Ensaio sobre pais

Claro que não vou falar dos meus. Falo dos pais dos meus alunos. Hoje, foi dia de os receber para a conversa habitual de início de período.
Sala cheia, a abarrotar enfim, afinal gosto que os meus alunos estejam presentes e o mais interessante é que eles também gostam.
Nestes dias, assumo o meu papel nesta peça de direcção de turma, nesta tentativa de formar seres humanos. Os mais velhos, os mais novos. Até aí gosto de me ouvir. Sou boa actriz. O discurso flui como sempre e lá vai tacada daqui, tacada dali.
Nunca fui interpelada. Nos momentos em que digo que estou à inteira disposição para responder a perguntas, nunca há perguntas. No fundo, está tudo verdadeiramente esclarecido. Eu quero o melhor para os meus lindinhos, os pais não têm coragem de me contrariar. Eu ralho com eles e os pais agradecem, eu falo com eles como adultos que não são, mas virão a ser.
Lindo, lindo, é ver, no meio destas reuniões, o abanar de consentimento dos meus alunos, a lágrima que cai ao ouvir pela enésima vez as palavras anteriormente ditas em aula.
Não há Lurdes, nem Sócrates que me tire esta minha satisfação de reconhecimento dado pelo olhar dos grandes, dos pequenos.
Gosto tanto de ser professora, naqueles momentos em que as burocracias das ditaduras impostas me permitem sê-lo: dentro de uma sala de aula, com aqueles olhos fixados em mim, bebendo as minhas palavras.
Obrigada.

Sem comentários: