Ensaio sobre o tempo...

[Luís]

Incansável é o tempo. Insiste, ininterruptamente, sem grande alarido, na sua passagem. E assim, na quietude dos dias, Dezembro aproxima-se do fim.

Para alguns, é o momento ideal para olhar o palco, relembrar todas as representações falhadas, guardar na memória todos os intervalos que espelharam a rebeldia da alma, contabilizar todas as vezes que o pano caiu de cansaço... e rapidamente antecipar desejos de mudanças, imaginar novas peças, perspectivar prolepses de uma outra vida que não a vivida.

Não gosto de olhar o passado, nem de idealizar o futuro. Vivo o presente como o único tempo que vale a pena. Dezembro caminha, calmamente, em direcção ao final do ano. E eu também. Agradecendo, apenas, o alvorecer de cada dia... que me permite estar, que me permite ser, que me permite amar esta vida que tenho.

Ensaio por um voo...

[Luís]


Quantos voos cabem numa asa fatigada? Quantas esperanças vãs se rasgam no apagar de um sol impermanente? Quantos sonhos se diluem num planar solitário?

[E o horizonte sensível esvai-se na distância...]

Ensaio para um poeta...

[Luís]

Falemos desse lugar... onde as palavras se derramam, nas raízes do sentimento, onde pulsam inquietas desventuras, na quietude dos troncos rubros.

Deixemos que se acendam todos os sorrisos arrojados, no exalar dos ventos clementes. Que sejamos ramos poentes, rendidos ao som alado desse vértice onde se encerra uma alma tranquila.

Falemos apenas do lugar dos sonhos… onde se encontram todos os poetas.