Ensaio sobre a arte...


 

     Sempre considerei um pouco sem sentido, um pouco vazia, a palavra "instalação", quando associada a arte. Instalação, na maioria das vezes, faz-me recordar as minhas saudosas aulas de eletrotecnia, nesse tempo longínquo onde se marcavam no horário os Trabalhos Oficinais. 

     Na oficina da extinta escola secundária do Arco do Cego, faziam-se instalações incríveis, com percursos infindáveis de fios e mais fios, para que no final tocasse a campainha, ou melhor ainda, acendesse a lâmpada incandescente. Éramos os "instaladores".

    Talvez pelas memórias tão visuais dessas aulas, resisto a utilizar o vocábulo em contexto artístico. No entanto, há uns dias, na vila das artes, tive a sorte(?) de assistir à explicação dada pelo autor Zadok Ben-David de todo o processo criativo da "instalação"- Pessoas que vi mas nunca conheci. Nove mil e trezentas figuras de pessoas reais, captadas num qualquer canto do mundo.

   Finalmente, compreendi que pode haver uma verdadeira relação com as minhas aulas dos finais dos anos setenta. Tudo construído numa oficina, com materiais palpáveis, experimentando e refazendo, até à mostra final. Tudo iniciado por um olhar poético através de uma lente numa máquina fotográfica.

    Aprender é o melhor condutor da vida. Eu gosto.

     

Ensaio sobre bastidores


Há muito que não me sentia nos bastidores! Se é que alguma vez por lá andei. Vamos vivendo na correria de uma cascata, sem pensar que, num qualquer dia, poderemos tropeçar num dos muitos pedregulhos que se escondem na beleza da espuma escorregadia.

Parei. A meio de novembro do ano passado, pela primeira vez na minha vida, parei. Não por razão entendível. Parei, simplesmente, porque não consegui andar! Dor, uma dor horrenda rasgou a minha coxa e, ao mesmo tempo, a minha vida.

Desde essa altura, a dor é a minha companhia constante, fiel amiga, presença permanente. Já me levou à mesa de bloco, a salas várias de fisioterapia, a consultórios de especialistas e menos do que isso.

No entanto, o que estranho é o silêncio. Cresci numa escola, estudei uma parte da minha vida, fiz-me professora por todo o gosto que tal condição me trazia. Desde os meus seis anos que uma parte imensa do meu dia é passada numa escola. As gargalhadas, as correrias, os silêncios sempre quebrados, o teatro, os pequenos aprendizes do fingimento, as provas, as queixas, as lágrimas limpas, mas também derramadas...

Estou inoperacional, esquecida nos bastidores. Há trinta e um anos que leciono naquela escola e, de repente, esquecida atrás de um pano de cena.

A vida, ah! a vida. Dor, apenas dor.