Ensaio sobre o belo...


Já Platão assumia que "o que é belo é difícil"... apesar de não ir ensaiar sobre as teorias platónicas, desse mundo das ideias que ninguém conhece, nada mais correcto do que este dito, para aplicar, no dia que é hoje, ao espectáculo que foi a minha aula.

Previa-se uma aula dificultada pelas escolhas da Professora. Apresentar, para análise, uma crónica de Lobo Antunes, a miúdos preocupados com o toque que há-de tardar, não se antevia fácil. No entanto, não gosto de facilidades. Atacámos de rajada esse texto magnífico que é "Lição de Estética". Pedi-lhes que lessem primeiro em silêncio. Primeiras reclamações; "Leia a S'tora, é melhor!", "A S'tora lê tão bem...". Resisti aos pedidos. Observei-os, enquanto mergulhavam as caras tristes na folha de papel... tão grande, pensavam decerto; ou então, não percebo nada disto... Ao fim de algum tempo, dei por finda a leitura que tinha ares de durar 'ad eternum'.

Fui perguntando aspectos simples... todos contentes, esticavam-se em braços enormes, na certeza de uma resposta. O pior veio depois, ou o melhor, para ser sincera.

O que é afinal uma lição? Qual a noção de estética defendida pelo autor? e por aí fora...

Os braços foram descaindo, inseguros... chegámos ao Belo, só porque me apeteceu... e tudo o mais foi uma aula "bela"!

Dialecticamente, deixaram por momentos o mundo das sombras, em que teimam em viver, e vislumbraram a ideia... tão simples, dito por um dos meus lindinhos: a escrita de Lobo Antunes é difícil, porque é bela!

Uma lição de estética, longe de decretos e despachos, longe de metas e sucessos falseados.

Ensaio sobre viagens...

(Nogueira - foto de GMV)
Gosto da noite. Dessas noites calmas, que descem devagarinho de um céu limpo e sem cor. Gosto de sentir o manto da obscuridade cobrindo as vidas que se arrumam, depois de mais um dia laborioso. É o negro que me atrai... é o silêncio que procuro.

Gosto de olhar o firmamento, desenhado a estrelas longínquas, todas orgulhosamente com nome próprio, iludindo quem as observa na procura de respostas comuns. Não procuro sentidos na noite. Unicamente me descubro.

Quando nesse espaço de tempo nocturno, acontece estar só, saboreio melhor todos os meus pensamentos... e viajo. Fecho os olhos e parto para lugares distantes e desconhecidos. Ausento-me das pessoas que povoam a minha vida, abalo de palavras gastas e repetitivas... sigo viagem, sem despedidas, sem o adeus definitivo.

O meu destino nunca é marcado, vou sem bilhete, ao sabor do meu sentir... imagino-me longe e isso basta. Por vezes, a viagem é no tempo. Gostava de ter conhecido os "românticos", esses poetas da exaltação do eu, da solidão encenada, do "quanto mais poético, mais verdadeiro". Outras vezes, a viagem é no espaço. Vejo-me rodeada de mar, procurando navegadores que não receiam "mostrengos" do fim do mundo.

No silêncio da noite, de olhos cerrados, sinto o vento que move pás de moinhos por inventar; toco as águas mágicas de um lago de encantos; provo o chocolate quente (que nem gosto) feito poção da imortalidade; cheiro a relva acabada de cortar, esperando por um qualquer esplendor; oiço cântigos negros, fados de quem acredita no regresso.

São imaginadas, as minhas viagens. Repletas de imagens amálgamas dos meus simples pensamentos.

Gosto da noite. Dessas noites calmas, que me fazem regressar, devagarinho... quando sinto falta das minhas hortênsias!

Ensaio sobre os meus livros...

