O dia foi abrasador. Principalmente para quem o passou, como eu, encafuada numa sala da Escola, entre papéis e mais papéis, dossiês e mais dossiês, computadores, lápis, borrachas, decretos e despachos, sem esquecer as últimas portarias! A tarefa ingrata de distribuir serviço, de perspectivar horários, de condensar a vida dos professores numa tabela cheia de colunas e linhas.
Ao chegar a casa, a vontade de fazer qualquer coisa aproveitável era nenhuma. À distância de um telefonema, combinei a saída. Desejava a noite, com a sua brisa reparadora, com a sua cor que não ofusca, com a companhia perfeita.
Junto ao rio, o descanso ganhou sabores de conversa, sons de bebida fresca.
O meu companheiro é dado a uma boa cavaqueira, de preferência raiada de contornos filosóficos. E rapidamente chegámos ao âmago da questão: e o fututo?
Não sou pelo futuro, aliás, quando, no meio de uma aula, é premente explicar o tempo, aos meus lindinhos, transformo o futuro num automático presente. É difícil tornar inteligível a noção do tempo. Um presente que logo deixou de o ser, porque já passado... um futuro que nunca o será, porque sempre presente...
Não gosto de pensar no fututo. Sou pela vivência de cada dia, como se fosse o único. Não gosto de pensar o amanhã. Sou pelo agora, se possível já. Talvez por isso planificar seja um trabalho penoso. Como marcar algo para daqui a uns dias? Como dar por adquirido que se quer ir? Que a disposição se mantém? Que não surgiu algo mais importante para fazer?
Não gosto de longo prazo. Sou pela validade diária, sem corantes, nem conservantes. Fui interrompida pela pergunta incrédula: Estás bem? Claro que estou bem, só manifesto o meu pensar confuso, porque sou assim. A noite estava agradável, o rio escuro espelhava o céu, com poucas estrelas visíveis, por ser um céu de cidade. Ah, que saudades do céu do meu monte, ponteado de pequenas luzes...
Entre uma bebida e uma gargalhada, lá continuou a conversa sobre o porvir. Argumentei, clarifiquei, pedi explicações... nada me convenceu. O futuro não existe. O meu tempo é sempre presente. Tenho de acompanhar o meu tempo, tenho de o sentir passar, tenho de gastá-lo. E isso, meu amigo, só é possível no agora...sempre agora, sempre presente.
E amanhã o que fazes? (já na despedida) Amanhã, quando for hoje, te direi.
Agora, vou dormir!
8 comentários:
Depois de um dia encalorado e cansado, nada melhor que um refresco à beira do rio.
Folgo muito em saber que estás a fazer distribuição de serviço. Vê lá em que coluna é que me metes... a linha tanto faz!
Bjo
Amiga...desperdiçar um sábado com a distribuição de serviço é coisa pra mim que sou vice. Falando de futuro...estás a preparar o teu?
rsrsrs...Bjocas e bom trabalho.
Lídia...Já a meter cunhas!Que vergonha!!! Bjocas
Paola, Paola, sabes que a parte ingrata não é minha! Acompanho somente o desenrolar dos acontecimentos, à espera que o computador possa ter alguma utilidade!(ahahahah)
Célia, que bom ver-te por aqui. Senhora Vice! Trabalhar ao sábado??? Eu cheguei agora de mais uma noite bem passada. Beijos
Eu cá nem falei em "cunhas", Celi!!!! E faça favor de não me trocar o nome, sim?
Se a GMV anda tão atarefada a distribuir serviço, foi o que eu li, que arranje uma coluna bem jeitosa para mim! Até estou em segundo lugar no ranking dos infelizes... Se uma coluna é um elemento arquitectónico destinado a receber as cargas verticais , só quero uma que aguente com a minha... verticalmente!!!!
Bjos às duas
Já percebi que não querem comentar a parte do futuro! Professoras, enfim...
Professoras sem dúvida, meu caro "anónimo"! A tentar colorir um futuro que se adivinha cinzentão! Ou não o é já o presente?
Bjo
Eu prefiro pintar o presente, se não se importam.
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