Ensaio sobre a pressa (o verdadeiro)...

(foto de GMV)

Ocasionalmente, por muito que goste do meu palco, surge em mim uma vontade imensa de me retirar da "companhia", de não querer mais fazer parte do "elenco".

Vagueio, então, parceira única de mim, por aí. Sem pressa. Espraio-me no asfalto em busca do mar. Nunca soube explicar a atracção que o mar tem... um mar de Outono, liberto de gente, vazio de cores que não reclama. Um mar murmurante que me chama, azul da imponência que repousa na areia deserta.

Lá, onde o Oceano se junta ao Céu, sinto o tempo parar, nessa linha do horizonte por definir. É belo o mar... soltando bramidos de revolta interior... dispersando sentimentos pela espuma das pequenas vagas.

Por vezes, gosto de me sentir pequena no enfrentar da imensidão da água, na consciência do infinito do céu. Vagarosamente, fui ver o mar.

Não sei se o tempo reclamou... nem se alguém me procurou. Ali, na dança das ondas, desapareci o tempo necessário para repor a minha energia, para arrumar as minhas ideias, para explicar os meus sentimentos.

Recuperei-me. Sem pressa. Na sinestesia dos sons saboreados, das cores tacteadas, dos aromas sussurrados a maresia. Devagar, bem devagar, soltei os meus sentidos. Junto ao mar.

Agora escrevo, sem pretensões... só porque sim! E como diria o grande Lobo Antunes, porque "sou feito destas patetices que me desfiguram o perfil".

Amanhã regresso ao palco.

17 comentários:

anjo disse...

GMV,

Não irei dizer quase nada!
Apenas agradeço MUITO a simpatia de uns versos meus fazerem parte do teu sítio.
Muito obrigado!!!

RENATA CORDEIRO disse...

Amiga, não agüento comentar, estou com a bunda quadrada.
Publiquei no Blog Galeria sobre 3 versões cinematográficas de Romeu e Julieta: 36, 68, 96. Depois dê uma passadinha no meu outro Blog onde publico sonetos de Shakespeare e outras obras do bardo, como vc sabe.
Um abraço,
Renata

Anónimo disse...

Ainda hoje estive naquele mar. Vi a rocha, cheirei o vento, vi os barcos e as aves marinhas. O céu misturava-se com o mar. Tudo era cinzento.
Agora estou de volta e a cidade também se apresentou cinzenta.
Porque não vens ver o mar comigo?

Beijos gooooordos e saudosos

Anónimo disse...

Sem pressa li-te. E não encontrei nada que te desfigure o perfil.

Bjo amiga.
PJB

RENATA CORDEIRO disse...

Amiga:
Pensei ter deixado aqui um recado há horas dizendo-lhe que publiquei no Galeria sobre 3 versões cinematográficas de Romeu e Julieta e no Poemas e Canções mais um soneto de Shakespeare. Vá lá, amiga.
Beijos,
Renata

RENATA CORDEIRO disse...

Por favor, Graça, vá ao Galeria também, porque não quero fechá-lo.
Renata

Nilson Barcelli disse...

Todos sabemos, incluindo o Lobo Antunes, que "essas patetices" não desfiguram o perfil. Antes pelo contrário, conferem-lhe uma dimensão humana que é até mais difícil de conseguir por outras vias...
Ou seja, a cada "patetice" que leio tua fico a gostar ainda mais de te ler....
O mar também exerce em mim uma espécie de equilíbrio interior. Principalmente no Inverno, quando a ondulação é mais cavada.
Beijinhos.

RENATA CORDEIRO disse...

Graça:
Postei A Princesa Prometida, O ABC dos Sonetos, verbete Beleza e o Soneto VII de Shakespeare.
Vá lá me dar uma força.
Um beijo,
Renata.

O Profeta disse...

Lá onde o Oceano se junta ao céu...é o lugar onde repousa a tua luminoza alma...


Doce beijo

Anónimo disse...

A pressa é filha do Tempo e o Tempo nasceu com o Espaço... E nesse tempo sem pressa, deu-se espaço ao crescimento numa harmonia perfeita sem incluir medições. No tempo, neste nosso espaço, nascem antropomorfismos que quebram a perfeição, roubam tempo de introspecção e inventam logradas vertentes de avaliação...
Encontrar o equilíbrio é o refúgio premente que permite salvaguardar a nossa capacidade de sentir nosso, o nosso Tempo.
Já (sem tempo não existia..)era tempo de te ler sem pressa, porque ler, também regenera!

Beijo
Emília

RENATA CORDEIRO disse...

Graça, acabei de fazer um post sobre um filme no Poemas e Canções.
Dá uma olhadinha, dá.
beijos,
Renata

São disse...

Gostei muito da foto e do texto.
Quanto a Lobo Antunes acho-o completamente intragável como pessoa e como escriba.
Fique bem.

RENATA CORDEIRO disse...

Graça, traduzi o soneto VIII, vc não viu? È que foi de manhã, depois fui fazendo muita coisa, o filme o Mercador de Veneza, cuja resenha fiz, é também muito bom. volte para lá, vc é a minha melhor leitora dos sonetos.
Bjs,

Conde Vlad Drakuléa disse...

Flap!Flap!Flap! Morceguinho simpático pousando...

Mas eu nunca vi uma portuguêsa que não sentisse atração pelo mar, está no sangue de vocês, afinal Portugal sempre mandou na Terra até Elizabeth I começar a roubar os navios portuguêses com seus bucaneiros e piratas pagos... Vários viveram suas vidas inteiras no mar, em navios apertados, sem banho nem perfumes, apenas pelo prazer de estar no mar...
Ele ofereçe toda a calma e beleza das mais puras em toda a Terra...
"Parece que a vida vem em ondas, sinto que o amor pode ir e voltar, não com a mesma intensidade... mas com uma única peculiaridade : como do mar são as ondas "

Beijos do conde Vlad, voei, Flap!Flap!Flap!

C.R. disse...

A pressa, que trocamos e combinamos, deixou-me a ler, a ouvir, e como fico sem pensar, “going nowhere” , um beijo sereno para ti. O segredo, tenho uma das historias que fazem parte da minha costela judaica que resumo por “o segredo só o é se for partilhado”.

O Profeta disse...

Sou palavra perdida no silêncio
Gerada no ventre do Mar
Grinalda de perdidos sonhos
O passado do verbo amar

Amei!
Voar na chegada de cada Primavera
Pintar de luz as cores do verão
Pisei o tapete das folhas de Outono
Acendi em cada inverno uma fogueira de paixão


Convido-te ao encontro com o meu “Eu”


Mágico beijo

RENATA CORDEIRO disse...

Querida Graça:
Hj publiquei muitas coisas, nem consigo levantar-me da cadeira. Não deixe de ir, amiga.
Beijos, Renata