto poderia ser dito." (Bernardo Soares)

30 comentários:

Carmo disse...

Bravo Graça, é um ensaio que não "se perdeu nas inutilidades das repetições".

É um teatro sobre muito, porque os silêncios dizem-nos muito.

Beijo e boa semana

Maria disse...

Há dias em que o 'nada' pode ser muito. Há horas em que o 'nada' existe. intensa.mente.

Beijo, Graça.

Marta Vinhais disse...

E, voltamos a insistir, a escrever, a ouvir conselhos do silêncio....e a escrever na chuva...
Adorei....
Beijos e abraços
Marta

. intemporal . disse...

.

. todos os dias quando o pano cai .

.

. há um silêncio que me agita .

.

. e respiro um breve ai .

.

. na metafísica que me coabita .

.

.

.

. o teu beijo, graça . sempre .

.

Canto da Boca disse...

Não sei se por mim, mas a sensação que tive ao ler esse texto, é o de nada dizer, fazer, pensar. Um nada absoluto, para poder extrair ensinamentos, movimentos e as próximas cenas.

Beijo, Graça!

AC disse...

"Este é um ensaio que não chegou sequer a tentativa. Perdeu-se nas inutilidades da repetição. Dos dias. De todos os dias em que o 'pano' cai e as palavras se agrilhoam."

Contudo continua a ser um ensaio, apesar de continuamente adiado. Que não se apaga, não desaparece, que tem raízes ramificadas no mais profundo do ser.
Enquanto houver desassossego, o ensaio vai dar sempre sinal de vida.

Beijo :)

RENATA CORDEIRO disse...

Minha querida amiga Graça, mais uma vez sinto o prazer, não sem dor, de lê-la.

"Se às vezes silencioso e pensativo
ao teu lado me sentes ou sentias,
é que eu acho em teus olhos a harmonia
de um linguajar dulcíssimo e expressivo.

E então tu és tão minha, que eu me privo
até de ouvir-te a voz, porque acharia
que rompendo o silêncio desunia
meu ser do teu, pois na tua alma vivo.

E estás tão linda; o meu prazer é tanto,
é tão completo quando assim te miro;
sinto no coração tão doce encanto,

que acho às vezes que em ti eu só admiro
uma visão celeste, um sonho santo
que vai desvanecer-se se respiro!

Guillermo Blest Gana (1829-1904)

Trad. da Renata Cordeiro

Beijos
Bom Fim de Domingo e Boa Semana!

Lídia Borges disse...

Muito para além das palavras estão os cansaços, as indecisões,a luta contra os moinhos de vento, para salvar uma "verdade" que não sabemos sequer se existe.


Um beijo

E G Miranda disse...

Todos os dias, Graça, o pano encerra o palco, para que os actores se recomponham, alisem as pregas desfeitas e refaçam a expressão... com que voltarão a enfrentar o público.
Na vida como no palco. Por isso se diz, frequentemente, o palco da vida...
Beijo.

A.S. disse...

Cai o pano. Emudecem as palavras, por entre subtis pétalas de sombra. Palavras que recusaram o sumo quente dos lábios e que, misteriosas, se diluem sobre um palco vazio, onde só os poemas verdadeiramente as conhecem!

Um beijo meu Graça!
AL

sideny disse...

Olá Graça

Onde o silêncio as vezes diz muito.

Uma boa semana.

beijinhos

rosa-branca disse...

Cai o pano. As palavras se despem da máscara, para se vestirem da forma habitual. Emudece o palco...escurece o sentir e entra um frio atroz que trespassa a garganta. Esperemos então, que o palco se ilumine e, com ele a alma desta encenadora de sonhos, que precisa urgentemente, do calor de uma sala replecta, para assim se despir de nostalgia e vestir a doçura das palavras quentes. Bem hajas querida Graça pela imensidão do sentir. Beijos com carinho

Nilson Barcelli disse...

Quando não há nada em palco, o melhor mesmo é fazer uma limpeza geral... rsrs...
Gostei da expressão "amuralha a vontade"... por isso o derrubar das muralhas é tão necessário... pelo menos de vez em quando...
Querida Graça, bom dia de greve.
Beijo.

Cristina Fernandes disse...