Ensaio sobre os meus livros... Curioso, dito desta forma, até pode parecer que vou escrever sobre livros de minha autoria. Mas não vou.
Cheguei de mais um dia dedicado ao palco escolar. Fatigada de representações.
Há dias assim... em que o actor não veste com agrado o papel que lhe deram, em que o obrigam a esconder o seu sentir, a ignorar os seus pensamentos. Nesses dias, representar toma contornos de sacrifício. O palco, rapidamente, se assemelha a uma ara imponente e intransigente na espera da oferenda.
Cheguei cansada. E, no silêncio do meu refúgio, nos bastidores da minha vida, fui recebida por lombadas incontáveis de livros, que chamavam por mim. Os meus livros! Nunca os contei, é certo, mas ocupam grande parte das partes da minha casa. Alguns ainda por ler... na espera raiada de esperança de um tempo que há-de vir. A maioria relidos (já aqui falei de quanto gosto de reler). Apeteceu-me um poema, vai-se lá saber porquê!
Tirei da estante o de lombada mais larga... apetite voraz, enfim... Sentei-me com ele. Olhei-o, de um lado, depois do outro. Com saudade. Há muito tempo que não o abria.
Quando leio, tenho o hábito de marcar, dobrando os cantos das folhas, passagens, frases, versos que me interessam, no momento. Abri numa dessas marcas e li. Um poema traduzido por Herberto Helder. Palavras do povo Quínchua...
"Saber ninguém pode
o que o lago esconde
em seu fundo seio.
Assim guardes tu
o que saibas dos outros.
Melhor ainda: esquece-o."
Palavras sábias, para aquecer o meu resto de dia. Porque as marquei num dia, ou noite, perdido no passado? Não sei! No entanto, hoje, figuram magnificamente o pano que se fecha sobre o meu palco.
Os meus livros falam comigo...

Ensaio sobre o Outono...

Nasci no Outono. No Outono boreal. Não sei se teve, ou não, alguma influência, mas é a minha estação preferida.
É uma estação de verdade... de verdades naturais. O verde amarelece, lentamente, relembrando que, na vida, há que mudar de papel. Na natureza, aceitam-se as mudanças, consideram-se, inclusive, fundamentais para o regenerar das forças, que se perderam na ilusão da estação quente. Na vida, rejeitam-se cores discretas, escondem-se "despires", provocados por ventos fortes.
Gosto do Outono. A luz não ofusca, a beleza dos troncos aparece ao cair da folha, a chuva lava pensamentos negativos. O Outono fala a verdade dos "equinócios", procurando, mesmo que por breves momentos, mostrar que os dias e as noites são iguais. Não há lugar à superioridade. É sincero o Outono.
Hoje, o primeiro dia dessa estação magnífica vestiu o papel de alunos e resolveu aparecer nas minhas aulas. Em situação formal de avaliação, no decorrer das tão odiadas "exposições orais", os meus lindinhos transformaram-se em árvores e deixaram cair sentimentos, amarelos como as folhas; mostraram-se troncos frágeis, na confusão de uma floresta familiar; quiseram-se equinócios, na igualdade de situações tão delicadas de vida. Falou-se verdade... algumas vezes, deixando a chuva miudinha deslizar pelas faces tristes, de quem não consegue ainda perceber a justiça feita injustiça da sua curta vida.
Eu ouvi. Em silêncio, como obriga a formalidade do momento. Lamentando, solitariamente, não poder pedir à Natureza que o Verão visitasse cada um deles, para que o seu calor secasse aquelas lágrimas sentidas e, sem vergonha, partilhadas.

Ensaio sobre sentimentos...

(Cerveira - foto de GMV)

Há quem sinta uma necessidade intrínseca de falar de sentimentos. Por vezes, gastam-se as palavras de tanto serem repetidas, perde-se a semântica primeira de tanto serem verbalizadas. Numa qualquer relação a dois, considera-se fundamental esse fio condutor de palavras que expressem o sentir. Fala-se muito. Discorre-se por tudo e por nada. Diz-se aquilo que se quer e, muitas vezes, o que não se quer.

Não sou dada a falar de sentimentos. Gosto mais de senti-los. Saboreá-los em presença. Recordá-los na ausência. Os sentimentos não se explicam... têm-se. Sinto-me nutrida de sentimentos. Presumo que todas as pessoas estão plenas deles. Só que a maioria pensa que tem de os mostrar pela articulação de sílabas, palavras, frases, textos autenticamente retóricos. Eu pertenço à minoria. Sou parca em palavras...

Vem tudo isto a propósito de, hoje, por um mero acaso da vida quotidiana, ter ouvido uns versos de e.e. cummings. Por breves instantes, rendi-me à evidência de que há momentos em que as palavras têm a capacidade de expressar o que nos vai na "alma"... "I carry your heart with me (I carry it in my heart)".

Tão simples!...

Ensaio sobre a alegria...

(Formariz - foto de Duarte)

O palco era o de sempre. Dez e quarenta e cinco. Ao longe, distinguiam-se gargalhadas cristalinas, de quem não tem preocupações, de quem faz de cada pequena coisa um universo de sentires.

Eu caminhava apressada, por um dos pátios da Escola. De repente, vindo do nada, um grupo de alunos pululava em meu redor. Sorriam, com aquele sorriso que ilumina o olhar. Tentavam traçar no meu caminho um novo destino.

"Por favor, Professora, tem de ser hoje..."
"Ó stora, não é para aí..."
"Quando começamos? Diga lá!"

O imperativo não ordenava, deixava perpassar um pedido sentido. Tive de rir. (Mas sem esquecer as minhas preocupações!)

"Vocês parecem um rebanho, de ovelhas saltitantes, em torno do pastor." . Comentei.

Resposta: "Até isso eu faço, se for preciso.", lançou uma das miúdas, provocando o riso colectivo.

Falavam do Teatro. Não são meus alunos... só me conhecem como Encenadora dos seus tempos livres. Como criadora das personagens que gostam de vestir. Como a companheira de estreias, em que atenuam a sua timidez, em que se sentem, por breves momentos, protagonistas, numa vida raiada de indiferença. São os meus Aprendizes do Fingir.

O Teatro. Queriam recomeçar os ensaios. Conhecer o texto. Pisar o palco. Despir-se de vergonhas adolescentes.

A cena, se vista de longe, devia provocar alguns sorrisos. Eu continuava a minha marcha, pautada pela obrigação de uma burocracia assinada ao minuto. Eles acompanhavam-me, pulando, falando, questionando, rindo...

"Começamos para a semana!" disparei rapidamente, antes de entrar no edifício central.

E foi nesse momento, que, sem saber porquê, me veio à memória uma frase de Rubem Alves, sobre o que um professor deveria responder, se questionado sobre a sua profissão: " Sou um pastor da alegria...".

Dez e cinquenta. Fui assinar. Atrasada, bem sei. Mas com a consciência tranquila de quem gosta de "pastar".

Ensaio sobre o futuro...

(Serra da Estrela - foto de Marina)
Noutros tempos, quando se perguntava a um aluno, no início do ano, o que ele perspectivava para o seu futuro, havia um momento de reflexão, mas saía sempre uma resposta. Cheia de sonhos, de desejos, de destinos construídos na ignorância do que nos espera no tempo que há-de vir.

Noutros tempos, o início das aulas trazia a alegria, difícil de esconder, do reencontro, do estrear dos cadernos novos, da sede de aprender, do querer ser alguém. Nem que fosse tão somente alguém aluno!

Os tempos mudaram. Assisto a esta perda de interesse - pela própria vida - com alguma desilusão. Afinal, é de vida que falamos. A existência é indiferente para estes jovens? Não se ambicionam metas positivas? Não se imagina o dia de amanhã?

Perguntei. Hoje. Uns encolheram os ombros, outros, muito a medo, lá foram dizendo que ainda não pensaram muito nisso, outros ainda, mais extrovertidos, responderam que depois logo se vê.

Ignorei. Falei-lhes dos caminhos tortuosos da vida... da rocha dura e fria, traiçoeira... da dificuldade da subida... do esforço do equilíbrio... da importância de não escorregar... da atenção que se deve ter ao caminho... Claro que era uma imagem, um conjunto de metáforas, algumas autênticas hipérboles, do que será o nosso ano lectivo. Gosto de falar. Continuei. Falei-lhes da sensação de vitória, quando se atinge o cume; da realização sentida só por chegar; da beleza ao ver as nuvens por baixo do nosso olhar; do agradecimento verdadeiro por termos companhia no caminho; das abençoadas dores nas pernas que nos relembram, a cada passo, que o esforço foi nosso.

