[Luís]
trago os dedos cansados de me escrever
no silêncio das folhas brancas
vazias
tão vazias
houve tempos em que acreditei
ingenuamente
que o delírio com que desenhava cada letra
me libertaria esta alma agrilhoada
e escrevia-me
como se cada palavra
fixasse no papel sentimentos permanentes
como se cada frase ortografasse raivas
e desejos
sorrisos
e lamentos
como se cada verso
coerentemente dissesse a minha vida
houve tempos em que a tinta
foi lastro de fúria incontrolável
foi mel derramado sílaba a sílaba
foi matiz de felicidade
foi desilusão líquida em cristais salgados
trago os dedos cansados de me escrever
no silêncio das folhas brancas
vazias
tão vazias
de mim