Ensaio por uma lágrima [que não caiu...]

[Luís]

Cristalizei todas as despedidas, na tristeza turva de um olhar. Rasguei cada palavra pensada... e gritei mais alto o silêncio.

Ensaio quase poético...

[Luís]

Despojo-me de semânticas gastas… e, no sossego das palavras por criar, rasgarei todas as utopias. Basta que floresçam anseios de sílabas orvalhadas ao amanhecer; basta que resvalem promessas nas encostas ditas de prazer. Basta que, na sombra do silêncio, se recolham todas as dúvidas…

E aí permanecer.

Ensaio pela renovação...

[Luís]


Adormecera no centro do palco, resguardada pelo peso de um pano cansado. E sonhou-se.

Sonhou-se barco, deslizando no rumor doce do rio, a esmorecer por entre as brumas. Sentiu o alargar das margens, clamando um desaguar perfeito nos braços de um mar revolto. Fez dessas águas o lavar das suas memórias; rasgou, na correnteza desenfreada, cada palavra não recebida; afogou todas as ausências não desejadas; fundeou cada desilusão trazida por silêncios permanentes.

Sonhou-se barco sem leme, ateado no seu peito, seguindo o seu curso de sentido único. E a noite já não era noite. E o pano de cena, abrigo da sua alma, abrir-se-ia a outros aplausos. E vogaria pela vida, ao sabor de uma indefinida inquietação. Renovando o seu papel a cada sinal de tormenta, nessa peça por inventar.