Um elo quebrado...

(foto de Luiz)

Gosto de escrever. Brincar com as palavras, numa quase infantilidade de quem descobre, a cada instante, uma nova utilização para o seu brinquedo. Gosto de respeitar o seu poder e vesti-las de novas roupagens semânticas. Gosto de observar o papel branco que desafia, num acto provocatório, ao preenchimento alinhado de frases nem sempre de sintaxe perfeita e desejável.

Gosto de escrever. Particularmente, texto dramático. Esse texto estranho que existe só por si, amargurado, talvez... numa ânsia imensa de passar a Teatro! Só no palco, o texto dramático cumprirá o seu destino... só nesse momento único de encontro com o público se completará o ciclo da sua existência...

No entanto, hoje, tenho dificuldade em redigir. Não me apetecem ensaios. Nem representações gráficas.

Durante todo o dia, pairou sobre mim uma nuvem pesada e cinzenta. Daquelas que, quando olhamos, anunciam o desabar de uma torrente de água. Daquelas que proclamam, num silêncio opressor, a descarga de toda a energia natural, raiada de sentimentos humanos.

O meu dia reclamava uma despedida. Do meu elenco, sairia o pilar fundador da minha actividade docente. Evitei cruzar olhares. Agrilhoei sentimentos que urgia pronunciar. Fugi da banalidade de um adeus...

Se hoje me obrigassem a escrever uma peça, as personagens seriam todas grilhões de uma corrente forte. Cada elo, orgulhosamente seguro nessa irmandade do todo. O cenário mostraria a aprendizagem personificada num sorriso sempre compreensivo. A acção apresentaria o desenrolar de tantos momentos de vida partilhados, num acto único. (e a nuvem deixaria transparecer um raio de Sol!)

Mas não me apetece escrever. Não quero sentir a dureza do quebrar de um elo da corrente...

Também não me apeteceu dizer adeus... disse "até amanhã"... e marquei encontro, para todos os dias, no sítio do costume... dentro do meu coração!

13 comentários:

Cláudia I, Vetter disse...

"(...) Reascende em mim o amor, a amizade renasce, Logo desperta a dor, repete-se a dolência Do curso complicado e duro da existência. (...)" (Goethe)


Mais um dia, mais uma vez.

;)

Bela foto do Conde! =)

Conde Vlad Drakuléa disse...

Querida Graça! Fico muito honrado pela minha humilde photo ali estar, abrindo este texto tão denso, tão forte! Eu te peço escreve, como Dom Quixote não desista, escreva, lute quando é fácil ceder, jamais deixe de tentar alcançar a impossível estrela! Se a situação está negra, ouse acreditar que amanhã não estará, és necessária, moves uma engrenagem, todo um mundo próprio... O mundo do teatro, do pensamento tornado realidade, que texto fantástico escreves-tes aqui.... Fico muito emocionado com minha phot tão bem colocada aqui, e muito honrado também, te deixo beijocas, e a Iara Vetter, minha querida amiga aí de cima é uma grande poetisa, vale a pena conhecer seus textos únicos...
Beijos preciosa Graça! E mantenha o bom humor e continue escrevendo, sempre... Até...

Conde Vlad Drakuléa disse...

Puxa, é a primeira vez que alguém importante gosta de algo que eu fiz, estou até chorando um pouco de felicidade :)

Beijos ensopados :DDDDD

Conde Vlad Drakuléa disse...

Não quis dizer que a Cláudia não é importante, nem todos os meus outros amigos, mas é que me deste uma atenção especial, te agradeço muito porisso...

Anónimo disse...

Minha querida amiga,

percebo, pelas tuas palavras, que tens algo que te entristece. não dês demasiada importância. amnhã os raios romperão por essa nuvem.

Bjo
PJB

(Não fujas para a Roménia...:))

RENATA CORDEIRO disse...

Graça:
Acho que justamente porque vc disse que eu não precisava chamar, deve ter habido algum imprevisto porque vc não veio à hora de sempre.
Bj,
Renata

RENATA CORDEIRO disse...

Graça:
Mesmo no sábado estou fazendo postagem. Aparelça lá mais tarde, porque daqui a pouco vou almoçar e ainda quero publicar o soneto de Shakespeare.
Beijos,
Renata

C.R. disse...

Um lindo fim de semana , apesar do frio e o quanto mais for… como por aqui é tão habitual, o melhor local é mesmo a lareira, mas enfim, a vida continua. A Rê ainda não mergulhou? Por aqui a desagregação social continua, e ninguém se move, vamos vivendo numa vida de “faz de conta”, e tudo continua no melhor dos mundos, mesmo que rebente pelas costuras. Há que arranjar forças para cada dia que passa. Pensando bem, creio que é mesmo a minha hora de corrida todas as manhãs que me dá a maior das sensações. Vou pensar no porque, logo nos encontremos por estas correrias.

Beijo sereno querida amiga.

Nilson Barcelli disse...

Mesmo sem assunto e sem vontade de escrever acabaste por escrever um belíssimo texto.
Eu gostei, como sempre, aliás.
Bom fim de semana.
Beijinhos.

Nilson Barcelli disse...

Mesmo sem assunto e sem vontade de escrever acabaste por escrever um belíssimo texto.
Eu gostei, como sempre, aliás.
Bom fim de semana.
Beijinhos.

RENATA CORDEIRO disse...

Graça:
Postei sobre o filme A Massai Branca no Galeria e publiquei várias coisas no Poemas e Canções. Dê um pulo lá.
Um abraço,
Renata

Anónimo disse...

...num céu, cada vez mais, desnudado de estrelas e de sorrisos amplos e francos. Vou ter saudade do sorriso que nunca mais brilhará do lado de lá...

Beijos

Emília disse...

Pensei que aquele era o momento de ver a tal pérola rolar mas... sorrateiramente não disseste "adeus", embora não passasses (nunca passas) despercebida.
Também como professora foste "aprendiz-esponja" e com toda a tua perspicácia natural, cresceste muito mais em maturidade do que em idade e superaste muitas vezes os teus elos.
"Não há longe nem distância" e tudo distará sempre o tempo de um pensamento avaliando-se-lhe a lonjura em sentimento.
Beijo
Emília