Regresso



Regressar nem sempre é fácil. Muitas vezes já nem recordamos o que deixámos pendente. Outras vezes temos a certeza de que não deixámos nada.

É sempre difícil regressar...até porque implica um tornar a ver, a sentir, a dizer.

O regresso da Primavera, por exemplo, não é nada simples. Afinal, deixa-nos sem saber muito bem o que vestir. Estará frio, ou calor? Choverá?

Vem tudo isto a propósito do regresso às aulas. Já amanhã. Recordo exactamente tudo o que deixei pendente...e a única coisa aproveitável é mesmo o retomar dos ensaios, com os meus Aprendizes do Fingir.

Dia Mundial do Teatro

O Mundo sabe...o mundo gosta...o mundo reconhece.
Eu agradeço, porque existe, porque escrevo, porque ensaio, porque ouço a reacção dos públicos.
Viva o Teatro.
Um abraço para todos os meus actores, pequenos e grandes...todos enormes quando sobem ao palco.

The bucket list

Nunca se sabe quando chegará o dia. Nem se teremos tempo de fazer uma bucket list. Hoje, apeteceu-me ensaiar a minha.
Ora bem, vamos lá, dez coisas imprescindíveis de serem feitas antes de morrer. Primeira dúvida: em quanto tempo? Pertinente. Uma coisa é pensar em dez coisas para fazer num dia, ou num ano...Vamos pelo meio: seis meses, em seis meses de vida! Ah! Claro, sem preocupações de prioridades.
1º - Ir a Bragança. (é a única grande cidade que não conheço, neste nosso Portugal)
2º - Pôr um anúncio bem grande nos jornais para tentar encontrar uma pessoa que foi muito importante na minha vida de adolescente. (não digo quem, nunca se sabe quem vem aqui)
3º - Passar um dia inteiro com o António Lobo Antunes.
4º - Visitar a Irlanda.
5º - Assistir a um concerto dos U2, na Irlanda.
6º - Conversar com o Bono Vox, após o concerto, na Irlanda.
7º - Lançar-me de pára-quedas de uma altura bem...perto do Céu.
8º - Ir à Patagónia.
9º - Publicar um livro meu.
10º - Visitar todos os meus amigos, todos os meus familiares, todos os meus alunos e ex-alunos e dizer-lhes que iria ter saudades deles.
Cá está. Não foi difícil...o melhor é começar já a cumprir...com Bragança, talvez...just in case!

TRUE



Não é verdade! Não pode ser verdade.

Ou, se calhar, é.

A verdade nem sempre é fácil de aceitar. Às vezes, dói.

Mas sejamos verdadeiros. A mentira é muito pior.

Do que vos falo hoje?

Da verdade. Daquela verdade. Desta verdade.

É verdade que estou cansada,

estou desiludida,

estou farta,

estou doente,

estou sensível.

Esta é a verdade, quando me falam em verdades.

Parece que fiquei, de um momento para o outro, a falar sozinha...foi o que aconteceu, porque é muito inquietante conviver com as minhas verdades. Disse-as. Fugiste. Pena.

Vou ensaiar um papel mais simples, neste palco que é a minha vida. Vou mentir, na ilusão de uma personagem que não sou. Mas vou representar.

Dói-me o peito. Vou ensaiar descansar.

Poesia...ensaiei um poema!

Hoje é um dia especial! É o dia dela... não sou poetisa, com grande pena minha. Sempre considerei que esses seres superiores, que vêem o mundo através do olhar límpido das palavras, são felizes. Também eu sou feliz, quando os leio. E hoje, só porque é hoje, ensaiei publicar um conjunto de palavras, arrumadas para parecerem um poema.
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Silêncio
As palavras saem
sem que as consiga agrilhoar.
Há uma força que as impele
neste constante falar.
As palavras fluem
num turbilhão sem sentido.
Há uma ânsia que as liberta
neste viver tão fingido.
Brotam a toda a hora
Quebrando o silêncio que sou...
São palavras pensadas
Que o sentir nunca calou!

Reuniões

Vendo bem, vendo bem, nem sei que diga. Toda a minha vida profissional estive em reuniões, mas, sinceramente, estas têm de ser consideradas como surreais.
Não é possível explicar a quantidade de papéis que tiveram de ser preenchidos, reformulados, criados, inventados.
Alguém, calmamente, fazia as suas contas. Qualquer coisa como sete eucaliptos para realizar todas as reuniões. Claro que, dirão os entendidos, os eucaliptos nem fazem muita falta...contudo apetece perguntar: e os papéis fazem??
Ensaiei irritar-me. Não havia condições de trabalho, nem sala, nem isto, nem aquilo e melhor de tudo, nem os professores do conselho de turma retidos pela burocracia da verificação.
Ensaiei falar alto...defeito de profissão. Não sei falar baixo. Imagino que ensaiei queimar-me. Paciência!
Fica o desabafo...foi surreal o acontecido, na minha escola, nestes últimos dias.

