Ensaio narrado [no silêncio]...

[Luís]


Sempre gostara do silêncio. Respeitava-o incondicionalmente. Ouvi-lo era, tantas vezes, o apaziguar do seu preenchido mundo de palavras. Gostava do silêncio após a tempestade, quando a Natureza, depois de chorada a ausência e gritado o vazio, repunha a sua energia, na quietude do verde murmurante. Gostava do silêncio inquietador da cidade, quando o calar da noite abarcava as estrelas num dormir apressado. Gostava, essencialmente, do silêncio da casa, que gotejava ainda sussurros de emoções e se reflectia, ao amanhecer, no abraço daquele olhar esverdeado.
Sempre gostara de silêncios, mas nunca compreendera o silêncio de uma não-resposta. Por isso, naquele dia, decidira embrulhar todas as perguntas ignoradas, todas as palavras falhadas, as mensagens não entendidas, o canal destruído, o referente descontextualizado, o emissor solitário, o receptor inerte. Envolveu toda a falta de comunicação, num papel pardo de certeza. Chegou determinada ao cais edificado pela razão. Lançou o pesado embrulho no primeiro barco errante que encontrou. Ancorada na tristeza, viu-o partir. Silenciosamente. E desfez o cansaço na espuma sonora das areias.

35 comentários:

RENATA CORDEIRO disse...

Belo!
"Ancorada na tristeza, viu-o partir. Silenciosamente. E desfez o cansaço na espuma sonora das areias"
Beijos
Renata

Daniel Costa disse...

Graça

Gosto do género de prosa que trazes, dá-me uma idéia de "short story", que adoro.
Sei que gostas mais do verde minho, mas tenho a ousadia de te convidar a dares uma passagem por Lisboa, na minha década de sessenta. Está em mundo e vida.
Beijos
Daniel

Braulio Pereira disse...

olá querida.
ainda que triste..
um silencio ido..
o renascer hesiste..
tudo é belo e lindo..


doce beijo ternura..

Laurita disse...

Olá querida Graça, que bom seria se pudesse fazer um embrulho de todas as máguas e deitar ao mar. Eu teria que fazer vários pois só um não posso com ele. Mas por outro lado é bom quando se consegue fazer. Te entendo muito bem querida Graça. Beijócas passa pelo meu canto e vais saír mais animada.

. intemporal . disse...

. bel.íssimo, Graça .

. deste silêncio de mil vozes .

. da alma que se escuta em surdina .

. o teu beijo de hoje,,, .

. um bom fim de semana .



. paulo .

Carlos Gonçalves disse...

Um ensaio narrado (vivido?) no desencanto e na desilusão. Como eu te compreendo, Graça!

Um doce beijo, no teu fim de semana.

Carlos

Laurita disse...

Graçinha querida, passa pelo ascoisasdalaurinh.blogspot.com e vais ver os olhos da minha filhóta. Ela fez 22 anos a 29 de Novembro e eu postei algumas fotos. Vais ver o que me tem dado força para enfrentar a vida. Beijócas doçura

Mar Arável disse...

Alguns barcos transportam

mágoas e regressam

mais leves

se sonhados como merecem

BJ

São disse...

Segundo um filósofo cristão sueco o maior mutismo não é o silêncio, mas sim a palavra...

Para ti e para os teus, um excelente fim de semana.

A.S. disse...

Graça,

Sábio é o silêncio que escuta o nosso som e diz ao vento que não há tempestades.
Cansado à escuta da noite, o teu silêncio tem a minha companhia...

Um beijo!

sou...serei? disse...

O "silêncio" tantas vezes, todos os dias, é tão precioso para o nosso descanso.
O incansável murmúrio do dizer que sim e que não "confunde" a dada altura, o real com o irreal. Esgota-se a capacidade para um captar de tantas palavras.

Não posso deixar de dar os parabéns ao autor da foto.

Graça,
o meu bj...nho

Vivian disse...

