Ensaio sobre gostos...


Hoje, durante os momentos dedicados a alimentar o físico, surgiu uma conversa interessante. Gostos. Claro que não sobre o sentido que nos permite distinguir o sabor das coisas. "Gosto" no seu sentido mais figurado, daquilo que nos dá prazer. "Gostos não se discutem", ou não se deviam discutir, quando se reúnem pessoas dadas a uma boa discussão. Foi o que fizemos, ao longo do almoço.

Do Teatro ao Cinema, da Literatura à Música, tudo foi abordado de forma ligeira, mas séria, entre uma garfada e outra. Curiosa foi mesmo a reacção que se instalou nos meus companheiros de repasto, quando apresentei os meus gostos.

O ensaio podia versar sobre o preconceito, esse conceito que se forma sem fundamento e por antecipação. Clarifico... ao falar sobre os meus gostos, fui ouvindo comentários do género "Não me digas!", "Tu? Estás a brincar...", ou tão somente uma boca que não se fecha e prolonga o advérbio de negação "Nãaaaooooo!".

Tenho de reconhecer que deve ser difícil perceber o díspar que me dá prazer, os pólos que alimentam o meu sentir. Do cinema francês pouco conhecido, pouco visto pelas salas do King, às americanadas protogonizadas por Johnny Depp (qualquer uma, se com ele); da "La Traviata" de Verdi (chorei, quando vi ao vivo) à "Scorpion Flower" dos Moonspell (foi aqui que alguns queixos quase caíram... sou metaleira, sim); do "Waiting for Godot" do grande Beckett, às produções musicais de La Féria; de Dostoievsky, no seu O Jogador, à quase desconhecida norte-americana Lois Lowry, com o magistral O Guardião de Memórias (fiz a apologia do livro, quase que aposto que vão procurar). Abreviando, já no café, acabei a falar do quanto gosto de pintura! Sim, pintura. "Mas pintura como?" perguntou alguém. Lembrei-me então da pergunta do outro dia. Não sei porque gosto de pintura, não domino conceitos, nem estilos pictóricos. Gosto, pronto. Sou capaz de me espantar em frente a uma obra de um pintor e voltar rapidamente à idade em que se quer respostas para tudo. Como se faz? Como se conseguem aqueles efeitos de cor? Como é que um pincel, passado a toque na palete, cria a sensação do real? Há uns tempos atrás, fiz estas mesmas perguntas a quem me acompanhava no Rijksmuseum, em Amesterdão. A obra era famosa (que emoção por estar a um passo dela!), De Nachtwacht, de Rembrandt. A resposta veio rápida "Estás maluca?".

Não estou não. Tenho os meus gostos. Não discuto os dos outros. Respeito-os, enfim. Os meus são estranhos porquê?

O almoço acabou. Voltámos para o meio dos papéis e desculpem, mas esqueci-me de dizer que gosto mesmo de computadores!
(Foto retirada da net)

7 comentários:

O Profeta disse...

Gosto de ler-te...


Olhando de perto o teu olhar
Vejo raios voando na procura
Anseios depositados no vento
Uma secreta maré de ternura


Vem comigo visitar o vale dos milhafres


Boa semana


Mágico beijo

Anónimo disse...

Tens gostos antagónicos, sim. por isso és a pessoa q és.
PJB

Ácido Cloridrix HCL disse...

Tenho um filho no Teatro, e em Lisboa,,, quem sabe não se conhecem,,, seria giro não seria????
HCL

Graça disse...

HCL,
Seria muito giro. Afinal, Lisboa, apesar da sua grandeza, não passa de uma aldeia, onde quase todos se conhecem, ou conhecem alguém que conhece outro alguém (quase como o anúncio do vinho do Porto).

Anónimo disse...

Os teus gostos tropeçam uns nos outros porque são muitos. Acotovelam-se porque eclécticos. Abraçam-se porque os contrários atraem-se. Abraçam-se porque te constroem e estruturam. Beijam-te e namoram contigo.

Bjos

Graça disse...

Também gosto de caracóis; Paola. Quando?

desculpeqqc disse...

Ainda bem que gostamos de várias coisas.