Despedidas breves...

(foto de Vasco)

Ontem, no meu momento de encontro comigo, não fui escrever... fui ler! É para lá que volto sempre que algo não flui como desejado. Em cada palavra lida, egoisticamente penso que escrita para mim. Pretensão bacoca, bem sei. Quem escreve não pensa em quem lê! A escrita é egocêntrica. Mas não resisto. Aquelas palavras podiam muito bem ter sido escritas para mim.

Refugiei-me nos meus Poetas de eleição. António Nobre, Fernando Pessoa. De um retenho a simplicidade da dor feita poema, de outro a complexidade de uma razão em busca da felicidade. Em tempos ensinaram-me que o sentido das palavras do Poeta é o que, naquele momento, o leitor lhe dá. Em cada palavra residem mil outras palavras...

Ontem, no momento em que uma breve sombra tapou o meu sol, fugi para as palavras dos outros, silenciosamente criando mil significações diferentes. Todas para mim. De António Nobre, o saudosismo de um passado feliz, porque ignorante. De Pessoa, o interseccionismo de sentimentos futuros, porque desejados.

Fui ler. Fui ser leitora. Atenta. Crítica. Consciente. Fui ler poesia. "Quanto mais poético, mais verdadeiro." Procurei a minha verdade na poesia de outros.

Por isso, por tanto ter lido ontem, vou descansar da escrita. Serão despedidas breves, bem sei. Mas, neste momento, quero alimentar-me das palavras dos outros.



" Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser..."

Álvaro de Campos


1 comentário:

Anónimo disse...

Então que seja breve e verde a tua ausência!

Claro que sim... as palavras de A. C. ficam-te muito bem.

Bjo