[Graça]
Hoje, queria escrever uma peça de despedida, ensaiar o fim, num sair de cena nostálgico, vestir as personagens com acenos disfarçadamente sentidos. Dar as "deixas" em palavras de adeus, repetidas, no silêncio, até à exaustão. E fechar o pano, no cair de uma lágrima furtiva.
Hoje, queria escrever sobre a última aula de Língua Portuguesa que os meus lindinhos me ofereceram, num palco escolar que partilhámos durante três anos. Queria saber grafar o brilho de um olhar, o calor de um sorriso, o carinho de um discurso espontâneo... Um a um, os meus alunos falaram desta caminhada pelos trilhos da língua... do início incerto e confuso; da persistência em encontrar direcções; dos passos, cada vez mais seguros, que fizeram encurtar as distâncias... Um a um, os meus lindinhos entregaram-me um poema de despedida... 'porque a Professora adora poesia', 'porque a Professora nos fez gostar de poesia'...
Hoje, queria escrever noventa minutos de emoção, no entanto, os meus dedos resistem, num mutismo premeditado, crentes que há momentos que não se escrevem... guardam-se no coração.
No final, pedi aos meus meninos que seguissem o seu caminho, que respeitassem sempre a sua língua, que fizessem das palavras a sua primeira arma, no enfrentar das dificuldades da vida, que fossem felizes, enfim...
E sorri, quando um dos meus alunos, para aligeirar o momento, finalizou a aula, do alto do seu metro e oitenta: "Professora, ao longo destes três anos, cresci consigo. Deve ser por isso que, neste momento de despedida, me sinto enorme!" [Obrigada!]