Ensaio sobre o Outono...

Nasci no Outono. No Outono boreal. Não sei se teve, ou não, alguma influência, mas é a minha estação preferida.
É uma estação de verdade... de verdades naturais. O verde amarelece, lentamente, relembrando que, na vida, há que mudar de papel. Na natureza, aceitam-se as mudanças, consideram-se, inclusive, fundamentais para o regenerar das forças, que se perderam na ilusão da estação quente. Na vida, rejeitam-se cores discretas, escondem-se "despires", provocados por ventos fortes.
Gosto do Outono. A luz não ofusca, a beleza dos troncos aparece ao cair da folha, a chuva lava pensamentos negativos. O Outono fala a verdade dos "equinócios", procurando, mesmo que por breves momentos, mostrar que os dias e as noites são iguais. Não há lugar à superioridade. É sincero o Outono.
Hoje, o primeiro dia dessa estação magnífica vestiu o papel de alunos e resolveu aparecer nas minhas aulas. Em situação formal de avaliação, no decorrer das tão odiadas "exposições orais", os meus lindinhos transformaram-se em árvores e deixaram cair sentimentos, amarelos como as folhas; mostraram-se troncos frágeis, na confusão de uma floresta familiar; quiseram-se equinócios, na igualdade de situações tão delicadas de vida. Falou-se verdade... algumas vezes, deixando a chuva miudinha deslizar pelas faces tristes, de quem não consegue ainda perceber a justiça feita injustiça da sua curta vida.
Eu ouvi. Em silêncio, como obriga a formalidade do momento. Lamentando, solitariamente, não poder pedir à Natureza que o Verão visitasse cada um deles, para que o seu calor secasse aquelas lágrimas sentidas e, sem vergonha, partilhadas.

6 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Bela ligação escola/alunos/Outono.
Esta estação faz-me lembrar o regresso às aulas, os medos, o entusiasmo, enfim, uma mistura de sentimentos que não é fácil esquecer.
Bom trabalho, beijinhos.

RENATA CORDEIRO disse...

Amiga:
Não posso nem comentar, volto outro dia. Mas nessa ânsia que toma conta de mim, sem ter notícias do meu irmão que está sendo operado há seis horas, tive tempo para fazer mais um post e duvido que vc tenha visto o filme. Apareça.
Um abraço,
Renata
wwwrenatacordeiro.blogspot.com

Anónimo disse...

E como é admirável, O Outono. Sem calores excessivos. Sem tempestades descontroladas... Sereno! Da serenidade que lhe advém da sua verdade. Lamento que as folhas caiam no Outono.E que o chão comece a ficar frio. Ele não merece!

Bjos

SP disse...

O outono é lindo; belo; magnifico mas vem depois do verão e eu fico sempre assim meio triste... tão melancolico quanto esta estação do ano!

Com um bjinho e a ternura

Anónimo disse...

Como sabes nasci na primavera, e curiosamente é a minha estação preferida. Prometo ler-te no mínimo até ao próximo equinócio.
Bjos
PJB

RENATA CORDEIRO disse...

Gostaria muito, Graça, que aqui no Brasil tivéssemos outono e primavera. Aliás, não temos estações. Ou faz frio ou faz calor. E adoro o calor, os dias ensolarados, sinto uma disposição incrível. Já no frio, me sinto mal e me lembro de que odiava ir à escola nos dias "cinza". Quando o professor(a) perguntava alguma coisa, tinha vontade de chorar e correr de volta à casa para me esconder debaixo dos cobertores. Era terrível, até hj é, porque moro num apartamento onde não entra um raio de sol, está sempre frio. Tenho que abrir a janela e ver que tempo está fazendo para pôr a roupa adequada. É fogo no boné do guarda.
Minha amiga, quando tiver um tempo, vá ao meu Blog me dar apoio e ver o meu novo post. Estamos passando por uma situação muito difícil.
Saiba que compreendo os seus alunos e a sua posição (da Graça).
Um beijo,
Renata
wwwrenatacordeiro.blogspot.com