Neste meu palco, onde visto o papel de Encenadora de práticas lectivas, há dias em que, convictamente, percebo porque sempre quis ser Professora. São aqueles dias em que não há burocracia que estrangule o meu prazer... em que as metas e os objectivos são todos subjectivos... em que a surdez de quem manda não cala o meu sentir.
A aula começou com o lançar da proposta de produção de um texto colectivo. A receptividade costuma ser boa. Afinal, os meus lindinhos gostam de ver nascer no quadro, ainda preto, o resultado das suas contribuições, primeiro sugeridas a medo, depois entusiasticamente ditadas, na certeza de que conseguiremos um texto que não envergonhe ninguém. A colaboração de todos é obrigatória. O apagar constante, na procura da palavra adequada, ou na tentativa da sintaxe quase perfeita, é normal. Eles apreciam. Eu também.
No entanto, hoje não me apetecia um qualquer texto. Pretendia um poema. "Ohhh..." o desânimo chegou. "Um poema? Isso é difícil!" - argumentaram. Não me interessa! Será um poema. - retorqui.
Dificultei a actividade ao escrever, bem no alto, o título "O Colar". O colar? Um poema sobre o colar?
De repente, um braço no ar. "Professora, como definiria poema?". Por momentos, senti vontade de verbalizar o meu pensamento, longe de preceitos teóricos, armadilhado pela singela pergunta. Um poema? Não sei! Não me interessa... Dizem que o ser se revela no criar de um poema, transfigurado na desculpa de quem não consegue dizer. Dizem que o verso é defesa de quem só procura viver. Conta-se em estrofe marcada, arruma-se numa qualquer métrica de nada... O poema não é só saída, nem esplendor criativo, é o grito da alma ferida, onde o sentimento permanece cativo. Dizem que o ser se revela... Não sei! Não me interessa...
Claro que não pronunciei uma única palavra que revelasse o meu pensamento. Respondi que o poema seria definido no resultado da aula de hoje.
Iniciámos o trabalho... e, rapidamente, surgiram os dois primeiros versos de um poema com o título "O Colar":
Descubro nas ondas brancas
Cem pérolas de fantasia...
Pronto, o pior tinha passado. O entusiasmo voltou. O poema cresceu. E o meu dia ganhou o ornato de palavras encadeadas... não para colocar no pescoço, mas para gravar na minha alma.
10 comentários:
E repentinamente o colar foi crescendo com pérolas fantásticas... momentos de fantasia que ainda vamos tendo. Boa motivação, amiga!
Bjo
Os alunos ainda são o que vale a pena, neste nosso sistema educativo.
Bjo amiga professora.
PJB
E um colar de palavras fantásticas surgiu dessa tua comunicação com os alunos.
Adorei esse teu ensaio. A maneira como comunicas com os teu "lindinhos" é fantástica. Fazes com que eles se abram a novas perspectivas, não é fácil nos tempos que correm.
Bjinhos e desde já um bom fim-de-semana.
PS: Espero que gostes das músicas :)
Um trabalho muito gratificante e útil para os alunos.
Desejo-lhe uma boa continuação
e êxito.
Bjs
Amiga querida Professora,
Sabes? Este teu lugar são aulas pra nós também. Lembrei-me dos meus tempos... Adorava trabalhos assim...
Um imenso beijão em ti! Ah! gosto mesmo do teu blog!!
Acho que me vou matricular nas tuas aulas, porque eu não sei o que é a poesia...
Em troca posso ajudar-te a minimizar a burocracia e a desenhar uma avaliação SMART*.
S - Specific;
M - Mensurável;
A - Adequada;
R - Realística;
T - Temporizada.
Terá 6 páginas em vez de 500...
Sem precisar de outro modelo (é um modelo dentro do modelo, logo respeita o modelo).
Aceitas-me?
Beijinhos.
Que beleza você incentivar seus alunos a fazerem poesia!
Os primeiros versos já foram lindos...
Beijos de luz e o meu carinho!!!
Alegria sinto eu por sentir o teu carinho e amizade!!!
Não esqueço nunca!
Um beijinho e boa noite, querida GMV!
De tanto escrever, há muito que não o fazia com caneta e papel, apercebi-me que cobri meia dezena de “vademecums” nesta ultima semana, é extremamente gratificante, mesmo que tenha que suportar o “backdraft”. Mesmo que consciente que o sucesso seja o que mais me falta o “saber descobrir”, vou descobrindo e aprendendo. Continuação feliz, ensaio humano, uma etapa na vida.
Beijo sereno.
Um Grande Poema pode nascer sempre da coisa mais simples...
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