Um intervalo [que persiste]
Ensaio pictórico...
Ensaio pelo Outono...
Ensaio pelo 'cavaleiro do conjuntivo'...
Ensaio com destinatário...
Ensaio pelo amanhã.
Um primeiro ensaio [que não é novo]
Diz quem sabe que o Teatro, enquanto manifestação artística, é tão velho quanto o Homem. Provavelmente, nasceu desse desejo intrínseco e inexplicável de se ser um outro, que não o próprio. Ou talvez não. Bem, seja como for, é incontornável o Teatro!
No meu Teatrices, tenho “brincado” com as analogias entre esta arte e a própria vida... a minha vida. Nada de estranho, é certo. As semelhanças são evidentes, e não é por acaso que se associa o aparecimento das primeiras "dramatizações" à própria história do ser humano. Depois, como é óbvio, vieram os Gregos, mas isso é outra história...
O palco dos dias, o pano cansado de tantas aberturas, o cenário por vezes vazio de entendimento, o actor de mil papéis, as falas perdidas no desconhecimento da deixa… adereços supérfluos, pontos que não existem, encenador rouco da marcação errada, dramaturgo gasto na repetição da peça. Palavras, meras palavras de significado conhecido e devidamente contextualizado. Teatrices, enfim.
No entanto, e para mim, a verdadeira razão de ser do Teatro é o Público. Essa realidade ideológica e culturalmente mutável, que tanto se levanta no aplauso a raiar o bravo, quanto se retrai no apupo sentido e sonoro. É destas expectativas individuais, [e colectivas, porque não], que nasce, sem dúvida, o sucesso da representação.
Serve o intróito, a ante-cena, a pré-peça, sei lá, para dizer tão-somente que Setembro começou... e eu tenho saudades do meu público! O meu verdadeiro e espontâneo público. Os meus alunos. Essa alegre plateia que regressa, no início da temporada lectiva, cheia de novas esperanças. Que aplaude, sem pudor, o entusiasmo da actriz, que, da mesma forma e criticamente, rejeita as falas gastas e descaracterizadas de um programa irreal. O meu jovem público é exigente. Gosta de argumentar, de explicar, de dizer e contradizer, de escrever, de ler, de fazer poesia para agradar a encenadora.
Tenho saudades do meu público. Do brilho de cada olhar, marcado pelo silêncio de quem guarda anseios a partilhar; do calor de cada sorriso, reclamando um gesto de atenção; do sentido “bom-dia”, que requer um desenvolvimento, sem conclusão na afectividade. Tenho saudades de sentir, em cada aula, o crescer das ideias, o mudar da voz, o coração escrito nas primeiras paixões.
Tenho saudades do meu público. Esse que também resiste à leitura, porque soletra; o que foge à escrita, por ausência de teclas; o que tropeça nas muletas linguísticas, sem conseguir verbalizar o seu pensamento; o que se atrapalha no pegar da caneta, por ser mais leve que o telemóvel.
Neste primeiro dia de Setembro, sinto saudades dos meus alunos. Só por eles vale a pena representar esta “difícil” peça de ser Professora.