[Luís]
Não há nada mais constante na vida do que a própria inconstância... Cito de cor, que me perdoe Swift.
Hoje, ao entrar nesta silenciosa representação de mim, senti o aroma triste da nostalgia, repassando do vazio do palco. Revisitei alguns momentos aqui gravados... das minhas aulas, dos meus sentires, dos meus desejos, dos meus ensaios verdadeiros, com os meus aprendizes da arte da dramatização.
Ao longo de um ano, a vontade de aqui estar foi-se esvaindo. Tive consciência de que o meu palco se bifurcara algures, entre a constância dos dias breves e a inconstância dos actores que foram entrando na minha peça. Não soube escolher... de repente, percebi que me deixara para trás. E isso era muito mais do que podia representar. Afinal, a cadeira de encenadora era minha. Apenas minha. Só eu poderia reescrever todas as cenas fracassadas, mudar as deixas gastas e repetidas à exaustão, apagar todas as saídas de palco.
Hoje, ao entrar no meu Teatrices, deu-me uma vontade imensa de sacudir o pó de todos os sonhos, acender os projectores do porvir e rasgar o pano dos dias falhados. Recomeçar ao meu jeito, na certeza de que me tenho sempre por perto, pronta para me estender a mão, sempre que o vazio se apertar nos meus dedos.
[Fora de cena, quem não é de cena e que se reinicie a peça.]