Um ensaio estranho... [reeditado, porque sim!]

[Luís]


Quando, em Junho de 2009, ensaiei este texto, intitulei-o de "estranho". Curiosamente, um dia destes, alguém me falou dele... Hoje, voltei lá, para reler... e estranho mesmo é que a passagem do tempo não mudou uma única vírgula na intenção com que foi redigido. Hoje, repensei-o e trouxe-o comigo, porque sim!

A casa tinha sido roubada ao mar. Repousava, agora, nas dunas de uma praia, sustentada em paredes de sal. O silêncio, no interior vazio e taciturno, gritava ondas de incerteza. O rumorejar do vento aliciava as cortinas feitas de algas sofridas. Janelas derrotadas na cor da maresia.

Nessa tarde primeira, sobre a areia fina e quente, a casa respirara a saudade de tantos sonhos navegados.... os olhos secos clamaram o chão líquido que, ao fundo do areal deserto, se estendia, sedutoramente, em espuma de desejo.

A casa fora, sem saber, sem esperar, roubada ao mar. Naufragara na aridez da terra. Partiram-lhe a quilha do seu bolinar onírico. Rasgaram-lhe as velas de uma vida insuflada de ideais. Derrubaram-lhe o mastro que sustentava o porvir...

No entanto, sentia, nos alicerces da sua construção, uma perene crença... Seria, então, casa da praia, no cimo de uma duna. Em cada divisão, guardaria um sonho... em cada porta marchetaria um ideal... abriria as janelas a cada novo dia... viveria longe do seu amor, é certo, mas nunca, nunca seria um castelo de areia desfeito pela indiferença do mar.

52 comentários:

maresia disse...

Ena! que giro! Estamos em sintonia meu anjo!
Porque sim...Eu uso muito esta frase!
Só porque sim!
Graça...ès linda minha querida1
tem um bom fim de semana, tá?
Besito doce como tu

Love the music
love it..

Vivian disse...

...sempre em qqr tempo é tempo
de reconstrução,
de sonhos,
de amores,
de felicidades enfim.

...mesmo que demores a aparecer
em minha casa,
quando chegas é uma festa para
o meu coração!

um beijo, minha linda!

Marta Vinhais disse...

Porque continua a ver longe...
E o mar, no fundo, não é indiferente...
Poderá ser egoísta, mas nunca indiferente.....
Sabe escutar.....e oferece sempre
consolo...
Para mim, pelo menos....
Beijos e abraços
Marta

São disse...

Com gosto de te ver aqui ou lá em casa ou noutro lado qualquer, minha linda!

Fizeste muiissimo bem em trazer de novo o texto, que eu não conhecia e me agradou muito.

Um excelente fim de semana e com óptima companhia.

Carmo disse...

Olá Graça,excelente texto, valeu a pena tirá-lo da gaveta.
Beijinhos
Bom fim de semana

sérgio figueiredo disse...

As Teatrices, os teus ensaios que divagam, com as palavras, numa constante alegria da cor que lhes dás. São lidas, relidas, pensadas, actualizadas e prontas a enfrentar, novamente, a subida do pano de cena. Saudades.

bj...nho

Anónimo disse...

Quanta melancolia nessa casa... O mar lhe absorve os sentimentos...
Ouço Save the Prayer (Duran Duran), nessa fria tarde, em minha solidão...

Beijos, Graça.

Paulo disse...

Graça, querida, minha 'actriz' de eleição. Se o texto mantém as vírgulas da intenção, então fico feliz, não gostaria de te ver desfeita pela 'indiferença do mar'. Muito boa a tua escolha musical, que tento sempre ler com o ensaio, acredito que não escolhes por acaso. Será que estou errado :-)?


Beijo magnífico em ondas de saudade.

PJB

(Sempre teu.)

Alis disse...

Olá Graça,

…nem o mar seria indiferente a uma casa de s a l…
assim num cenário tão especial….
uma casa de sereia e marinheiro ou pescador de © o r a i s …
...
até a vegetação das dunas lavrou um jardim encantado…
….
e, nem vou dizer + nada…

… beijinhosssssssssssssssss

mundo azul disse...

