Último ensaio...
Intervalo [pela verdade da poesia]
Ensaio repetido [como o Natal...]
Ensaio pelo voo...
Ensaio roubado [ao Poeta]...
Ensaio narrado [no silêncio]...
Ensaio repetido [pela saudade...]
Despi-me [no "foyer"]...
Ensaio incompleto [e simples...]
Intervalo [por uma flor...]
Ensaio por um bolo...
Ensaio pouco teatral...
Um agradecimento...
Ensaio por um dia...
Ensaio rápido...
Improviso [um ensaio apenas]
De volta ao palco. Cenário reduzido a nada. Luzes – só a claridade breve de um fim de tarde, que rompia pelas frestas das janelas. Silêncio na sala. Ensaio apenas.
Boca de cena. Duas quase personagens, olhando o vazio, lado a lado. Fim da didascália. As falas…
UM – Como se dirá a despedida?
[sem gestos, sem movimento]
OUTRO – Com um “adeus”, talvez…
[sem um único movimento]
UM – Sem mais palavras?
OUTRO – Mais palavras só adiariam o momento…
[silêncio prolongado]
UM – Guardaremos as memórias que ainda dançam nas paredes?
OUTRO – O melhor é deixá-las ir nos escombros…
UM – Conseguiremos recomeçar?
OUTRO – O fim é sempre início de algo…
[cada vez menos luz na sala]
UM – Sentiremos saudade?
[silêncio, nenhum gesto, nenhum movimento]
OUTRO – Lembrança grata de alguém ou de alguma coisa de que nos vemos privados…
UM – Sentiremos saudade?
OUTRO – Um palco, uma plateia, uma peça, uma representação…
UM – Sentiremos saudade?
OUTRO – Talvez, não sei... sim, acho, sempre que ouvir a palavra “teatro”… ou sempre que não a ouvir…
UM [saindo] – Adeus…
OUTRO [imóvel] – Talvez haja tempo para mais um ensaio.