Encerrado!

[Luís]



O Teatrices encerra amanhã. Fecha as suas portas indefinidamente, porque nada é definitivo na viagem da vida.
Para todos os que se sentaram, nesta plateia, ao longo destes dois anos e meio, fica o meu respeito, a minha gratidão, o meu carinho...

Quanto à encenadora, continua a acreditar em ilhas desconhecidas.

Ensaio na quietude...

[Luís]


Sábios silêncios, que resguardam o anseio de quietude.

Aí me encontro... permaneço, entre esse espaço onde o sonho finda e a realidade se veste de ti.

Ensaio pela verdade...

[Luís]

"Que coisa é essa que procuras dentro das coisas?
Qual o pensamento que o teu pensar não alcança?
Por que céu voam as poderosas asas do teu espírito?
A que altas visões lhe é doloroso estar cego?"
[Fernando Pessoa]

Acercou-se, devagar, sorrateiro, ainda no resquício dos dias quentes, esse mês de Setembro. Não dei pela sua chegada, abstraída que sou das folhas de calendário, sempre que ausente do palco escolar, onde o registo burocrático de ser, implica o conhecimento dos dias, dos meses, dos anos.

A minha relação com o tempo é difícil. A minha percepção do dito é, na maioria das vezes, meramente psicológica. Um minuto que tem a dimensão de uma vida. Um ano que parece não ser mais do que um minuto de vivência, um minuto de memória.

No entanto, hoje, senti a imensidão do tempo que já passou, desde o início do ano. Oito meses concluídos...

E, assim, sem ruído, sem palco ou aplausos, chegaste, Setembro! Fala-me, de novo, da vontade de abarcar os dias, num abraço intemporal. Fala-me de equinócios de igualdade, na correspondência entre as partes desse todo que sou. Fala-me do brilho do olhar, que ainda deve existir, pelo desejo de aprender, em cada dia, uma palavra, em cada palavra, um objectivo de vida. Fala-me de palcos cheios de mãos que se encontram no silêncio do acreditar. Fala-me pouco de bastidores... ou melhor, não me fales. Fala-me de um tempo melhorado, em que os silêncios sejam apenas o repouso consciente da partilha, e não a negação da existência, numa história que há por contar. Fala-me dos risos sinceros, redobrados no trinar de dias felizes. Fala-me de mim, no acolher da minha estação, fala-me do Outono, estação de verdades naturais... conta-me como o verde amarelece, lentamente, relembrando que na vida há que mudar de papel.

Fala-me de um novo papel, de uma personagem renovada, numa peça que se ensaie, dia após dia, com a confiança de que, no palco, se encene sempre a verdade.