Baralhar as personagens na procura da arte num palco, onde a razão é secundária... impera esse sentir "sem entender" a encenação, entendendo-a por dentro, sem forma.
Costumo dizer que existe uma racionalidade maior no território do sentir... Belíssimo este teu texto.
Beijinho grande, Graça
Chris

Branca disse...

Querida Graça,

Um ensaio sobre nada e sobre TUDO no teu belíssimo dizer e como sugere o poeta às vezes é preciso esse amordaçar quase involuntário, essa não vontade de dizer, para que esses pensamentos fundamentais sejam vividos dentro de nós até terem outra vida.

Beijinhos
Branca

. intemporal . disse...

.

. fecho os olhos e nas palavras da Lara Fabian idealizo hoje a grande viagem que me espera breve .

.

. esta música esteve algum tempo no meu blogue consagrado ao Sri Lanka e,,, porque ainda é mais para lá de lá que irei, ante.vejo hoje a.qui o momento da partida apitada dentro do meu coração .

.

. nos dias que ante.cedem o segundo aniversário do aparecimento do #intemporal# na blogosfera deixo.te hoje aqui e por ora um beijo especial, a ti, que me segues de outros tempos, idos tempos, tempos idos, ainda mais para lá de lá .

.

. ;) .

.

. muito obrigado . sabes que sim .

.

Braulio Pereira disse...

olá querida amiga

vim desejar-te um optimo fim de semana faz o favor de ser feliz..


beijos saudades tuas!!

:)*

Vivian disse...

...Graça querida,
enquanto meus corriam
pelas tuas palavras,
lembrei-me de Lao Tsé
quando diz:

A argila não vem ao caso,
o vazio faz o vaso.

bj, minha linda!

apareça em meus cantos,
e ficarei muito feliz
com tão gostosa visita.

Anónimo disse...

Gracinhamiga (??????)

Anda um sujeito a penar, caído pelas esquinas, derretendo-se sobre as pedras da calçada, mendigando uma côdea, uma simplicíssima côdea carcomida - e nada...

Sou muito, mas mesmo muito, desinfeliz, éoké.

Mesmo ostracizado, vou passando por aqui, ainda que sem esperanças de ser retribuído. Sortes; vidas; desgraças.

Qjs suadosos, ops, saudosos e doloridos

Braulio Pereira disse...

obrigado Querida Graça

pelo teu carinho

que bela cançâo

o meu abraço de amor para ti!

:)*

Pensador disse...

Não existiria som
se não houvesse
o silêncio
Não haveria luz
se não fosse
a escuridão
A vida é mesmo assim
dia e noite
não e sim

Da mesma forma que esta música diz, não existiriam as apresentações se não houvessem os intervalos.
Assim, este não é um ensaio sobre nada. É um ensaio sobre a pausa necessária para que se aprecie a beleza da(s) peça(s) encenada(s).
Beijos

Nilson Barcelli disse...

Voltei para te ler... mas não há novo texto...
Querida Graça, tem uma óptima semana.
Um beijo.

. intemporal . disse...

.

. grat.íssimo graça, pela presença inequívoca com que me és essência ao peito .

.

. o teu beijo desta noite especial .

.

sideny disse...

Ola Graça

Venho desejar-te um bom feriado.

E deixar-te um beijinho

São disse...

Minha querida, também tenho dias assim...só que não yenho a tua capacidade de transmitir o que sinto com esta arte!

Um abraço grande.

Branca disse...

Desejando que esteja tudo bem contigo e que os teus lindinhos não te deiam muito trabalho nesta fase de avaliações, venho trazer-te o meu abraço e um beijo de boa noite.
Branca

Sofá Amarelo disse...

Tantas vezes que os ensaios são sobre nada, repetidos na distância... fantástica esta versão de Lara Fabian de um original de Massimo Ranieiri, representante da Itália no Eurofestival nos idos de 70.

Beijinho grande, amiga Graça!!!

rosa-branca disse...

Passei no teu ensaio do nada para dizer num tudo, que tenhas uma optima semana. Beijos com carinho

Nilson Barcelli disse...

Nada... nadica de nada de novo...
Beijos, querida Graça. Um bom resto de semana.

Carlos Gonçalves disse...

Graça, podes não escrever mais, como diz o poeta, mas eu vou lendo naquela letra, que tem o teu nome, as palavras que nunca disseste, uma marca escrita a tinta indizível, uma imagem impagável da tua alma...
Beijo de muito afecto... sempre!
Carlos