_________________________________


Alguns castelos de sonhos, nem as mais violentas ondas da vida, conseguem destruir, pois eles estão aninhados no recôndito da alma...

Lindo o que você escreveu, Graça!


Beijos de luz e o meu carinho, SEMPRE!!! Saudades, sim...


______________________________

Branca disse...

Olá Gracinha,

Sempre os teus ensaios belíssimos e este que me diz tanto dos sonhos desfeitos e construídos, da beleza das dunas e do mar.
Há sempre novos sonhos para viver, novas casas para construir, novas vidas no caminho que fzemos até ao nosso crepúsculo e muitos azuis e ondas numa casa à beira mar.

Um Bom Domingo para ti.
Beijinhos

Doroni Hilgenberg disse...

Querida Graça

ao ler seu maravilhoso texto me veio a ideia: O mar também pode ser acolhedor e num abraço afetuoso acolhe a casa e os amores desfeitos.
Lembrei-me que em Caiobá,litoral do Paraná, existe uma casa solitária entre pedras e dunas, quase roubada pelo mar que nos causa estranheza provocando mistério e magia.
bjs

Canto da Boca disse...

Redivivo o texto e os sentimentos?
;

Mas é um belíssimo texto, ao término deu-me uma saudade das coisas que sei e das que eu não sei. Senti uma solidão acompanhada, das situações vividas e agora guardadas no cantinho mais querido do coração.

Um beijinho, Graça!

JOTA ENE ✔ disse...

ººº
Fizeste bem reeditar, e pq não? Quem manda aqui? TU (of course)

Bjooo e boa semana de trabalho ou de férias.

Sofá Amarelo disse...

Fundamental mesmo é acreditar nos alicerces, confiar na estrutura porque o que foi e que se continua a desejar com muita força jamais deixa de o ser... o tempo não é mais que um intervalo guardado nas memórias do silêncio...

AFRICA EM POESIA disse...

GRAça
Menina
Paraia castelos areia e sonho. fiquei no sonho senti-me feliz...


estes momentos acontecem porque há gente linda como tu...


um beijão

Braulio Pereira disse...

olá ternura

aen!! o mar
inspira-nos
faz-nos sonhar

lindo teu mar

beijos feliz verâo !!!

Nilson Barcelli disse...

Devo ter lido, mas já não me lembrava (a minha memória é péssima). Mas é um excelente texto. Sem dúvida alguma.
Querida Graça, boa semana.
Beijos.

amordemadrugada disse...

Graça! voltar ao teu blog e reler-te...é sempre tão bom!
Dás-me paz, sabias!?
;)
boa semanita amore!
besito doce em teu coração...
;)

Ana disse...

Ainda bem que o trouxeste!
Há coisas que a passagem do tempo não muda ... a poesia que se desprende das tuas palavras!

Um beijo, Graça *

vieira calado disse...

Uma elegante alegoria!

A casa...

o mar...

casam bem

nessas coisas!

Desejo-lhe boas férias!

Beijocas

AC disse...

Há sempre um recomeço, assim a reserva de sonhos o permita…
Texto muito belo!

Bj

margusta disse...

Querida Graça,

....ADOREI este magnifico texto !...

"Em cada divisão, guardaria um sonho... em cada porta marchetaria um ideal... abriria as janelas a cada novo dia... viveria longe do seu amor, é certo, mas nunca, nunca seria um castelo de areia desfeito pela indiferença do mar."

E...como gostei deste final...


Um beijo minha amiga!

Mar Arável disse...

Não conheço mares indiferentes

mesmo e sobretudo

os desgrenhados

Lindo texto de memória

Pensador disse...

Eu não li este post antes, mas revendo a data compreendi, ele foi publicado antes de eu conhecer seu blog.
Curiosamente, é o segundo post que leio hoje, falando sobre o mar. O segundo em um blog português.
Talvez seja mesmo o momento de deixar o vento estufar as velas, e ir conhecer a terra de meus antepassados.
Um beijo, Graça!

