Ensaio sobre viagens...

(Nogueira - foto de GMV)
Gosto da noite. Dessas noites calmas, que descem devagarinho de um céu limpo e sem cor. Gosto de sentir o manto da obscuridade cobrindo as vidas que se arrumam, depois de mais um dia laborioso. É o negro que me atrai... é o silêncio que procuro.

Gosto de olhar o firmamento, desenhado a estrelas longínquas, todas orgulhosamente com nome próprio, iludindo quem as observa na procura de respostas comuns. Não procuro sentidos na noite. Unicamente me descubro.

Quando nesse espaço de tempo nocturno, acontece estar só, saboreio melhor todos os meus pensamentos... e viajo. Fecho os olhos e parto para lugares distantes e desconhecidos. Ausento-me das pessoas que povoam a minha vida, abalo de palavras gastas e repetitivas... sigo viagem, sem despedidas, sem o adeus definitivo.

O meu destino nunca é marcado, vou sem bilhete, ao sabor do meu sentir... imagino-me longe e isso basta. Por vezes, a viagem é no tempo. Gostava de ter conhecido os "românticos", esses poetas da exaltação do eu, da solidão encenada, do "quanto mais poético, mais verdadeiro". Outras vezes, a viagem é no espaço. Vejo-me rodeada de mar, procurando navegadores que não receiam "mostrengos" do fim do mundo.

No silêncio da noite, de olhos cerrados, sinto o vento que move pás de moinhos por inventar; toco as águas mágicas de um lago de encantos; provo o chocolate quente (que nem gosto) feito poção da imortalidade; cheiro a relva acabada de cortar, esperando por um qualquer esplendor; oiço cântigos negros, fados de quem acredita no regresso.

São imaginadas, as minhas viagens. Repletas de imagens amálgamas dos meus simples pensamentos.

Gosto da noite. Dessas noites calmas, que me fazem regressar, devagarinho... quando sinto falta das minhas hortênsias!

7 comentários:

Vivian disse...

...se não fossem as hortênsias, seria muito bom continuar neste mundo de maya, onde tudo cheira
a poesia...

amo vir aqui...

bjs

Anónimo disse...

A noite leva-nos para lá do sono, para a terra do sonho... Aí chegados, viajamos tranquilamente ao sabor da maré e as estrelas dizem que sim. E quantas vezes, o mar se contradiz? E instala o desatino?

Bjos
Bom fds

Anónimo disse...

O que tu escreves...
Bjos
PJB

SP disse...

eu também gosto muito dessa brisa que as tuas palavras transmitem...

bjinhos!

C.R. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
C.R. disse...

Reparou que as poucas telas que coloquei e das quais já me desfiz, pouco têm em comum. Foi uma excelente aprendizagem. Agora que tudo se complica e que desejo que algo mais se realize, e tem mesmo de se realizar, torna-se tudo mais delicado. Não pela dificuldade, não pela intensidade. A criação de algo de pessoal, implica a disposição e a mostra de posições que outrora jamais teria ocupado. Criar algo que me corresponda é realmente mais interessante, mas ainda supérfluo. Vou condicionalmente passar das noites de contemplação, leitura, pensamento, escrita, divagação a puros momentos de confrangimento, reduzido ao facto de ter constantemente explicar que o que faço não é, nem representa. É apenas uma impressão, uma sensação, que apesar de se aproximar da verdade, de uma certa forma a transcende. Vou ponderando, acompanhando as minhas opiniões de retóricas ininteligíveis. Da perca do sono ao voltar à realidade, configuro o presente como algo de definido. Pouco cito, apenas porque nunca tive referenciais. Existencialista, recuso-me à incongruência que faça de nós seres racionais. Fundamentalmente sensibilizado por teorias, tal como a das “cordas” que bebo, tal como ouço Bach. Somos hoje neste momento, de forma infinita, repetido de formas infinitas, para um tempo sem fim.

Uma noite, esta aurora boreal, num luar de hortênsias, a mil léguas Cassiopéia, diametralmente opostas, juntam-se num prisma que a retina apenas deixa entrever pela sua extrema circunferência.

Excelente domingo. C.R.

isabel mendes ferreira disse...

e eu gostei de ter chegado aqui.



um lugar onde gostar da noite e das hortênsias......é uma viagem. que a.serena.



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