Ensaio sobre distâncias...

(Penhas da Saúde - foto de Marina)

Numa acepção simples, quanto dista o longe? A distância utiliza que medida de longitude? Quando se está longe, onde se permanece?

Imaginemo-nos em cima de um palco... a sala de espectáculo cheia, como convém. Observemos a sala. Convencionou-se, sabe-se lá porquê, que a distribuição dos lugares por um espaço de assistência devia obedecer a critérios bem definidos. O do valor monetário. Vejamos. Camarotes, os mais caros! Galeria (se ainda existe), os lugares mais baratos. Ainda num plano superior, o balcão, por vezes dividido entre primeiro e segundo, a preços mais ou menos. Finalmente, a plateia. Ali tão perto, mas não acessível a todas as bolsas.

Transpondo metaforicamente o palco para a nossa simples existência, vivemos numa sala cheia de pessoas, que ocupam os seus lugares da Galeria à Plateia. Serão os mais importantes aqueles que nos observam do Camarote? No entanto, quantas vezes, em dia de espectáculo, os camarotes estão vazios? E na Plateia? Não será nesse espaço tão exposto que os aplausos parecem forjados, com pouco entusiasmo, diria eu? E nessa sacada saliente, com vista privilegiada que é o Balcão, estarão os mais interessados na nossa vida?

Na medida da distância, quem está mais longe são os que ocupam a Galeria. Tantas vezes, os únicos que incentivam, sem pudores, a representação; os que apupam sem receio; os que aplaudem de pé (até porque daí só se vê bem de pé!).

Numa interpretação simples, as pessoas que estão mais perto de nós serão as mais importantes? Não sentiremos a sua obrigação, de lugar mais caro, de apaludir só por aplaudir? Que dizer dos que se resignam à distância? Não viverão, sem qualquer interesse, a clamar pelo nosso sucesso?

No palco, como na vida, não há longe, nem espaço para distâncias... há pessoas que nos transmitem o seu crer da forma mais simples: estando!

10 comentários:

Vivian disse...

...no palco como na vida, o que realmente conta não é a distância
física e sim o elo de vibrações
reciprocas entre ator e platéia.

você é maravilhosa em seus
posts!!

bjus, linda!

Mike disse...

Excelente texto/ensaio.

C.R. disse...

Querida amiga,

A distancia, sabe que a relativizo sempre, havendo como na comunicação dois interlocutores, a distancia em si depende da arte do espectador, da relação entre ambos, da ambivalência, da permanência da intensidade que estabelecem… Eclipses, são momentos de ruptura, sempre inexoráveis. Um baixar de pestanas é como uma mão que passa no cabelo, uma expressão de desejo implícito. Passe lá os dedos pelo cabelo.

Beijo sereno , e excelente semana.

P.S.: creio que por lapso, e depois de ter escrito um trabalho em inglês coloquei um post onde utilizei o vulgar “tu” que em inglês seria um neutro “you”, e agora que comecei com as minhas aulas de Árabe, vejo que é o mesmo.

Nilson Barcelli disse...

No palco da vida, os actores e os espectadores, que trocam de papéis ininterruptamente, as distâncias ainda são mais complexas, já que o palco, os camorotes, as plateias e demais localizações têm uma organização tendencialmente caótica.
E é no meio desse caos, que tentamos organizar diariamente, que "há pessoas que nos transmitem o seu crer da forma mais simples: estando!".

Mais um excelente post cara amiga.
Tal como o anterior, que não tive tempo de comentar...

Beijinhos.

RENATA CORDEIRO disse...

Graça:
Preciso que você vá com urgência ao meu Blog e ponha um comentário no meu novo post.
Renata

Anónimo disse...

É nestes momentos que fico sem saber quanto mede a nossa distância. Gosto tanto de te ler.
um beijo
PJB

Anónimo disse...

Na sala de espectáculo há paredes... na vida não. Nem há ponto. O perto e o longe confundem-se. A distância é daqui para ali. Na vida, o longe é longe. E o perto é mesmo aqui. Na vida, tal como no teatro, as distâncias esbatem-se no horizonte das palavras. Nos afectos. Na emoção. Na cumplicidade.Nas palmas, quando genuínas.

SP disse...

como gosto deste lugar da fotografia e da forma como (d)escreves as coisas e os olhares!!

muitosssssssssssssss bjinhos por todo tempo que estive sem passar pelo teu sítio...

Sunshine disse...

Olá!!

os teus ensaios são sempre tão objectivos e directos, gosto muito de os ler ressaltam as incomgruências que tantas vezes nos deparamos na vida.

... não há longe nem distância ... é verdade e na minha opinião estão sempre mais perto os que aplaudem e incentivam, ou mesmo apupam, lá longe, do que estão os sentados no camarote ...

Uns vivem o momento ... outros estão lá no momento ...

Bjinho ... as lágrimas secaram... obrigado pelas palavras :)

RENATA CORDEIRO disse...

Distância?
Sinto-me muito mais perto de você do que muitas pessoas que vejo todo dia. Para a amizade não existem distâncias.
Querida, ontem vc foi ao meu Blog e tomou um susto. Já se recompôs? Hj tem post novo, filme, poemas e imagens inéditas.
Um beijo e mesmo do outro lado do mar, vá ao meu Blog.
Um beijo,
Renata