(foto de GMV)
Ao sabor dos dias, a cortina abre-se para representações únicas. No palco escolar, uma cena nunca se repete, ainda que a peça seja a mesma. Uma aula edifica-se, tantas vezes, no traçado momentâneo, timidamente delineado por esses aprendizes que anseiam arquitectar a vida. E eu deixo...
Entraram ainda sacudindo resquícios de uma tarde chuvosa. Os sorrisos traziam o calor de sempre. Naqueles meus alunos, por enquanto, o Inverno não perdura o tempo necessário para se tornar estação. "Vamos acabar a história, Professora?". Gosto de ler. Para eles. Andávamos de volta dessa peça O Colar, de Sophia. Era dia de terminar a história. Essa história que foram ouvindo, ao sabor de todos os papéis tornados forma pela voz da Professora. Sabiam também que, assim que eu acabasse a minha leitura teatralizada, teriam de escrever uma cena alternativa para aquele final que ainda não conheciam. A expectativa era grande. Afinal, na última aula, tínhamos deixado Vanina a sofrer a desilusão de um primeiro amor não correspondido, destroçado às palavras de Pietro. Personagens de uma vida ficcionada, que assimilavam como possível. Recomecei, quase no final da peça, vestindo o papel de Vanina: "Não, não há nada que falar. Não há nada para dizer. Eu morri sem dizer nada."
"Eu morri sem dizer nada" transformou a aula num querer dizer tudo! Ensaiaram explicações, esgrimiram argumentos, defenderam certezas... E pronto! A escrita ficou para outro dia...
Sempre que a cortina se fecha, sempre que a plateia se esvazia na escuridão deste Teatro, há uma luz que, teimosamente, incide bem no centro do palco... nasce nesses projectores-meninos que iluminam a minha vida.