Lupussignatus disse...

da sustentabilidade

da

esperança


[alicerce
bem
fundo]


*beijo*

Anónimo disse...

Continuo por perto. Embora…cada vez mais silenciosa. Depois, perdi o tino de um lugar que pudera ser um “nico” para mim. Satisfaz-me, porém, que permaneças rodeada de gente que gosta de ti e que teime, diariamente, em mostrar-te esse querer. Por vezes, vejo essa tua gente em disputa da afectividade com que te guardam. Isso é bonito, minha querida Graça.
Tenho saudades. Não sei se isso é válido.
Boas férias.

rosa-branca disse...

Lindo!...porque sim...adoro lêr-te amiga. Saio de alma lavada e asas soltas ao vento... Beijo meu com muito carinho e admiração.

A.S. disse...

Querida Graça,

Na janela da casa, talvez já não se veja uma mão acenando à passagem dos barcos. Os minutos de uma espera, são por vezes a vida, mas ainda hoje existe o brilho de um olhar que não sucumbiu à passagem do tempo!
Os dias, esses continuam fulgurantemente azuis, alimentando os sonhos que ficaram suspensos em timidas teias...

Um beijo meu...
AL

Com ou Sem conclusões disse...

Lindo Graça! Lindo..
que fotos lindas posta tu aqui!
bjos

Unknown disse...

Gracinhamiga

Se Maomé não vai à montanha, neste caso ao montículo...

Mais um texto sensacional, que merece bem todos os cumentários, com o, aos quais humilimamente me junto.

«...viveria longe do seu amor, é certo, mas nunca, nunca seria um castelo de areia desfeito pela indiferença do mar». Gosto; gosto muito; gosto mesmo muitíssimo. A indiferença do mar é expressão verdadeiramente extraordinária

E prontos, sem s. E é tudo

Qjs

PS - Por incrível que pareça, lá a minha caverna ainda existe...

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Adorei o texto, todas as casas respiram, falam e guardam os sonhos de que nelas viveu.
Adorei, vou voltar mais vezes.

Beijinhos
Sonhadora

Whispers disse...

Minha querida,
Saudades de te ler,vim aqui me embalar nas tuas palavras e ouvir a musica que faz sonhar.

Desejo que tenhas um final de semana maravilhoso.

Mil beijos com carinho
Rachel

► JOTA ENE ◄ disse...

ººº
Bom Domingoooooooooo!!!

sérgio figueiredo disse...

Quando por aqui passo, gosto de bater a esta porta onde sou recebido pelas palavras... de ti.

Gosto do sentir o que por aqui já li e volto para reler. Elas, as palavras... de ti, não perdem a força, estão, ainda, mais brilhantes.

bj...nho

Cristina Fernandes disse...

Li e reli de tanto gostar da sequência de cada palavra. "A casa fora...roubada ao mar... nunca será um castelo de areia desfeito pela indiferença do mar..." - rendeu-me.
Beijo
Chris

Everson Russo disse...

Sonhos são sempre bons para serem vividos,,,construidos,,reconstruidos,,,acalentados...beijos querida de otimo final de semana.

Everson Russo disse...

Beijos de lindo final de semana pra ti querida.

C.R. disse...

