[com 15 anos, tirada pelo meu Pai]
Nunca fui muito de relembrar o passado, nem de fomentar esse sentimento saudosista tão português. Gosto do presente, viver cada dia como se fosse único, porque irrepetível. Sempre considerei pouco produtivos os discursos repetidos à exaustão, por algumas pessoas que me rodeiam, e que começam, invariavelmente, por "se": se tivesse menos 'x' anos... se, naquela altura, tivesse tido coragem... se tivesse... se não tivesse... se... se...
Tive a sorte de nascer numa família que nunca foi apologista de peias. Percorri o meu caminho, numa liberdade consentida, que me permitiu aprender com os erros, porque os cometi... chorar as minhas tristezas, porque as tive... construir a minha felicidade, porque a procurei.
Vem isto a propósito de há quase três décadas, devia ter 15, 16 anos, ter assistido ao meu primeiro grande concerto: Spandau Ballet. Lembro-me de, num dia ao jantar, ter pedido ao meu pai, se me deixava ir. Era sempre mais fácil começar pelo meu pai! Nunca me recusara um pedido. Apesar de não entender o que me levava a quer ver aqueles jovens, que 'só faziam barulho', para reproduzir as suas contidas palavras, lá foi, entre uma garfada e outra, lançando as perguntas verdadeiramente paternais... onde era o concerto?... a que horas acabava?... com quem ia? Cedo aprendi que todas as perguntas merecem uma resposta. E mais cedo ainda compreendi que a 'chave' do sucesso só podia ser a verdade. Assim, obtive a minha permissão.
Escrevia, há pouco, que os dias são irrepetíveis... no entanto, hoje à noite, repeti as duas horas vividas há mais de 20 anos atrás. Fui ver os Spandau Ballet. Só o local foi diferente. A mesma companhia [na felicidade de quem tem amigos perenes], as mesmas músicas, a mesma alegria. Por momentos, fechei os olhos, no meio daquela multidão revivalista, e quase senti o tempo parado. Por instantes, tive uma breve visão da miúda que fui. Sorri. E abri os olhos... sem razões para saudosismos.