Ensaio sobre ensaios poéticos...

(foto de JGF)

Neste palco de ensaios, há dias em que nos desviamos do objectivo primordial. Essas variações são o ânimo para o regresso transfigurado por um sentimento bom.

Andamos, no palco escolar, à volta do texto poético. O gosto da professora enche a sala. Agiganto-me no tratar desse texto tão pequeno e tão indefeso perante os olhares, primeiro desconfiados, depois brilhantes na vontade de ir descobrindo.

Claro que antes tratámos de toda a parte de suporte de análise das palavras escritas. Os alicerces de termos que permitem a construção do edifício da interpretação. Essa arte de versificação, rotulada de versos e estrofes, rimas e métrica, recursos e figuras.
Atacámos um poema, assim para começar, que derruba todas as convenções aprendidas. Nada de divisão em estrofes, nada de rima, nada de pontuação expressiva. Então e agora, professora? Agora, eu leio! (sou boa nisso) Li dando toda a entoação e sentimento ausentes no propósito da diferença. No final da minha leitura, já uns quantos braços no ar reclamavam a minha atenção. Ignorei. Lancei algumas perguntas para orientar sentidos...mais braços no ar, todos tinham algo a dizer.

Disseram. Individualmente fomos construindo um sentido colectivo. Título? Se tem é porque o sujeito nos quis dar uma chave para abrir o seu poema! (bonito, pensei, quase tanto como o poema). Falta de sinais de pontuação? São paragens que quebram o pensar e o sentir do poeta, a não existência dos ditos poderá significar uma urgência no dizer, que não admite paragens impostas! (brilhante, pensei, quase tanto como o poema). A anáfora do "quero"? O repetir de uma ideia reforça a mesma, numa tentativa de se convencer a ele próprio, ou se quer, não tem, deseja por isso ter! (não pensei nisso, confesso, mas gostei)...

Podia continuar expondo o resultado da minha aula, mas, no fundo, foi só mais uma de muitas, em que o tempo não chega, em que a sua passagem não se sente. Não ouvimos tocar...foram as vozes estridentes no pátio que nos anunciaram que há outros dias, que há outros poetas a descobrir, que há outras palavras a despir de conotações. Saimos.

Até amanhã.





1 comentário:

Paola disse...

Pois... São estes momentos que nos enchem de exclamações. São instantes que prolongam as nossas narrativas abertas, que agarram as nossas reticências e as terminam com paixão.
Bjos