Assim, no abstracto, não sei se a mensagem chegou. No fundo, eu só estava a relatar uma subida ao ponto mais alto de Portugal, outras vezes vivido com jovens como eles.

No final do ano, tornarei a perguntar... na ilusão de que a atitude perante a própria vida tenha modificado... na ilusão de que haja um futuro!

Ensaio sobre o Domingo...

(Covas - foto de GMV)


O Domingo devia ser, até pela sua definição, devotado ao descanso. Que ironia! Desde manhã que estou sentada ao computador... trabalhando. (O gerúndio é a minha herança alentejana.)

No entanto, o meu pensamento vagueia por outras paragens. A concentração é difícil, quando se recordam outros domingos tão mais agradáveis e cheios de pessoas. Domingos pintados de verde, espelhados pelo cristalino da água inquieta de um rio, escritos de palavras sábias e calorosas, partilhados no silêncio de quem nem precisa de palavras.

A imaginação também não pára. Oiço deixas e falas de uma peça por escrever, recrio espaços cénicos num palco diminuto, antecipo personagens com relevo de principais... todas para mim principais.

Quem pode trabalhar com esta constante interrupção de imagens mentais? Faço um esforço. Observo a desarrumação de papéis em cima da mesa. Mesa de Professora, enfim... e só me apetece escrever verdades profundas, reflexões sentidas, pensamentos excessivos... como o que retirei de T.S. Eliot e permanece orgulhoso, no lado direito deste espaço chamado blogue: "A man may walk at night with a lamp, and yet be drawned in a ditch". Tanto que me apetecia dissertar a propósito! Mas não posso! Vou remeter-me aos "bastidores" e trabalhar...

Ensaio sobre o "desassossego"...


(Milfontes - foto de GMV)

Diz o dicionário que "desassossego" pode significar "alvoroço". Claro que esse livro pleno de significados apresenta outras possibilidades de entendimento. No entanto, hoje, desejo o "alvoroço"! Mas o "alvoroço" que se recria no "entusiasmo", não me apetece o outro da "inquietação". A extensão do ensaio podia ser cansativa, se continuasse nesta justificação desnecessária da escolha da palavra. Desassossego. Só!
Sossegadamente, tenho dedicado o meu (escasso) tempo livre à releitura desse livro tão Pessoano que é o Livro do Desassossego. Já aqui expliquei o quanto gosto de reler. O quanto considero um acto de amor essa busca sistemática de algo que já é nosso. O livro. O texto.
Tornar a ler é sempre ler pela primeira vez. A apreensão de sentidos é diferente. A escolha do melhor excerto é distinta. E o amor cresce... alicerça-se nas fundações criadas pela primeira leitura. 
Existem frases que ganham novos contornos. Há palavras que se agigantam, quando outrora passaram despercebidas. Sei que a interpretação é subjectiva, mas não será isso a beleza da literatura?
Estas palavras perdidas para deixar um pensamento de Bernardo Soares "O mundo é de quem não sente."
À distância curta de mais um início de espectáculo, neste palco escolar, tenho a perfeita consciência de que, felizmente, o mundo nunca será meu!


Há dias...

Quando o pano abre devagar, numa qualquer sala de teatro, os espectadores tentam rapidamente perceber o cenário, No espaço ainda vazio, antecipam-se actores disfarçados de personagens. A peça começa... o pano é esquecido!
Há dias em que, no palco da vida, o pano devia manter-se, na sua verticalidade de pregas de veludo, fechado. A peça não está pronta. Os ensaios correram mal. Faltam adereços no cenário. A encenadora não tem vontade de ouvir as mesmas falas, repetidas à exaustão, na busca da representação perfeita.
Há dias, nesta encenação real, em que as deixas deixam tudo a desejar. Em que as palavras que se escreveram não previam a reviravolta dada pelos actores.
Há dias em que se devia representar sem abrir o pano. Porque o fracasso é previsível. E o cansaço também!
Há dias assim...

