[Luís]
Ainda o palco. O cenário previsível: reduzido a nada. Luzes - dois focos difusos, derramando sombras cansadas nas paredes. Silêncio na sala. Vazia, a plateia. Ensaio apenas. Sempre.
Boca de cena. Duas quase personagens, lado a lado. Fim da didascália. Algumas falas de uma peça talvez absurda...
UM - Talvez o rio se aprisione nas margens do não-dito, ou permaneça leito emergente de um desejo por inventar...
[sem gestos, sem movimento]
OUTRO - "Ainda não é tarde, para descobrir a verde planície que conduz ao mar."
[sem um único movimento]
UM - Talvez o vento desfaleça no cântico breve da poesia, ou se esconda nas arestas da insónia...
OUTRO - "Ainda não é tarde, para atingir a colina suave onde podes adormecer."
[silêncio prolongado]
UM - Talvez o orvalho se esvaeça nos grilhões da distância, ou deslize etéreo num morder desértico de lábios...
OUTRO - "Ainda não é tarde, para beijar o estigma róseo da flor do cacto!"
UM - Talvez a asa se rasgue no som abafado da impermanência, ou alinhave nervuras paralelas no coração...
OUTRO - "Ainda não é tarde, para alcançares a dimensão de um sonho real!"
[cada vez menos luz na sala]
UM - Talvez nunca seja tarde para mais um ensaio...
[escuridão total. silêncio unicamente quebrado pelo sorrir da encenadora]
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[entre aspas, versos de Albino Santos]
33 comentários:
Lindo lindo!!!
[escuridão total. silêncio unicamente quebrado pelo sorrir da encenadora]
Talvez nunca seja tarde para lhe dizer que eu
*Queria, queria
Ter a singeleza
Das vidas sem alma
E a lúcida calma
Da matéria presa.
Queria, queria
Ser igual ao peixe
Que livre nas águas
Se mexe;
Ser igual em som,
Ser igual em graça
Ao pássaro leve,
Que esvoaça...
Tudo isso eu queria!
(Ser fraco é ser forte).
Queria viver
E depois morrer
Sem nunca aprender
A gostar da morte.
Ter a nobre simplicidade da Graça!!
Pedro Homem de Mello, in "Estrela Morta"
Beijoss Rêlorinha**********
Bom dias sempre*
Dois poemas que eu li, separados:
. talvez... [dúvida]
. ainda não é tarde... [esperança]
Dúvida na esperança ou esperança na dúvida! Resposta, talvez, no sorriso da encenadora.
Lindo e reflectivo, como sempre!
Um beijo, querida Graça.
Carlos
Ola
Adorei.
beijinhos
Não, não é tarde. Nunca é tarde demais para te ler.
Estas duas vozes "quase personagens"
a conversarem na sombra, sem gestos parecem-me muito reais...
Um beijo
Um poema, uma pintura, uma foto, é indiferente onde vais buscar a tua inspiração, porque o que escreves é único, lindo, profundo, como tu.
Minha querida, um beijo magnífico em ti.
(já tinha saudades)
PJB
Querida Graça,
...um ensaio perfeito, como só tu sabes escrever.
"UM - Talvez nunca seja tarde para mais um ensaio..."
Talvez sim...Talvez não...Existe sempre um TALVEZ....
A verdade mesmo é que consigo visualizar sempre estas tuas encenações :)
Perfeita esta tua interactividade com os versos do Albino Santos.
Deixo-te um beijo de carinho,
Margusta
Amanhã dou notícias...Obrigada. Muito!
Olá Graça, claro que nunca é tarde para qualquer ensaio e se fôr de poesia, vem sempre a horas. Adorei, que lindo ensaio. Beijos
olá Querida
grato pelas tuas palavras sempre doces eu sei que tens muito trabalho tranquila .. a vida
é um ensaio sempre há um amanhecer cada dia..
coragem animo e Amor
doces dias suaves noites
querida amiga
és um tesouro!!!!!
beijos!!!
O sonho pode tornar-se real....e o facto de não haver gestos significa-se que a certeza é total....
Uma maravilha...
Adorei...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
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Nunca é tarde! Haverá sempre mais uma chance sondando por detrás das cortinas...
Belíssimo, Graça!!!
Beijos nesse coração tão especial...
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- Talvez tudo pareça estar perdido, e a vida pareça não mais valer a pena.
- Ainda não é tarde para continuar a ter esperança e lutar pelo sonho
Que bom voltar a ler um dos seus ensaios, Graça. Estavam fazendo falta.
Um grande beijo!