Responsabilidades



Sábado à tarde. Uma qualquer localidade deste país, agora, cada vez, mais triste.

As responsabilidades são tantas, todos os dias mais. Neste interregno do trabalho, surge ainda mais trabalho. Neste vazio de pensamentos, urge pensar sempre mais um pouco.

Nesta ausência premeditada, fica apenas a saudade, o sentir da falta, as palavras que não se escrevem.

Paira a sombra de uma responsabilidade, maior a cada dia que passa. Responsabilidade de não falhar, de tudo verificar...de avaliar, enfim!

O peso da avaliação é enorme. Como avaliar, o que avaliar, como ser imparcial, como ser justo, como quantificar o inquantificável?

Hoje, ensaio meras questões subjectivas...porque me exigem a objectividade. Vamos lá então ser responsáveis. Vamos avaliar os nossos meninos.

Ensaio febril

Tenho febre! Aquele calor que vai chegando, e atordoando a alma.
Tira-nos a vontade de tudo, até de ser!
Tenho febre! Aquele estado doentio que nos consome devagarinho.
Tira-nos o sorriso...tira-nos.
Hoje não ensaiei. Tenho febre!

Sad rehearsal



Today, I've decided to write in English. And why?

Only because I can... and I'm full of grief! Sometimes, words in other language makes me feel that nobody would stay a moment to read it. It's funny, because it's true.

Rehearsal about sadness...what a great title...what a great truth. It's so easy becoming sad... don't you think so?

Why am I feeling blue ?

The words have some power...as you know. There are people who use them like weapons. I try to fight against that kind of words, but when they are said by the one you love... they seems like bombs.

Ok. I'm sad.

But tomorrow is another day, and we have a play to underact! Our life!

See you around.

Ensaiei marchar


É verdade! Marchei. Eu e mais meia dúzia de manipuláveis pelo partido comunista. Que piada. Que imensa piada.

Lá estávamos nós...os cem mil professores insignificantes, andando pela Avenida abaixo, sem partidos, sem manifestaçoes sindicais, sem filiações.

Na mole humana, sentia-se o calor da irmandade, os sorrisos de quem compreende, as piadas de quem as vive. No calor do ensino, sentia-se o respirar de um querer, um manifesto pelo futuro. O futuro de um país que não deve ignorar estas pessoas que formarão a nova geração, os novos políticos, os novos profissionais.

A santa falou no telejornal da Sic, nada disse, como sempre.

E nunca gostei tanto que me doessem as pernas!

Ensaio pela indignação

Mais logo, marcharei. Não por política, não por manipulação, não por ser ovelha num rebanho.
Vou à marcha da indignação, porque há muito que estou indignada.
Então, agora é assim? Ensaia-se no decorrer da peça? Não se fazem audições? Não há papéis definidos?
O que quer a Senhora Ministra? Que os professores não tenham tempo para fazer o que gostam? Que se esqueçam dos seus alunos? Que percam o amor com que sempre trabalharam?
Tantas mentiras ditas com ar de santidade. E que perigo, num país que,...dá à TVI as maiores audiências.
Hoje, ensaio dizer mal, estou indignada. Sou uma profissional competente. Sou um ser pensante. Sou uma professora por vocação.
Mais logo, marcharei!

Candidaturas

Assim, de repente, vindo não se sabe de onde, nem porquê, nasceu uma onda de vozes que me gritam aos ouvidos: candidata-te!
Querem que eu seja uma espécie de salvadora de uma pátria que já não existe. Isto, por um lado! Eu analiso de outra forma - é sempre bom ter alguém amigo no poder, parte-se do pressuposto que as amizades são profissionais. Ora, eu nunca confundi, e quem me conhece sabe que é verdade! Se ascendesse ao poder, seria poder! Não amiga! Isso poderia doer. É isso que me retrai.
Por outro lado, pedem-me que me candidate a uma relação, ou qualquer coisa parecida...Mas isto agora é assim? Não basta eu estar? É necessário formulário assinado para entrar numa relação? Apresentar Curriculum Vitae?
A política sempre me desiludiu...todos os dias um pouco mais. Mas agora as pessoas também se armam em politiqueiras?
Deixemo-nos de brincadeiras.
Não sou candidata.

Empate

À hora que escrevo, o meu SLB está empatado com o seu eterno rival. O meu comentário é só um: era necessário uma vida inteira de ensaios para que o meu clube jogasse algo de jeito.
É como tudo na vida. Aqueles jogadores ganham fortunas e nem se sabe bem porquê!
A mística, se alguma vez a houve, diluiu-se nas infidáveis transferências de jogadores. O amor à camisola já nem camisola tem, quanto mais amor.
Enfim, a mística da minha profissão também se esbateu nas inúmeras transferências de Ministros, de políticas educativas e sociais.O amor à camisola do ensino já teve melhores dias. Ninguém pode vestir uma camisola desbotada, amarrotada, muitas vezes rasgada.
Vou ver o resto do jogo, num espírito de masoquismo.
Viva o Benfica!