Intervalo [pela verdade...]


[Teresa Ribeiro]


"Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei. Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!"


[Almada Negreiros]


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... porque nunca escrevi, neste meu palco, sobre a minha Mãe... e, hoje, sempre, preciso da sua mão na minha cabeça...

21 comentários:

Branca disse...

Obrigada querida Graça por este belíssimo texto, tão terno, tão verdade!

Parece que hoje não foste só tu que precisaste da mão da mãe na tua cabeça, :))


Um bom dia da mãe.
Beijinhos.
Branca

RENATA CORDEIRO disse...

Bom Dia, querida! Lindas e comoventes palavras que toma emprestadas para louvar a Mãe. Parabéns!
Nós nos entendemos há muito. E não por pouco. Retirei o que havia publicado porque não acreditam em mim. Então, aquela postagem, em que estou suspensa vai ficar por tempo indeterminado. Estive, estou aqui. Sei que me entende.
Beijosssssssssssssss


Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de Sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Alberto Caeiro

Em o guardador de rebanhos


Felicidades
Até não sei quando.
Renata

Vivian disse...

...a mão da mamãe em minha
cabeça é bálsamo para curar
todas as dores.

o colo da mamãe sempre foi
o aconchego macio onde posso
deitar todas as minhas dores.

o olhar da mamãe me seguindo
pela estrada, é farol iluminando
meus passos.

a voz da mamãe em meus ouvidos
é sinfonia embalando meu sono.

feliz dia da mães a todas as
mamães desta terra luzitana.

beijo, Graça querida linda!

Marta Vinhais disse...

Nem sempre é fácil escrever sobre as nossas Mães...
Precisamos sempre da mão delas nas nossas cabeças...
No meu caso, é ela quem precisa de ter a minha mão na cabeça dela...Nem sempre sabe que sou eu...
Beijos e abraços
Marta

P.S.: Adoro o Bolero de Ravel....
Obrigada

Lídia Borges disse...

Um texto que se estende pela pele e nos vai silenciando porque uma mão de Mãe sobre a nossa cabeça é uma fonte de histórias bonitas que nem precisam de ser contadas.

Tem um dia muito Feliz!

José Carlos Brandão disse...

Que lindo, Graça! As viagens que não viajei, só para a mãe. Ah, minha mãe, se soubesses das viagens que não viajei... Mas é como se soubesses, e me consolas, e te alegras comigo.
Um beijo, amiga.

MCampos disse...

Uma escolha magnífica para este dia de todas as Mães. Ressalto as suas últimas palavras, porque sempre necessitamos dessa mão na nossa cabeça. Gosto da sua sensibilidade, Graça!

Um beijinho e obrigada por tudo.

Com ou Sem conclusões disse...

Lindo! Amei ler isso!
Pois foi a minha mãe, a única, q esteve completamente comigo quando eu adoeci... Amei.

bjos

Cristina Fernandes disse...

Palavras sentidas rodopiando ao som deste bolero... é um en-canto passar por aqui...
Um beijo
Chris

Zélia Guardiano disse...

Lindo, lindo, lindo, Graça! Senti-me tua mãe, de tão emocionada...

Beijos

Whispers disse...

Querida Graça
E de certeza ela veio
e com carinho deitou a mão na tua cabeça.porque mãe esta sempre junto de nós, mesmo quando elas partem.

Querida, eu também tenho andado um tanto sumida, mas toda a vez que posso venho ler as tuas palavras, porque em teu palco eu encontro momentos de boa leitura
Desejo que tua semana seja de amor e paz
Mil beijos
Rachel

rosa-branca disse...

Olá querida Graça, retraio-me um pouco sobre os comentários anteriores, pois nunca senti essa mão. Não a tive. Agarro-me pois ao presente, pois tenho duas mãos para pôr sobre a cabeça dos meus filhos. Impressionante a capacidade de darmos o que não recebemos. Adorei tão lindas palavras que nos deixaste, mas ainda hoje fico com nó na garganta ao ler a palavra mãe. Beijos querida amiga

sideny disse...

Graça

Belo post para a sua mâe.

Desejo-lhe uma boa semana

e um beijinho.

São disse...

É um dos textos de Almada que me agradam muito: o outro é o da criança quando desenha uma flor.

Adoro "Bolero" e há um par que o dançou no gelo de uma forma magnífica, pelo que ganhou a medalha de ouro nessa competição.

Uma feliz semana, Gracinha.

Paulo disse...

Uma escolha intemporal, do grande Almada. Falas pouco da tua Mãe, neste teu palco, mas será necessário? Vê-se nesta bonita homenagem que não. A verdade não tem de ser apregoada.

Minha querida, o teu beijo magnífico, como uma mão na tua cabeça (Sinto uma certa tristeza?)

PJB

f@ disse...

Olá Graça,
beijinho e obrigada pelo momento em que as festinhas da mãe nos nossos cabelos nos fazem ter 4 anos...
...
"Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!"

...
o Almada Negreiros sabia as cores dos afectos maiores...

há uma pintura dele que eu tentei só pelo sabor do talento dele nos afectos... mas é impossivel tal é para sempre a cor e o traço de céu...

...

este poste é um espanto...

!nfinito beijinho e desculpas pela ausência

Pensador disse...

Quem disser que prescinde de um afago de mãe na cabeça, é insensível ou mentiroso...
Beijos, Graça!

A.S. disse...

Querida Graça,

A mão da Mãe sobre a nossa cabeça é a sensação única de sentir, mesmo que levemente, fomos tocados pelo sorriso de Deus...


O meu beijO
AL

maresia disse...

lindíssimo Graça!
E sim, precisamos sempre da mão amiga das nossas mães..na cabeça, na nossa propria mão...aquele calor diferente de tds os outros!
Um abracito kerida
forte pk sei que precisas neste momento
i feel it
;)

Nilson Barcelli disse...

Este texto é tão bonito. Gostei imenso (não conhecia ou esqueci-me dele...).
Não há mão que substitua a da mãe na cabeça...
Querida Graça, uma boa semana.
Beijo.

Sofá Amarelo disse...

Neste palco de todos os dias uma mão especial sobre as nossas cabeças pode produzir milagres e transformar gritos surdos em palavras ditas!!!