Há quem sinta uma vontade intrínseca de se sentar na plateia da vida e reflectir. Sentir-se cómodo, na cadeira de veludo, e pensar maduramente no que se passa no palco. Há quem tenha essa simples capacidade de se abstrair, por momentos, do seu papel, para ponderar os efeitos da representação em nome próprio.
Dito por outras palavras, existem pessoas que olham para o pretérito criticamente, na procura do ensinamento futuro. Ou melhor ainda, o mundo está cheio de pessoas preocupadas em responder às chamadas dúvidas existenciais. De onde viemos? Para onde vamos? O que fazemos aqui?
Apesar de não poder fugir à cadeira de veludo, confesso que não me sinto tentada a olhar o passado, muito menos almejo resposta a perguntas existenciais. Prefiro vivenciar o presente com a beleza do desconhecido, sentir a força do tempo no agora, esperar que o meu porvir seja o momento actual.
No entanto, hoje dei por mim num estado de pura introspecção. Mirei-me nesta interioridade rabiscada a sentimentos, tantas vezes escondidos... Contemplei-me numa alma espelhada a dúvidas, tantas vezes por esclarecer... Encarei-me na frieza de pensamentos, tantas vezes desordenados. Vi-me!
Ao observar criticamente o meu palco, não resisti a pensar nesse Prometeu Agrilhoado. A tragédia de Ésquilo ganhou forma por trás de um pano de cena, tão gasto! por ser ininterruptamente aberto e fechado. Tal como essa personagem, castigada por tempo infinito, não me apetece a submissão. Nego a vontade das entidades superiores que insistem em me agrilhoar. Revolto-me, nem que para isso tenha de suportar a dor.
Hoje, dei por mim num estado de pura introspecção. Vi-me. E decidi. Continuarei a ser quem sou! Não obstante as águias...