...quanto nos diz o silêncio!!

Graça, eu adoro você!

beijinhos, linda!

Marta Vinhais disse...

O silêncio das não-respostas é o mais pesado de todos...
Nem se desfaz....Magoa profundamente...
Uma beleza de texto...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Lídia Borges disse...

Boa noite Graça!

Há silêncios tão absurdos que não permitem sossego pelo ruído que causam, na alma.
Porém, nem sempre chegar a esse cais edificado pela razão é o melhor. Sobretudo se ficarmos, assim "ancorados na tristeza".

A razão sempre a estender a sua capa de superioridade sobre os desejos, as emoções, os sentimentos...
Nem sempre podemos dar razão à razão.

Um beijo

Nilson Barcelli disse...

Há tantas maneiras de acabar com o silêncio... mas a tua criatividade descoriu mais uma: afogar o silêncio.
Resta saber se ele sabe nadar...
Querida amiga, gostei imenso do teu texto, embora ele revele alguma mágoa.
Bom fim de semana, beijos.

mixtu disse...

os silencios que juntos formam um silencio...

pesado embrulho...

curioso que um cantaro vazio é o que faz mais eco...

quando cheio... silencios...

acontece, igualmente com as pessoas

abrazo serrano y europeo

margusta disse...

Querida Graça,

...vivi o teu texto ao ler-te. Vi-me reflectida em cada palavra, como se o tivesse escrito...

O silêncio da não-resposta , é ENSURDECEDOR , "MATA" , Destrói a Alma!...

No ar fica sempre a pergunta, Porquê, mas Porquê?

Não, não me venham com palavras bonitas, com frases poéticas, porque para mim o silêncio da não resposta não tem desculpa... Sabe a desprezo!... No prazer em fazer sofrer o outro, na cobardia em dar a resposta seja ela qual for...

Por vezes a resposta ou respostas chegam...tarde, tão tarde, que já nada nos devolve á vida...

Perdoa, divagar neste teu espaço.

O teu texto, FANTÁSTICO como sempre!... E esta foto do Luís está um sonho!

Querida Graça, deixo-te um beijo de carinho, e desejo que o teu fim de semana seja EXCELENTE!

Margusta

margusta disse...

Querida Graça,

...vivi o teu texto ao ler-te. Vi-me reflectida em cada palavra, como se o tivesse escrito...

O silêncio da não-resposta , é ENSURDECEDOR , "MATA" , Destrói a Alma!...

No ar fica sempre a pergunta, Porquê, mas Porquê?

Não, não me venham com palavras bonitas, com frases poéticas, porque para mim o silêncio da não resposta não tem desculpa... Sabe a desprezo!... No prazer em fazer sofrer o outro, na cobardia em dar a resposta seja ela qual for...

Por vezes a resposta ou respostas chegam...tarde, tão tarde, que já nada nos devolve á vida...

Perdoa, divagar neste teu espaço.

O teu texto, FANTÁSTICO como sempre!... E esta foto do Luís está um sonho!

Querida Graça, deixo-te um beijo de carinho, e desejo que o teu fim de semana seja EXCELENTE!

Margusta

sideny disse...

Linda foto.

Bom fim de semana

beijinhos

KrystalDiVerso disse...

Silêncio!... Há olhares silenciosos resignados; rendidos ao poder do que não se quer ouvir, do que não nos dizem... daquele murmúrio que se vislumbra por aí... silencioso. Como o rasto de uma serpente de luz que não silva, que se grada em ondas fechadas de silêncio. A ressonância do silêncio chega a ser perturbante por sua tão silenciosa capacidade de prolongamento que... nos cala! Ás vezes nos ensurdece!


Bom Fim de semana


Escolha entre... beijos e abraços

Carlos Gonçalves disse...

Graça, um fim de semana belo, cheio dos silêncios da chuva, que gostas, no afastar daqueles que te perturbam o ser...

Um beijo doce para ti.