Chove bem no meio do mar
São de fogo as manhãs na ilha
A seda púrpura é lençol de amantes
Os olhos roubam a virtude à maravilha
Enchi a taça com absinto
Ergui o braço, toquei uma nuvem carmim
Ensaiei um passo de dança
Senti que os pássaros riam de mim
Senti o resto da geada em descalços pés
Calei minha viola de dois corações
Deixei entrar no peito o tamborilar de perdidas gotas
Senti o sabor sal das minhas emoções
Convido-te a partilhar a outra metade
Mágico beijo
Graça, o seu texto, de uma contido poesia, a poesia do palco, do subtendido, lembra-nos que tudo tem seu tempo - e que sempre é o tempo da poesia, da beleza, de nos sentirmos extasiados diante da vida.
Um beijo.
não é tarde...
para saltar
comer pão com manteiga
ver o rio correr...
não é tarde para as pancadas...
não é tarde porque é cedo para amar...
abrazo serrano y europeo
nunca será tarde para percorrer o caminho que falta para chegar onde sempre quisemos estar. Magnifica é a tua visão do ser!
Graça... apenas uma palavra:
Sublime!
Beijos meus...
AL
Nunca é tarde para a vida
Bjs tantos
Nunca é tarde, sabes?
Um excelente final de semana,Gracinha, com crepúsculos lindos e comuns nos nossos espaços, rrss
G.
gostei muito do texto e da perfeita combinaçao com os versos do Albino Santos.
e concordo nunca é tarde!
bom fim de semana!
beij
Olá querida Graça, não te preocupes se não tiveres tempo eu vou passando para te ler amiga. Passei para desejar um optimo fim de semana, com ensaio de lazer. Beijos
ADOREI!!!
Aplausos para ti, minha querida Graça e para o nosso querido poeta Albino Santos.
São momentos destes, que me deixam emocionada...
Um bom dim de semana com Saúde e paz.
Beijinhos.
Maria
bom fim de semana
vim dar-te um beijo!!
e ouvir esta suave cançâo
querida amiga!
adoro a musica!!
abraço ternura!!
Querida Graça,
Nunca é tarde para ensaiar seja o que fôr...
Belíssimo este emparelhamento com os versos do Albino Santos. A sua poesia é óptima para trabalhar ensaios e situações de diálogo como este.
Parabéns aos dois.
Obrigada pela lembrança que me deixaste no silêncio dos dias.
Sei que tens andado muito ocupada e eu na mesma mas o reencontro é sempre bom.
Beijinhos.
Branca
Branca
Olá Graça, ao ler o seu poema aconteceu uma coisa engraçada, vi-me de repente num palco a dançar tango exactamente com a letra que escreveu.
Bonito! Muito bonito!
Beijinhos Carmo
Eloquente texto, toca a brisa fina dum palco a que chamamos vida, nesse renovado recomeço.
Um beijo grande
Chris
"Bonito" não chega... morre na solidão da paisagem... mas adorei o "diálogo". Na comunhão das palavras... na teimosia do tempo."Talvez não seja tarde...", embora o tempo não fique sossegado na esplanada... Beijo, querida Graça. Até amanhã.
Olá, Graça
Neste palco, onde as sombras se fundem, e os personagens fazem o seu papel, sem precisarem de indumentária...são protagonista e figurantes ao mesmo tempo.
Gostei!
Beijinhos e boa semana
Gil
Muito ou nada é importante. Para assim dizer, nada para valorizar ou aviltar. Receio que ao “Ter” deixe de “Haver”, que de tanta procura, nunca se tenha. É algo assim. Simples facto de ter deixado de pensar. Venho desejar-te uma semana repleta, extenuante, que te leve a proteger presenças, mais do que desejas ou não queiras. Sintomaticamente, nunca é tarde (nunca houve tempo). De forma extemporânea, compomos com o que nos é oferto, uma dádiva? Creio que não. Nem virtude! Quanto mais mérito. Um grande beijo e sorriso “querida” Amiga.
É sempre com enorme prazer que regresso aos seus ensaios. Os seus diálogos dramatizados dizem tanto sobre a vida, sobre o sentir. Talvez haja sempre tempo para outro ensaio, para o começar de uma nova peça. Gosto muito de lê-la, sente-se a sensibilidade em cada palavra.
Um abraço, Graça, e boa semana.
(Pode levar todos e obrigada pelas palavras.)
Oi!!!
*Nunca prendas a quem gostar,
pois este deve ter a liberdade de ir e, quem sabe,
algum dia voltar*
M.S.
Beijos da Rê para você sempre********
Querida Graça,
...passo para te deixar, num voo rasante de gaivota solitária, um grande beijinho cheio de muita amizade por ti!
Tua amiga,
Margusta
"...pelo sorrir da encenadora".
É aqui que está o tempo que parece que falta, mas não.
Ela evidência a luz que substitui os gestos dos personagens que interiorizam o sonho feito real enquanto as palavras fluem.
Talvez comece a fazer-se tarde pois o pano, boca de cena, anseia abrir-se.
Que Bom
Obrigado
Nunca é tarde para tentar.
O tempo é uma desculpa para quem tem medo de arriscar, mas mesmo assim está em pleno palco, mero figurante, mas em palco.
Gostei!
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