(foto de Luís AT)
Sou pelo improviso. Pelo repentino. Pelo 'de repente'.
No palco, durante os ensaios, quando um do meus aprendizes do fingir tem uma chamada "branca", eu apelo ao improviso. Vamos! Invente! Qualquer coisa há-de sair! Não fique calado! E a "branca" fica cada vez mais pálida, raiando quase o estado exangue!
Não é fácil improvisar, nem no palco da Sala Gil Vicente, nem neste palco da vida.
Improvisar, numa peça, é ter a capacidade de a recriar, encontrar-lhe um sentido, que não apague a trama do dramaturgo, que não corte o fio que conduz ao desenlace.
Improvisar na vida é exactamente igual! Exige-se um acto de produção original. Repentino. Sem quebrar o conflito da realidade, permitindo que se atinja o clímax... o ponto culminante... o momento decisivo da acção (redundâncias de quem improvisa!).
Gosto de improvisos. No palco, na vida... Gosto de quebrar a acção pré-definida, a sequencialidade dos acontecimentos. Gosto de deixar o Encenador na eterna dúvida do que virá a seguir.
Hoje, a minha jovem actriz, que carrega a responsabilidade de uma personagem de nome pomposo, Velha Terra, teve uma "branca" no ensaio. Improvise! (quase implorei). Olhou-me, com os seus olhos inexperientes, rogando a 'deixa'. Não dei! Olhou-me, com os seus olhos líquidos, suplicando a 'fala'... Claro que dei!
No palco, na vida... improvisar não pode ser sinónimo de chorar.
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