Ensaio sobre o ponto...

(foto de Paola)


Sempre me fez um pouco de confusão a ideia de um ponto. Em teatro, entenda-se. A necessidade de alguém que vai repetindo, em voz baixa, as falas das personagens, soa-me a desnecessária. Cada actor devia ter a segurança de, no momento da falha, partir para a grandeza do improviso.

Falo da vida também. Desta vida feita drama, no sentido grego da palavra, porque acção. Engorolar momentos de existência, não me parece que fique bem, perante uma plateia tão exigente, que são aqueles que preenchem cada dia da nossa, cada vez mais, representada vida!

Parta-se, então, para o improviso... esqueça-se o ponto (mas mantenham-se os parêntesis que nos protegem). Improvisemos a cada erro na peça. Improvisemos na monotonia dos dias escritos por autores distantes. Improvisemos na exaltação de uma mera vontade. Improvisemos, porque o desejo de deixar a personagem está latente. Improvisemos para despir a roupagem imposta por conceitos e preconceitos sociais.

Não gosto de pontos. Finais.

Hoje fico-me pelas reticências deste palco, na suspensão do não-dito!

2 comentários:

Paola disse...

Os pontos finais são fruto da maquiavelice humana. Tudo para que uns digam tudo e outros não falem nada...Reconheço, no entanto, a benignidade dos ditos.Têm a capacidade magnífica de terminar assuntos, conversas astutas, vírus maliciosos na vida da gente. Não são eles que engrolam as nossa vidas, mas quem os coloca nos finais das frases que não nos deixam terminar, nem dizer. Mais não digo ponto final.

Fui bom actualizar memórias, aqui ditas na fotografia...

Anónimo disse...

É a mais pura das verdades!
Há muitos pontos que engrolam a minha vida,mas sobretudo quem os está permanentemente a colocar lá
Assim , contra o ponto final,contra o ponto de encontro (amanhã), contra o ponto do teatro, contra o ponto do açúcar,contra o ponto , dito teste,contra o ponto de cruz, contra o ponto cardeal...contra o ponto em que está a minha profissão!