Carlos

sentindo.TE disse...

belíssimo... senti o teu silêncio em mim...

Maria Emília disse...

A esses falsos silêncios, Graça, abro a janela do tempo e digo fora:
cobardia, arrogância, insegurança, preconceitos, rídiculo, insucessos, angústias.
Quero mostram-me como sou, sem ter medo do medo dos outros.
Um grande beijinho,
Maria Emília

Maria Emília Pires disse...

A Anima Mundi convida-a para o seu palco. Não quer der uma vista de olhos ao nosso novo blog?
Um grande beijinho,
Maria Emília

Everson Russod disse...

O silencio nos aguça a alma, nos faz refletir, sonhar, perceber melhor as coisas, ter paz...beijos querida e um lindo final de semana pra ti....

O Profeta disse...

"ventura.armando@hotmail.com"

(msm)


Doce beijo

Paulo disse...

Minha querida Graça, gosto dos silêncios, do silêncio, de palavras, da tua escrita (muito "short story" sim), do teu palco, de ti.

E fico feliz por já não estares cansada :). Nada como uma boa espuma das areias :).

Beijo magnífico em ti.

PJB

Daniel Costa disse...

Graça

O mundo é pequeno, nos anos sessenta desci e subi inúmeras vezes vezes a Calç. do Monte (aguns dias 3 X). Possivel vi o teu pai, fui muitas vezes à Mexicana. Conversei muitas vezes, terei sido amigo, dum empregado da Casa, falávamos dos Liceus, andávamos a frequentar, liceus particulares, havia interesses comuns, sei que era de Tinalhas (Castelo Branco).
Trabalhei, já em 69 na Rua de Santa Marta, União Gráfica), Terei experimentado os restaurantes todos da Rua.
Adoro Lisboa, Casei e vim morar para Benfica. Por menos 300$ (então muito dinheiro) não quis ir morar para Amadora ou Queluz, o que estava a dar em 67, também mais fácil.
Havia um mas, não era Lisboa! Vi logo que andei certo, hoje certíssimo.
Evidentemente que conheci bem o Alto Pina.
Não convido a veres "Lisboa Café", foi publicado no Jornal da Amadora, em capítulos e está à espera que lhe dê um arranjo, para tentar edição em livro, tem os meus primeiros 10 anos de Lisboa, através dos meus 10 empregos.
Beijos
Daniel

Pensador disse...

E o silêncio, em suas várias formas, permeando e muitas vezes incomodando em nossas vidas todas...
Lindo texto, Graça!
Beijos, e boa semana!

Ianê Mello disse...

Graça,

fico feliz por sua visita em meu blog e espero sua volta.

Muito bela sua forma de construir as palavras.

Beijo grande.

isabel mendes ferreira disse...

a espuma dos dias re.contada na mestria de uma emoção depurada.

Branca disse...

Graça,

Não tendo comentado este post primeiro por falta de disponibiliddae e depois porque como sabes não estive por aqui uns dias, volto atràs porque agora ao lê-lo senti que foi um dos mais bonitos posts que fizeste e tocou-me muito.
Tens um extraordinário poder de comunicação e a mensage que aqui deixas é excepcional.
Obrigada.
Beijinhos

lupuscanissignatus disse...

sonora

casa


[a do
silêncio]



*beijo*

José Leite disse...

Graça,

Que o Natal traga tudo de bom para si e para os seus.

FELIZ NATAL

Mika disse...

Esta quadra continua farta no mote do "silêncio" e da solidão. Curiosa este momento de festa que ao mesmo tempo se mostra nos contrastes...
O gerir silêncios quando se depende de respostas, sobretudo as não ditas, provoca essa vontade de deitar fora ou "lançar ao mar" o fardo do não ouvido.

O texto é saboroso e pleno de vontade extrema de resolução interior. Afinal o ponto de dor é sempre dinâmico...e ainda bem.

Vogarei de novo por aqui.

Abraço para 2010

Miguel