No momento das audições...



Gosto de Pessoa. Aliás, gostar é muito redutor do meu sentir. Amo Pessoa, naquele sentimento altruísta de quem sabe que nunca será recíproco. Mas também, e porque não, naquela definição espartilhada pelo dicionário que mistura "afecto" com "graça". Ora, nem mais.
O Pessoa que eu amo nunca se sujeitaria a uma audição! O Pessoa que eu guardo no meu coração, não é só Poeta. Esse é, por vezes, violentado em usos e abusos de interpretações ditas e reditas e nem sempre conseguidas.
O meu Pessoa é o das máscaras, o que fingia não ser, sendo; o que solitariamente olhava o mundo, na consciência do social.
De Pessoa admiro todas as facetas...não há post bloguiano suficientemente enorme para resumir a sua existência. (Isto sou eu, amando!)
"Cada um de nós tem, talvez, muito a dizer, mas acerca desse muito há pouco que se diga." (Fernando Pessoa)

Serve o intróito para chegar à verdade da reflexão Pessoana. Actualmente, fazem-se "audições" para tudo. Ao ritmo estonteante desta vida, não se quer perder a oportunidade de mais um papel. Sujeitamo-nos à escolha, feita sem critérios objectivos, deixamo-nos analisar na rapidez de um olhar..."castings" para uma vida.
Tinha tanto a dizer, mas há pouco que se diga...
Aos encenadores que escolhem, resta-lhes a hipótese de que, um dia, no meio da multidão de candidatos, surja uma revelação.

Só porque me apetece, e posso, deixo mais uma daquelas "máscaras" feitas Pessoa: "Os Deuses nada nos dirão, nem tão pouco o Destino. Os Deuses estão mortos e o Destino é mudo."
Ousaria acrescentar: escutemos então a simplicidade do ser humano.

Vou dormir.

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