No palco, como na vida...

[Luís]


O dia amanhecera cinzento. O frio trazia como companheira uma chuva monótona, que se arrastava pelo céu havia alguns dias. Início de tarde. Dia de ensaio.

Os meus jovens aprendizes da arte de "fingir" chegaram apressados. Nunca há espaço para tempo perdido, quando se fala de representar. Gostam.

Andamos, desde Dezembro, a ensaiar uma peça que escrevi propositadamente para eles. Cada personagem pensada para o actor, cada fala adequada à capacidade de expressão tão própria dos jovens e irreverentes sentires. "Um sonho de Mestre Gil".

No último ensaio, sem que lhes dissesse, tomei uma decisão: alterar toda a peça. Não porque não gostasse do original... não porque não me agradasse o desempenho dos meus lindinhos. Mas, sem saber explicar os porquês, senti que faltava qualquer coisa. No palco, como na vida...

Hoje, ao chegarem, apresentei-lhes uma nova peça. Espantados, sem no entanto reclamarem, pegaram nos papéis e começaram o ensaio. Correu bem. Interiorizaram as diferenças... e rapidamente transformaram as minhas palavras num momento que me fez sorrir. Esquecemos o frio molhado que fazia lá fora. Ignorámos a monotonia do dia cinzento.

No palco, como na vida, é preciso reconhecer que nada é definitivo.