Há palavras...

(Rubiães - foto de GMV)

Há palavras que nunca escreverei.

Não porque não me sejam imprescindíveis, mas porque não são fáceis de decifrar. Há quem diga que se deve medir as palavras... Devo, então, preocupar-me com a extensão do seu significado? Existe ainda quem seja apologista de cortar a palavra... Devo, então, tornar-me talhante da minha língua?

Há palavras que nunca escreverei.

Não porque não goste delas, mas porque transportam em si um duplo sentido. Carecem de mais palavras. São possessivas de outras denotações. Cansam de tanto se tentarem explicar. Devo, então, riscá-las do meu dicionário?

Há palavras que não poderei escrever.

Por não saber o que fazer com elas. Por recear a grandeza do seu sentimento. Pela perfeição com que narram o meu sentir.

Há palavras que não quero escrever.

Porque ironicamente espelham o texto que sou. Porque deduzem o meu pensar. Porque sintacticamente se organizam para me moldar.

Neste fim de dia, pintado da cor que gosto, molhado pela chuva que me encanta, há palavras que me fogem... e só penso que não me apetece correr.

Amanhã, talvez as procure e as guarde dentro de mim. Mas não as escreverei!

Breve reflexão...

(Lisboa - Quinta dos Lilases - foto de GMV)


Fernando Pessoa escreveu um dia, vestindo a personagem de Bernardo Soares, "Feliz quem não exige da vida mais do que ela espontaneamente lhe dá (...)".


Hoje, véspera de voltar ao quotidiano escolar, reflicto na frase, na simplicidade do dito, na verdade das palavras. Acredito que a vida tem algo para me dar. Não vou exigir. Quero e gosto de ser feliz. Assim...

Razão de ser...

(Rio Coura - foto de GMV)

Nesta manifestação artística, tão velha quanto o Homem, que é o Teatro, são vários os elementos fundamentais para a sua existência. Tenho brincado, ao longo do tempo que tem este blogue, com as analogias entre esta arte e a própria vida... a minha vida. Nada de extraordinário, convenhamos. As semelhanças são evidentes e intrínsecas, afinal, não é por acaso que se associa o aparecimento das primeiras "dramatizações" à própria história do ser humano. Depois vieram os Gregos, mas isso é outra história...

Actores, palcos, cenários, falas, apartes, adereços, didascálias, encenadores, pontos, dramaturgos... tantas palavras de significado conhecido e contextualizado.

No entanto, a verdadeira razão de ser do Teatro é o Público. Essa realidade cultural e ideologicamente mutável, que tanto aplaude como apupa. É das expectativas individuais, e colectivas porque não, que nasce o sucesso da representação.

Tenho saudades do meu público. Os meus alunos. Essa plateia que regressa, a cada Setembro, cheia de expectativas. Que aplaude o entusiasmo da actriz, que apupa as falas gastas e descaracterizadas de um programa desfasado da realidade. É crítico, o meu jovem público. Gosto dessa sensação de que, por momentos, dentro de uma sala onde nem existem condições para estar sentado 90 minutos, existe vontade de argumentar, de dizer, de contrariar, de escrever, de fazer poesia, também.

Tenho saudades do meu público. Do brilho nos olhos de quem quer dizer algo mais do que a matéria dada, que anseia por um momento de atenção, que reclama uma relação afectiva.

Tenho saudades do meu público. De os ver crescer... de os ouvir mudar a voz... de os sentir sentindo... de os ajudar a aceitar as mudanças... de os incentivar à partilha... de os ler nos ditos das primeiras paixões.

Tenho saudades do meu público. Das suas dificuldades em expor oralmente... dos seus erros sintácticos... da sua leitura atrapalhada... do seu desejo de fazer sempre melhor... e ainda, porque tenho sorte, da sua vontade de aprender.

Tenho saudades dos meus alunos. Só por eles gosto de representar esta "difícil" peça de ser Professora.