Ensaio sobre os meus livros...

Ensaio sobre os meus livros... Curioso, dito desta forma, até pode parecer que vou escrever sobre livros de minha autoria. Mas não vou.
Cheguei de mais um dia dedicado ao palco escolar. Fatigada de representações.
Há dias assim... em que o actor não veste com agrado o papel que lhe deram, em que o obrigam a esconder o seu sentir, a ignorar os seus pensamentos. Nesses dias, representar toma contornos de sacrifício. O palco, rapidamente, se assemelha a uma ara imponente e intransigente na espera da oferenda.
Cheguei cansada. E, no silêncio do meu refúgio, nos bastidores da minha vida, fui recebida por lombadas incontáveis de livros, que chamavam por mim. Os meus livros! Nunca os contei, é certo, mas ocupam grande parte das partes da minha casa. Alguns ainda por ler... na espera raiada de esperança de um tempo que há-de vir. A maioria relidos (já aqui falei de quanto gosto de reler). Apeteceu-me um poema, vai-se lá saber porquê!
Tirei da estante o de lombada mais larga... apetite voraz, enfim... Sentei-me com ele. Olhei-o, de um lado, depois do outro. Com saudade. Há muito tempo que não o abria.
Quando leio, tenho o hábito de marcar, dobrando os cantos das folhas, passagens, frases, versos que me interessam, no momento. Abri numa dessas marcas e li. Um poema traduzido por Herberto Helder. Palavras do povo Quínchua...
"Saber ninguém pode
o que o lago esconde
em seu fundo seio.
Assim guardes tu
o que saibas dos outros.
Melhor ainda: esquece-o."
Palavras sábias, para aquecer o meu resto de dia. Porque as marquei num dia, ou noite, perdido no passado? Não sei! No entanto, hoje, figuram magnificamente o pano que se fecha sobre o meu palco.
Os meus livros falam comigo...

7 comentários:

Anónimo disse...

Os livros são uma sábia companhia. E tanto que eles dizem.. E gostei da "ara imponente e intransigente na espera da oferenda", apesar do meu signo. Carneiro, pois então.

Beijos

O Profeta disse...

Estes livros, companheiros da noite...relicários do sonho...


Doce beijo

Anónimo disse...

Esquecer o que sabemos dos outros nem sempre é fácil, minha amiga. Aliás esquecer qualquer coisa é difícil.
Bjos.
PJB

Anónimo disse...

Esquecer é um acto que, em ciência, não é voluntário!...
Melhor é tentar entender, para arrumar! mas o entendimento passa pela análise dos factos e esses são, não raras vezes, mascarados ou, simplesmente meias verdades, porque não as há absolutas nem imputáveis a um só dono. Enfim pertencemos à espécie dominante deste Planeta e evoluímos assim mas continuo a acreditar que somos especiais e "lindos" se quisermos ser sensatos como esse teu poema que ontem fechou o teu palco.
Beijo
Emília

Whispers disse...

Ola linda Amiga!
O autor por vezes representa um papel que nao quer, mas como bom autor que eh o faz sem ninguem saber

Me encanta tua maneira linda de escrever

Desejo que tenhas uma boa semana
mil beijos desta amiga distante
Rachel

RENATA CORDEIRO disse...

Graça:
Vc tirou esta tradução da "Rosa do Mundo"? SE vc tem livros! vc não imagina quantos tenho e li pouco mais que a metade, estão em 2 bibliotecas imensas, acho que chegam a 10 mil volumes, sem brincadeiras nem mentiras. Na minha adolescência, e até antes, lia muito, e na Faculdade, pois fiz Filosofia, lia mais romances e poesia do que Filosofia propriamente dita. Era muito nova. Fui aprender Filosofia depois de me formar. Já dei aulas e entendo vc. Dava aula para o segundo grau, 1 ano. E em todas as turmas, tinha que falar a mesma coisa. Só que as turmas eram formadas por seres humanos completamente diferentes. E eu vestia a persona adequada a cada qual. Ficava tão exausta que acabei doente e tive que largar. Fui fazer Pós-graduação em Tradução para trabalhar no sossego da minha casa. Mas eu a compreendo muito bem e achar consolo num trecho de um livro reconforta muito.
Querida, hj conseguimos transferir meu irmão para o Hospital do Coração e, mais animada, fiz um post para ele e para a Blogsofera, é claro. Conto com a sua presença, que é muito importante.
Um beijo,
Renata
wwwrenatacordeiro.blogspot.com

SP disse...

gmv,

todas as palavras não sabem a verdade da sede e da honradez.

um bjinho assim.