Ensaio atrasado...


O tempo não perdoa. Mesmo que não lhe queiramos dar importância, ele vai passando matreiro. Compassadamente, sem atrasos, nem recuos. Aliás, os avanços é que se afiguram evidentes.

Vem isto a propósito de não ter tido tempo para escrever sobre a última subida ao palco! Os meus lindinhos também não me perdoariam, com ou sem tempo.

Um Novo Princípio foi uma peça que escrevi assim de rajada. Numa tarde, chuvosa, de intempérie, quando o ar fica pesado, escuro, na expectativa de espargir dilúvios de sentimentos guardados. A inspiração surgiu pelas perguntas de circunstância que na véspera lera algures. "Acha que o mundo está a mudar?", "Que tipo de intervenção gostaria de ter...". Bom, abreviando, intervim escrevendo uma peça sobre um Mundo após este Mundo.

Os meus jovens actores cedo perceberam a mensagem, assumiram as personagens de nomes sugestivos...Aventureiro, Animadora, Sonhador, Sabe-tudo, Velha Terra, Alegria, Esperança, entre outras.

Na sexta-feira, subiram pela primeira vez ao palco para enfrentar uma plateia. O nervosismo era evidente. Não pela representação, mas por aquilo que eu poderia achar desse momento em que as minhas palavras ganhariam vida.

Foi mais um momento lindo, neste meu palco da vida. A mensagem passou. De manhã, o público mais jovem aplaudiu. À noite o público adulto também aplaudiu.

Eu aplaudirei sempre. Para ver o brilho no olhar, para sentir a mão que se aperta, para receber o sorriso no silêncio de quem já não tem palavras, para ouvir as perguntas: "Professora, correu bem?"

Correu bem sim. O teatro aconteceu. O palco encheu-se de alegria. Os actores fingiram magnificamente. Um Novo Princípio foi peça, por um dia!
(Foto de Paola)

3 comentários:

Anónimo disse...

CONTINUO A ASSISTIR A TODOS OS TEUS ENSAIOS. ALGUNS DELES CHAMAM-ME PARA O OUTRO LADO DO PALCO. ESSE É MAIS INTIMO. CUMPLICE. NÃO SEI SE, NAS APRESENTAÇÕES, É MAIS DESEJADO O APLAUSO DOS QUE VÃO ASSISTIR OU A PARTILHA NOS BASTIDORES. PREFIRO O NERVOSISMO DOS ACTORES. OS TROPEÇOS NOS CORREDORES. A ROUPA A NÃO SERVIR. O BATON PERDIDO NÃO SE SABE ONDE. O IMPROVISO. PREFIRO AS MÃOS DADAS DO GRUPO. TRANSPIRADAS. E OS RISOS. A NOÇÃO DE TRIBO.
TENHO SAUDADES. DE ESTAR DO OUTRO LADO. DE ESQUECER O TEXTO E DE TER VERGONHA. DE SENTIR, EM CADA ENSAIO, QUE ALGUÉM ESTÁ COMIGO.
QUE ALGUEM, AO ME OBSERVAR, AO ME OUVIR, ME ENSINE O CAMINHO. ME DIGA COMO ME QUER.
HOJE, NENHUM PALCO ESPERA POR MIM. NENHUM CARTAZ ME ANUNCIA EM ESTREIA. E SINTO FALTA DE TEXTOS NOVOS, DE ENCENADORES, DE GUARDA-ROUPA. DE PONTO, TALVEZ. SINTO FALTA DE QUEM COMIGO CONTRACENE. NUMA PEÇA DE PROPÓSITO (ou em despropósito) CRIADA. OU NUMA OUTRA, INVENTADA PARA PISAR O TAL PALCO DA VIDA.

(…TODOS OS PALCOS SÃO BONS PARA ENSAIAR…)

Agradeço os palcos que me deste.

Anónimo disse...

Também eu prefiro atrás do palco!A vontade de fazer e bem!O nervoso do antes porque a encenadora está lá, não o público!Nós fingimos verdades para ela!Porque ela merece!E como merece!
Também eu sinto saudades dos bastidores, do nervosismo,das frases ditas por dizer, da partilha das angústias,da certeza que todos somos só um, por nós e por ELA.
Eu estive lá.Os alunos, tal como nós, "fingiram" para G. e por G.
Magnífico! Bravo!

Anónimo disse...

Desta vez, não estive lá. Fiquei do lado de cá a espreitar. E vi-te a sorrir. Da teus olhos brotaram sorrisos e das tuas mãos aplausos para os teus meninos... É que eu já vi esta cena e aplaudo sempre!

Bjos