Graça, com o tempo disponível, escrevia o que não pode ser posto, mas algo terá de o ser. Passo sempre ao lado do que leio, pois, assim evito todo o comentário sem fim. Ainda esta semana, comecei uma conversa rasgada sobre fado, realidade da qual não tirarei minimamente um qualquer interesse. Denominações de fado de Coimbra, de fado de Lisboa, de fado contemporâneo, de lundu ou modinha, das quais não consegui desprender uma rítmica comum, ou pelo menos esboços de uma tal genuinidade. Creio que mais uma vez passamos ao lado das canções menos expressivas, origens exóticas, sempre impessoais, mais apelativas. Creio que a omnipresença do nosso trovadorismo, sedentarismo e nostalgia me são suficientes para explicar as origens rítmicas do fado. Tenho colocado musicas que vou ouvindo enquanto pinto e desenho, talvez um dia exponha, depois de tanta oportunidade, quem sabe se isso ainda acontece. “Ensaio estranho”, como sempre vou dizendo, as interpretações são pela sua maior parte subentendidos, inconsequentes, impessoais, ou nem tanto. Quem cria, sabe o que se desprende no momento, ou vai extrapolando. O meu sentimento é de que a casa recorda meramente o mar, longe dele, muito além, tão longe que as paredes se formaram de sal, e os alicerces seguem o mastro. Entre a sedução, o chão líquido, invariavelmente se usava numa confusão com o frenesi, o desejo. Admirável iteração em tempos passados que volta ao presente da forma menos casual. Queria saber se o sublinhado é o que constitui separadamente o “ bolinar onírico”, “ um sonho”, “um ideal” ou ambos. Aprecio a ucronia do ponto divergente. Momento ubíquo, devendo justificar a indiferença. Beijo querida amiga.

Viver num intervalo, não, por favor! É um contratempo.

. intemporal . disse...

.

. .a.r.t.e.m.i.z.a. .

. A__R__T__E__M__I__Z__A .

.

. que,,, sendo de agosto a viragem da curva, é hoje a voz sempre audível que a.qui se e.t.e.r.n.i.z.a .

.

. um beijo avó . da graça .

.

. por ora, na nossa companhia .

.

Paulo disse...

Querida, minha tão querida Graça, como comentar o teu sentimento? Senti a tua saudade, como a minha, a falta que algumas pessoas que já partiram nos fazem não é dizível. Mas tu conseguiste emocionar-me com o teu ensaio. Lembro-me da tua avó. Uma Senhora. A tua Deusa.

Um abraço bem apertado, minha querida.

PJB

Lídia Borges disse...

Graça, ainda que tenhas optado por "descartar" os comentários (eu entendo) hoje, depois de ler o teu "Ensaio à minha Deusa" não resisti a esta vontade de te dizer que estou absolutamente rendida à tua capacidade de colocar no papel os sentimentos mais profundos. Este texto emocionou-me...

És uma pessoa muito bonita!

Um beijo

RENATA CORDEIRO disse...

Olá, minha querida amiga!
Vim deixar um beijinho enorme e um abraço cheio de carinho!

"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".
Fernando Pessoa.

Beijos, Graça*
Renata

Pensador disse...

Apenas passei para deixar-lhe um beijo e votos de uma boa semana.

São disse...

Que a tua avó esteja na luz, minha querida.

Se Krono te atender , pedir-lhe-ei qua aqpague Dezembro...ou que me deix hibernar.

Um abraço, linda.

Nilson Barcelli disse...

O "ensaio à minha deusa" é impressionante.
Querida Graça, boas férias.
Beijos.

lupuscanissignatus disse...

sabe bem

ler.te


[sem
reticências]


*obrigado*
*boas férias*

Sofá Amarelo disse...

Tudo converge na divergência dos intervalos e dos ensaios que a Vida ensaia e transforma em pontos de fuga que não são mais que o repetir das cenas... porque o sonho pode ser itinerante mas o palco da Vida não se pode desgastar nas manhãs cinzentas...

vieira calado disse...

Que graça!

Quase não a reconhecia nesse novo visual...

Bjs

Unknown disse...

Só para deixar aqui um beijo de boas férias e dizer que volto sempre com prazer.

Beijo, Graça

Poemas de Amor e Graça disse...

Como Pégasus
(encantado seguidor)
voarei sempre do Rio de Janeiro
para chegar
ao Maravilhoso Palco
deste blog.
APLAUSOS
Jo®ge pisciano
ÁS de AMOR
http://jorgedasneves.com

Ana disse...

Que belas coisas te ensinou a tua Deusa Artemiza! E que bem as aprendeste!

Emocionou-me o teu ensaio. Também eu sinto a falta da minha Deusa e gostava de lho dizer com palavras belas como as tuas!
Um beijo, e boas férias, Graça *